Temos que seguir em frente com um passado saudável

Temos que seguir em frente com um passado saudável

Última atualização: 10 abril, 2016

Seguir em frente na vida significa crescer, desenvolver as potencialidades, desenhar projetos pessoais, profissionais e sociais e realizá-los. No entanto, você percebe mais do que uma vez que não consegue alcançar esse avanço, que o passado ainda está presente ou que tudo acontece em um ritmo muito lento, apesar de colocar muito esforço nisso. O que está acontecendo?

O normal é que as pessoas busquem as causas da estagnação nas circunstâncias externas que rodeiam o presente. Assim, irão aparecer as explicações que se relacionam com as deficiências do ambiente e as responsabilidades são atribuídas a elas. Embora não se deva subestimar a incidência desses fatores, o fato é que, essencialmente, o avanço depende sempre de nós mesmos.

Muitas vezes nós simplesmente não seguimos em frente porque há algo no passado com força suficiente para entorpecer a nossa evolução pessoal. É um erro pensar que o passado ficou para trás e já não conta. Na verdade, é exatamente o contrário: de todas as épocas da vida, o passado é o mais determinante, por isso é tão importante ter um passado saudável.

O passado está sempre acontecendo…

Jovem envolta em um céu estrelado

É verdade: o passado está sempre acontecendo. No trabalho que realizamos hoje de forma tão eficiente no escritório também está o menino que aprendeu a ganhar estrelas douradas por cada tarefa concluída. Nessa pessoa que hoje se apaixona perdidamente também está a criança que permanecia atenta aos gestos de aprovação e desaprovação da sua mãe.

Somos essencialmente passado, embora tenhamos que agir no presente e em função do que imaginamos que vai acontecer no futuro. Por isso o passado é, na realidade, esse fator que impulsiona ou que surge como obstáculo para seguirmos em frente na vida.

A infância é a etapa decisiva da nossa existência. É o tempo original do nosso ser, a época na qual absorvemos e processamos uma postura em relação a nós mesmos e ao mundo. Os outros tempos da vida são adaptações e reacomodações desse passado.

Existe um ditado que diz que “o melhor presente que um ser humano pode dar a outro é uma infância feliz”. Infelizmente, o oposto também é verdadeiro: os maiores danos na existência de alguém nascem de uma infância infeliz. São feridas que podem levar uma vida inteira para curar, ou podem até mesmo nunca ser curadas.

Tudo o que dissemos anteriormente não quer dizer que, uma vez que o passado já tenha ocorrido, não há nada mais a fazer. Na verdade, cada um de nós pode pegar essas experiências vividas e convertê-las em um fator enriquecedor ou limitante. De passados traumáticos nasceram maravilhosas obras de arte e pensamentos, assim como de infâncias felizes surgem pessoas inesquecíveis.

O passado fornece uma matéria prima que, em essência, é imutável. Mas essa matéria prima, como seu nome indica, é só um material de base. O que se constrói com ela depende tanto da própria substância quanto do trabalho de quem a modela.

Aprender a analisar o que ocorreu para ter um passado saudável

Mulher envolta em flores rosadas

Ninguém escapa das experiências duras, difíceis ou injustas da vida, mas o duro, o difícil e o injusto dessas vivências pode ser potencializado ou minimizado, dependendo da forma como a pessoa os processa. De qualquer forma, a pior de todas as alternativas é pretender recusar um lado, com o propósito de ignorar a dor e agir como se nada tivesse acontecido.

Essa negação do passado doloroso leva unicamente a confusões cada vez mais difíceis de resolver. Se alguém sofreu, por exemplo, com a indiferença ou a rejeição dos seus pais e procura ignorar toda a dor que isso gera, provavelmente vai se convertendo em alguém aparentemente insensível, com dificuldade de criar vínculos íntimos com os outros, mas que rompe em lágrimas assistindo a um comercial.

Você vai sentir uma grande insatisfação consigo mesmo e, portanto, com as pessoas que o rodeiam. Provavelmente você será excessivamente exigente e, ao mesmo tempo, supersensível a críticas. Você vai ter dificuldades em avaliar objetivamente o valor das suas ações e, em geral, vai se sentir ou muito melhor, ou muito pior do que os outros, nunca igual.

Este conjunto de atitudes e emoções configuram uma vida inteira, na qual a nota predominante será o conflito e a insatisfação. No entanto, tudo isso não provém necessariamente dessa indiferença ou rejeição da qual você foi objeto quando era uma criança vulnerável, mas sim da recusa em rever essas experiências para lhes dar um sentido construtivo. Da recusa em experimentar todos os vestígios de dor que deixa uma situação semelhante.

Não se trata de precisar de uma pós-graduação, de um parceiro melhor, de filhos mais obedientes ou de uma casa mais bonita. A resposta à estagnação está no passado, naquelas pontas soltas que não terminamos de atar, naquelas dores que nunca se curaram.

Depurar o passado é uma tarefa que todos devemos realizar em algum momento das nossas vidas, principalmente naqueles em que percebermos que os nossos esforços não são recompensados com resultados encorajadores. Não é que tenhamos “algo de errado” ou algo deficiente. É que talvez não tenhamos entendido que, para seguir em frente, precisamos de um passado saudável.

Criança subindo na árvore

Imagens cortesia de Anna Dittman.


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