Os cuidadores de pessoas dependentes, gesto de amor e justiça

Os cuidadores de pessoas dependentes, gesto de amor e justiça

Última atualização: 12 setembro, 2016

O trabalho que os cuidadores de pessoas dependentes realizam não é apenas um dos maiores gestos de amor, mas também de justiça. Afinal, apesar de existirem doenças incuráveis, nenhuma pessoa é “intratável”. Por isso, esta é uma das atitudes mais importantes da sociedade, mas também uma das menos reconhecidas por nossos órgãos sociais.

Cada um de nós, de alguma forma, viveu a dinâmica familiar onde a atenção do dependente fica a cargo de um cuidador primário (geralmente mulher) que assume a maioria das responsabilidades. Pouco a pouco, sua existência fica sujeita a esse contexto privado, duro e sacrificado onde não demoram para aparecer as sobrecargas, o sentimento de solidão e de desligamento com o seu entorno.

Ser cuidador implica ser capaz de oferecer uma qualidade de vida adequada ao idoso ou à pessoa doente, sem deixar de cuidar de si mesmo. Porque a dedicação e todo o amor investido nunca devem nos levar ao desgaste emocional nem à sensação de solidão.

Ainda hoje, existem grandes carências em termos de apoio à dependência e ao reconhecimento social dos cuidadores de pessoas dependentes. É preciso também considerar que o setor de cuidadores não inclui apenas a atenção de pessoas mais velhas ou com demência, existem desde os que têm lesão medular, doenças mentais, paralisia cerebral e a grande, mas invisível, coletividade das doenças raras.

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Os cuidadores e o papel da mulher

O cuidado de uma pessoa doente, idosa ou com um alto grau de invalidez esteve tradicionalmente sob a responsabilidade de uma mulher de meia idade. O cuidado quase sempre foi um “assunto feminino”, e o mais complicado de tudo isso era que, até pouco tempo atrás, todas essas mulheres não recebiam assistência, instrumentos ou assessoria sobre como cuidar dos outros e de si mesmo.

Felizmente estes papéis tradicionais estão mudando, e mesmo que o “cuidador primário” continue sendo em geral uma mulher, esta já dispõe de mais recursos, como centros de estadia diurna, residências ou o aconselhamento de formadores que capacitam os cuidadores na atenção adequada ao doente dependente.

Contudo, ainda é muito comum ver os seguintes problemas de saúde nas próprias pessoas que cuidam:

  • Maior tendência a sofrer depressão, ansiedade ou um nível muito elevado de estresse.
  • Sensação de frustração, de não estar fazendo as coisas direito ou de não cobrir todas as necessidades do doente.
  • Sensação de solidão.
  • Fadiga frequente.
  • Dores musculares.
  • Dores de cabeça frequentes.
  • Desconfortos estomacais e gástricos.
  • Uma coisa comum é a percepção de que a sua própria saúde é muito ruim, ou pelo menos muito pior do que os exames médicos revelam.
  • Maior tendência a sofrer de infecções.
  • Hipertensão.
  • Diabetes.
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Um gesto de amor, um ato de justiça: estratégias para cuidar de forma saudável

Sendo que já sabemos que grande parte da atenção às pessoas dependentes é realizada em um âmbito familiar e que esta recai sobre um cuidador primário que passará mais tempo com o doente, devemos pensar também numa simples pergunta… Quem irá se encarregar de “cuidar do cuidador”?

Os cuidadores encontram o seu encorajamento diário no amor, mas às vezes o motor do seu coração não é suficiente quando as forças falham e aparece a solidão…

É importante entender que a pessoa que cuida pode vir a ter que lidar com situações que, muitas vezes, chegam a prejudicar a sua saúde física e psicológica. Contudo, graças ao amor sincero e à dedicação absoluta entre o cuidador e o dependente, é muito provável que o primeiro relute em descansar, compartilhar responsabilidades ou cuidar de si mesmo. Tudo isso resume o que é a “síndrome do cuidador“.

Vejamos algumas estratégias que podem ser úteis nestes casos.

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Cuidar de si mesmo para poder cuidar dos outros: estratégias

Nem todo mundo nasce com a vocação de “ser cuidador”, o mais provável é que seja a própria vida a colocar a pessoa nesta situação forçada. Portanto, o primeiro passo será receber suporte e informação adequada sobre a doença que o familiar sofre, quais cuidados precisa e como realizá-los.

  • O segundo pilar a considerar é evitar o isolamento social. Delegar funções e responsabilidades entre outros familiares e profissionais é correto, necessário e saudável.
  • É preciso potencializar, na medida do possível, a autonomia do próprio doente. É preciso reforçar hábitos como a higiene pessoal e a alimentação. Tudo isso também repercute na autoestima da pessoa dependente.
  • Cuidar das posturas. Todos sabemos que os cuidadores muitas vezes precisam carregar o peso do familiar. É necessário que recebam formação de como realizar essas tarefas.
  • Uma alimentação adequada e momentos de lazer. Comer de forma variada, equilibrada e evitando déficits nutricionais é algo essencial. Mesmo assim, é importante não deixar de lado os passatempos, as paixões, e os descansos cotidianos como simplesmente sair para caminhar pelo menos durante meia hora todos os dias.
  • Habilidades de comunicação. Por fim, mas não menos importante, é preciso propiciar um bom desabafo emocional dos cuidadores, e com isso essa necessária habilidade comunicativa para poder expressar medos, ansiedades, sobrecargas…
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Os cuidadores anônimos que habitam atualmente a intimidade dos seus lares realizam um trabalho imenso na nossa sociedade que nem sempre é reconhecido pelas instituições. Contudo, é uma coisa que as famílias valorizam, uma coisa que nos enobrece como pessoas e que nos ensina que cuidar é amar e valorizar o outro como parte de si mesmo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.