Todos nós somos ignorantes, mas nem todos ignoramos o mesmo

Todos nós somos ignorantes, mas nem todos ignoramos o mesmo
Alicia Escaño Hidalgo

Escrito e verificado por a psicóloga Alicia Escaño Hidalgo.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Existe uma crença irracional muito arraigada em nossa cultura que diz algo assim: “Devo ser competente e demonstrar  inteligência  e sabedoria em todos os aspectos”, ou seja, praticamente diz que devemos ser infalíveis, pelo menos perante os demais, sem nos permitir mos errar.

As pessoas que concordam muito com isso devem sentir um intenso medo de parecerem inferiores, ignorantes ou pouco inteligentes, já que pensam que se os demais perceberem que eles não estão à altura de alguma área de conhecimento, em alguma habilidade ou destreza, serão rejeitadas. E, para estas pessoas, isso parece ser algo intolerável, que gera muitíssima ansiedade.

Se pensarmos sobre isso, rapidamente nos daremos conta de que trata-se de um  medo  muito absurdo e contraproducente. É verdade que demonstrar certas qualidades, certa cultura ou sabedoria é gratificante. Quando os demais nos admiram, nos elogiam ou parabenizam por algum conhecimento ou algo que fizemos corretamente, nos sentimos muito bem com nós mesmos, orgulhosos.

Mas uma coisa é que isso seja agradável, e outra muito diferente é que a autoestima, ou como a pessoa se sente e se valoriza, dependa dela ser ou não inteligente, culta ou habilidosa. De forma alguma a autoestima, ou o valor que damos a nós mesmos, deve depender disso.

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Nossa autoestima não deve depender do quê?

autoestima  nunca deve depender de valores superficiais, isto é, nem do físico, nem da inteligência, nem dos sucessos ou conquistas, nem da aceitação dos demais. Já que estes valores são muito fáceis de se perder em algum momento e, portanto, sua autoestima vai despencar com eles: você se tornará uma pessoa muito vulnerável.

Sempre haverá alguém mais bonito que você, mais inteligente, hábil e culto que você, de mais sucesso… Portanto, se você faz com que o seu valor e a sua própria autoestima dependam dos demais, você será alguém muito fraco a nível emocional. O mal-estar e a não aceitação de si mesmo comprometerão a sua vida.

“Quanto menos nos aceitamos, mais precisamos da aceitação dos demais”.

– Hoffman-

De onde vem esta crença?

Infelizmente, desde pequenos somos ensinados que temos que “estudar muito para alcançar as coisas”, “ser alguém na vida”, “ser o melhor”, porque se não fizéssemos assim… Que medo! Podiam acontecer muitas coisas ruins! Como, por exemplo: não estar à altura de uma conversa, não ter um trabalho digno, não ser uma pessoa de sucesso… O que os demais vão pensar? Estaríamos condenados a uma vida medíocre! Que vergonha!

Imagine como uma criança se sente quando estas ideias são apresentadas a ela. Crescerá angustiada para ser o número um e demonstrar constantemente que é bom. Optará por competir com os demais para “chegar”, em vez de competir consigo mesmo para estabelecer desafios e se divertir. A criança crescerá sendo uma pessoa ansiosa, que perceberá como ameaçador o fato de que seu valor não seja reconhecido…… Que fardo, não é mesmo?

Desmontando a crença de não parecer um ignorante

Para desmontar uma crença aprendida, nós temos dar argumentos a nós mesmos que nos convençam de que o que estamos pensando é totalmente irracional, irreal, absurdo e, portanto, é necessário que rejeitemos e substituamos por crenças mais saudáveis. Alguns argumentos que você pode usar são:

  • A inteligência não é um valor importante: assim como dissemos antes, ser ou não ignorante, inteligente ou culto não tem muita importância. É suportável, você pode viver perfeitamente sendo pouco inteligente e isso não tira de forma alguma seu valor como pessoa. O verdadeiro valor que importa é o amor. O amor pela vida, por si mesmo, pelos demais.
  • Todos somos ignorantes em algo, embora nem todos nós ignoremos o mesmo, e isso é a mais pura verdade. Um médico pode saber muitíssimo de medicina, mas não ter nenhuma ideia de informática. O eletricista tem grandes conhecimentos de eletricidade, mas não sabe tirar boas fotografias…
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É que nos empenhamos em sermos perfeitos, em saber, saber e saber até alcançar um objetivo imaginário que não existe, que está somente em nossa cabeça. Aceitemos o real: todos nós somos ignorantes em uma infinidade de coisas e o resultado disso é que não acontece absolutamente nada, o mundo continua girando.

  • Nossas relações com os demais melhoram: Acreditamos que demonstrando ser pessoas de sucesso, inteligentes ou sábios, ganharemos o apreço dos demais e é verdade que pode ser que aconteça, ainda mais quando esse apreço procede de pessoas vazias que têm essa pobre escala de valores.

Mas, por sorte, há muitas pessoas muito bem resolvidas no mundo, que apreciam as pessoas autênticas, que se mostram como são de verdade, pessoas que reconhecem não ser boas em tudo, mas que estão dispostas a se divertir aprendendo. Estas são as pessoas realmente heróicas.

Evidentemente, se vivemos a vida com esta mentalidade, nossas relações com os demais serão muito beneficiadas: não entraremos em debates ou discussões tontas para alcançar a verdade ou para ter a razão, simplesmente desfrutaremos e aprenderemos algo, já que todos nós temos o que aprender.

  • Exponha-se a parecer ignorante e verá que não tem nada demais: Você não ousa levantar a mão na classe por medo de parecer ignorante? Você não percebe que se não o fizer, aí sim estará sendo ignorante? Os efeitos paradoxais são muito típicos na psicologia: por medo de parecermos bobos, acabamos sendo tontos.

Devemos ignorar esse medo que nos alerta de que algo ruim acontecerá se não soubermos responder uma pergunta ou falharmos: não vai acontecer nada, você continuará vivo apesar disso, portanto, atreva-se a realizar estas ações que lhe causam  vergonha  ou medo: pergunte, levante a mão na sala de aula, responda e vá aprendendo o que você não sabe.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.