Quanto mais grossa a armadura, mais frágil quem a habita

Quanto mais grossa a armadura, mais frágil quem a habita

Última atualização: 22 junho, 2016

Ser uma pessoa frágil implica ter uma sensibilidade especial que a pessoa vai protegendo por meio de uma couraça, adicionando camadas diante de cada decepção e sentimento frustrado. Até a pessoa mais sensível pode se tornar fria quando se sente ameaçada por uma situação pela qual não está disposta a passar.

Existem situações que são difíceis de enfrentar, assumir e superar para todos nós, como o abandono, a rejeição, o desprezo, a culpa, etc. Nas situações onde nos sentimos especialmente vulneráveis faremos uma retirada com o fim de nos proteger. Isto é uma coisa fundamental para preservar a própria integridade.

A personalidade e o temperamento de cada pessoa influenciam o seu comportamento diante deste tipo de situações que podem provocar uma grande dor emocional. Por isso, há quem se exponha a situações dolorosas sem se proteger, com certa tendência ao masoquismo, até ficar tremendamente machucado e ferido.

Outros tipos de pessoas, ao contrário, se mantêm precavidas: quando antecipam uma situação semelhante a de alguma experiência anterior, são capazes de colocar barreiras e se tornar impenetráveis, indiferentes a qualquer emoção ou sentimento.

“Sem dúvida, a sua couraça o protege da pessoa que quer destruí-lo. Mas se você não a deixar cair, ela também isolará você da única pessoa que pode amá-lo.”

-Richard Bach-

Ser frágil não significa ser fraco

Ambos os tipos de pessoas descritas anteriormente estão em polos opostos, embora sejam dependentes da sua mesma fragilidade.

A fragilidade é comumente relacionada e confundida com a fraqueza: ser frágil indica a intensidade das próprias emoções, a sensibilidade para experimentar os próprios sentimentos e a dificuldade de se mostrar como realmente é por medo de ser ferido.

Sendo frágil posso ser forte frente às circunstâncias, avançando e conquistando os meus temores. Contudo, não permito me mostrar sensível, mesmo que internamente esteja sofrendo, passando mal e me sentindo sozinho. Quero aparentar força me vestindo com a minha armadura, me fazendo crer que nada me afeta, quando na verdade me afeta tanto que sinto não poder suportar mais.

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Somos capazes de comprovar a nossa força quando continuamos confiando apesar das traições, quando avançamos apesar de nossos medos e da nossa tristeza, quando mostramos nossa vulnerabilidade e sensibilidade a quem merece.

Mostrando-me do jeito que sou

Quando reprimimos as emoções, quando levantamos muralhas diante de tudo que sentimos, as pessoas só conseguem nos ver de forma superficial, e inclusive tratamos as outras pessoas do mesmo jeito, tendo assim relacionamentos supérfluos sem um compromisso verdadeiro.

Podemos nos conhecer verdadeiramente desse jeito? Damos a oportunidade de que possam nos conhecer de verdade? Adicionar camadas a nossa armadura tem estas conseqüências: nos afastamos de quem somos. Vivemos presos pelo medo, com o fim de nos mantermos fechados na dor.

“Se quero conhecer a mim mesmo, todo o meu ser, a totalidade do que sou e não apenas uma ou duas camadas, então é obvio que não devo condenar, devo estar aberto a cada pensamento, a cada sentimento, a todos os estados de ânimo, a todas as inibições.”

-Krishnamurti-

Quando somos especialmente sensíveis, desenvolvemos a nossa capacidade para evitarmos estar em nós mesmos, enfrentamos o mundo desenvolvendo diversos perfis, que são diferentes dependendo da nossa personalidade: os tímidos e envergonhados, retraídos, excluídos, complacentes, generosos, os que sempre estão disponíveis, etc.

De alguma forma, todas estas são nossas máscaras com as quais nos protegemos, adotando um papel pré-definido. E assim evitamos, sempre que possível, falar de nós mesmos e entrar em quem somos realmente.

Aprendendo a me conhecer dando lugar a minhas emoções

Com certeza voltarei a sentir a traição, novamente me machucarão, e as cicatrizes das minhas feridas se abrirão novamente. É uma coisa que não posso evitar, porque faz parte da própria vida, da minha trajetória por ela. Se quero vivê-la de verdade, aprender a me conhecer e a me conectar com os outros, vou precisar me expor a tudo isto que pode acontecer, mesmo me sentindo frágil.

A minha insensibilidade, frieza, minha armadura, a couraça e as muralhas que eu levantar não são a solução. Esconder-me me misturando com os outros é o meu próprio engano, o papel que exerço para me sentir seguro. Tudo é uma falsidade, uma enganação que me impede de me reconhecer.

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Anestesiamos a nossa sensibilidade impedindo que ela se expresse, porque quando, no passado, tivemos a sensação de ter encontrado a pessoa com quem compartilhá-la, fomos traídos. É preciso se aceitar aos poucos, construindo novamente um amor ainda mais real.

Este processo é o de maior vulnerabilidade, já que estamos reconstruindo a nossa identidade dando um passo adiante, aprendendo a explorar e reconhecer a sensibilidade que escondemos com fechaduras. Ao mesmo tempo em que estamos mais expostos, existe maior probabilidade de sermos feridos, porque estas mudanças implicam uma transformação no relacionamento com outra pessoa e nos papéis estabelecidos.

As desilusões pelas quais passamos, tanto de nós mesmos quanto das outras pessoas, nos ajudam a ver com mais clareza com que tipo de pessoas queremos estar. Vamos selecionando através de questões mais profundas como os valores, a honestidade e a autenticidade.

No fim das contas, toda esta trajetória tem os seus aprendizados a cada passo que vamos dando. Deixando assim que se manifestem as nossas emoções, por mais dolorosas que sejam, facilitamos o encontro com nós mesmos, e a conexão profunda com o resto do mundo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.