A linguagem dos beijos

A linguagem dos beijos

Última atualização: 14 janeiro, 2016

Beijamos por prazer e por compromisso, beijamos de forma apaixonada lenta e suavemente, beijamos para acalmar os ânimos, beijamos com fogo, beijamos com frieza, nos envolvemos com um beijo e nos despedimos com ele. Através de nossos lábios transmitimos uma imensa quantidade de emoções e sensações; os lábios e os beijos são as armas mais potentes do ser humano.

Embora seja incerta a razão pela qual os lábios evoluíram, há pesquisadores como Gordon G. Gallup que consideram que os lábios puderam evoluir dessa forma para facilitar a seleção de parceiros.

Com relação a isso, este pesquisador afirmou em uma entrevista para a BBC, em setembro de 2007, que “Beijar implica uma complexa troca de informação: informação olfativa, informação tátil e ajustes posturais, que são usados como mecanismos inconscientes, fruto da evolução, que permitem que as pessoas determinem seu grau de compatibilidade genética”.

Nestes círculos de pesquisa chega-se a afirmar que, inclusive, o beijo revelaria qual é o grau de compromisso do casal, que é a chave na hora de ter descendentes. Além disso, um beijo mal dado poderia determinar a evolução da relação e, inclusive, acabar com ela.

A prova disso são as descobertas de Gallup, de que a maior parte das mulheres e dos homens entrevistados afirmou que se sentiram atraídos, ao menos alguma vez, por alguém que fulminou essa atração com um beijo. Não que estes “maus beijos” tenham algum defeito em especial, é que simplesmente não são do gosto e são suficientes para colocar um ponto final num relacionamento.

Além disso, este mesmo autor afirma que beijar é crucial tanto para homens quanto para mulheres, mas que cada concede um significado diferente a ele. Assim, parece que é mais comum entre os homens avaliar um beijo profundo como uma passagem para uma relação sexual. No entanto, “as mulheres usam o beijo para obter informações sobre o nível de compromisso quando têm uma relação duradoura”.

Portanto, parece que o beijo é um barômetro emocional, e que quanto mais profundo ele for, mais saudável é a relação. A verdade é que nossa fisiologia evolui muito lentamente, e embora racionalmente nos custe entender, em certos aspectos nos guiamos por instintos ou pulsos inconscientes, na verdade desenvolvemos uma infinidade de padrões de ação derivados destes feitos.

Em todo caso, embora desde a perspectiva evolucionária o beijo seja considerado um barômetro das relações do ser humano, não parece que ele seja estritamente necessário para o nosso desenvolvimento. Assim, há uma enorme quantidade de animais que não andam por aí se beijando para mostrar afeto, nem como um primeiro mecanismo ou indício para a reprodução. Inclusive, há seres humanos que não o fazem; no começo do século XX o cientista dinamarquês Kristoffer Nyrop descreveu tribos finlandesas cujos membros se banhavam juntos, mas consideravam indecente se beijar.

Em 1987 o antropólogo Pau d’Enjoy indicou que os chineses entendiam o beijo na boca como algo tão horrendo que podia ser considerado canibalismo. Um outro exemplo pode ser visto na Mongólia: há pais que não beijam seus filhos homens, mas mostram seu afeto cheirando-lhes a cabeça.

No entanto, em nossa cultura, beijar a pessoa pela qual estamos apaixonados ativa o centro cerebral do prazer. Para que possamos ter uma ideia, esta zona é ativada com o consumo de drogas, razão pelo qual se explica o alto potencial viciante que o beijo causa.

Uma outra curiosidade sobre a arte de beijar é que, quando o fazemos, tendemos a fazê-lo virando a cabeça para a direita, independentemente de sermos canhotos ou destros. Isso pode ser explicado, em partes, porque a maior parte das mães aninham os bebês para cima e para a esquerda, o que faz a criança se virar para a direita para mamar ou deitar-se. Assim, a maior parte de nós aprendeu a associar o calor, o amor e a segurança com a inclinação para a direita.

Parece, de fato, que percebemos menos amor e calor quando nos beijam com a cabeça para a esquerda. Tenta-se explicar isso pela contra-lateralização cerebral; assim, inclinar-se para a direita deixa descoberta nossa parte esquerda, controlada pelo hemisfério direito que, por sua vez, é o mais emocional.

De todas as formas, embora existam diversos estudos que verificam esta ideia, outros afirmam que a preferência de beijar virando para a direita possa ser uma preferência mais motora do que sentimental. Quem sabe, no futuro descubra-se mais sobre essa questão.

Em todo caso, o mais importante e inquestionável é que, à margem de todas as explicações, através dos beijos podemos transmitir uma imensidão de mensagens neuronais e químicos que percebemos em forma de sensações táteis, excitação sexual, intimidade, carinho… mas, tal e como afirma Chip Walter, o beijo resiste, ainda hoje, a uma dissecção científica completa, e é que o aparentemente simples e natural ato de beijar oculta complexidades nunca pensadas. Assim, a busca dos segredos que albergam a paixão e o amor não foram terminados ainda. O romance renuncia relutantemente seus mistérios, e isso talvez seja, de certa forma, porque gostamos que seja assim.

Créditos da imagem: Melpomene


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