Carrego minha culpa sobre você (Projeção psicológica)

Carrego minha culpa sobre você (Projeção psicológica)
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Projeção psicológica. Este termo se desenvolveu amplamente pela teoria freudiana, nos mostrando uma prática familiar com a que nos encontramos muito frequentemente. Pode ser que inclusive nós mesmos tenhamos feito isso em alguma ocasião, quase sem nos darmos conta.

Um exemplo? Pense naquela época em que você estava profundamente apaixonado/a alguém. De alguma maneira, e quase inconscientemente, atribui-se a esta pessoa traços e virtudes que não correspondem totalmente à realidade. Você elogiava sua bondade, sua preocupação, seus acertos e grandes atributos por este halo de perfeição que você mesmo projetava sobre ele/ela.

O amor é, às vezes, um contexto muito propício para desenvolver a projeção psicológica. Mas o verdadeiro problema, o mais complexo, acontece quando se coloca em prática uma projeção claramente negativa. É aí onde a pessoa que a executa tem algumas evidentes deficiências emocionais, atribuindo aos outros pensamentos cheios de raiva e ansiedade.

Falemos hoje sobre os sentimentos de culpa, e de como, às vezes, longe de assumi-los e enfrentá-los, os apontamos para o exterior com a intenção de ferir os demais. Aos que estão mais próximos, aos que, supostamente, mais são apreciados.

A projeção: distorcer a realidade em benefício próprio

Comecemos com um exemplo. Seu parceiro é uma pessoa insegura que teme o compromisso. Longe de assumir essa realidade, começa a lhe castigar, dizendo que você não facilita as coisas. 

O problema não está em você, está nele/nela. Mas longe de confrontar o fato de que tem um problema de autoestima e autoconfiança, ele castiga, deixando em evidência coisas que não são verdade. Dispara a sua raiva com dardos afiados, e projeta suas emoções negativas em você porque, deste modo, consegue estas dimensões:

  1. Ignorar o problema e atribuí-lo aos demais.
  2. Libertar-se dessa carga interna e deixá-la no exterior, nas pessoas que estão ao seu redor.
  3. Gerando culpa nos demais, consegue uma clara posição de poder. “Eu NÃO tenho o problema”, quem tem são os DEMAIS, o mundo é que deve girar ao meu redor, não eu.
  4. Ao interpretar que são os demais quem têm o verdadeiro problema, conseguem distorcer sua realidade de tal modo que chegam a acreditar nela. Ao acreditarem na sua imaginação, em seu erro, negam assim suas verdadeiras carências.

Como romper com as projeções psicológicas?

O assunto da projeção psicológica é realmente complexo. E tristemente frequente. Às vezes, muitas pessoas que vivem submetidas a maus-tratos físicos e psicológicos continuam projetando em seus parceiros uma imagem positiva. Por que razão? Porque, desse modo, se auto-protegem da realidade.

“Se meu parceiro sente ciúmes é porque me ama”. “No fundo, meu parceiro me ama, às vezes comete erros, mas é a pessoa que mais se preocupa comigo”. Projetar estas idéias é cair em uma distorção da realidade, onde seu mundo é mais inócuo. É aí que não deveríamos aceitar a realidade com toda sua crueldade, deveríamos poder reagir e nos defendermos.

Mas, então, como romper estas projeções?

  1. Nos dando conta de que o que projetamos nos demais é, na realidade, um mecanismo de defesa. Um colete salva-vidas ao qual nos prendemos para não admitir algo determinado.
  2. É preciso compreender que projetar a culpa e a raiva em quem está ao nosso redor não vai fazer mais que gerar mais emoções negativas. Caímos num círculo vicioso onde essa falsa “sensação de poder” nos trará, a longo prazo, uma dura queda.
  3. Se é você quem sofre essa projeção por parte de outra pessoa, faça com que ela veja claramente como você se sente. Explique que este comportamento não poderá ser mantido durante muito tempo. Que você se sente mal, humilhado/a e manipulado/a.
  4. Entenda também que, no momento em que a pessoa assumir que sua projeção psicológica esconde, na realidade, uma carência pessoal, fará com que perca sua “sensação de controle”. Sofrerão uma espécie de queda pessoal, na qual precisarão de ajuda e apoio para se “reconstruírem”. Para enfrentar tais problemas, tais carências.

Mas, no geral, não é nada fácil aceitar que todos projetamos em alguma ocasião. Às vezes, fazemos isso sem nos darmos conta, pensamos que o defeito está lá fora e não em nós mesmos. Pensar que a pessoa que amamos é pouco mais do que uma criatura perfeita, por exemplo…

Todos nós temos defeitos, todos nós temos carências. O ideal seria agir sempre com humildade e objetividade… Porque, no fim das contas, todos somos belíssimos seres imperfeitos que tentamos sobreviver em um mundo complexo. Você concorda?

Créditos da imagem : Nicoletta Ceccoli


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  • Freud, Anna (1980) El yo y los mecanismos de defensa. Madrid: Paidós
  • Snyder, C. R., & Higgins, R. L. (1988). Excuses: Their effective role in the negotiation of reality. Psychological Bulletin, 104(1), 23-35.

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