Ter sido ferido nos faz sensíveis às feridas do mundo

Ter sido ferido nos faz sensíveis às feridas do mundo
Raquel Aldana

Escrito e verificado por a psicóloga Raquel Aldana.

Última atualização: 14 dezembro, 2021

É interessante tentar compreender de que forma a história que vivemos define a nossa personalidade, e como uma mesma situação pode gerar feridas ou representações tão diferentes.

É verdade que as pessoas que foram feridas pelo passado costumam ser as mais construídas, as mais elaboradas e preparadas para enfrentar e transformar as adversidades.

Como é obvio, sofrer nos obriga a contemplar outras realidades mais diversas e menos centradas em nós mesmos. Ou seja, ter sido ferido nos faz sensíveis às feridas do mundo.

“As pessoas mais belas com as quais me encontrei são aquelas que conheceram a derrota, conheceram o sofrimento, conheceram a luta, conheceram a perda e encontraram o seu jeito de sair das profundezas. Essas pessoas têm um apreço, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que os enche de compaixão, humildade e uma profunda inquietude amorosa. As pessoas belas não surgem do nada.” 

-Elisabeth Kubler-Ross-

mae-e-filha-sarando-feridas-emocionais

Transformar a dor para poder continuar em frente

A pessoa que foi ferida precisa de certos meios psicológicos para poder voltar ao mundo uma vez que esteja disposta a retornar. Isto é, deve conseguir agir de tal forma que a sua dor seja mitigada.

Assim, transformar a dor fazendo destas lembranças algo grandioso ou divertido constitui um grande trabalho por parte da resiliência. O distanciamento emocional se faz possível graças a mecanismos de defesa que, embora complicados, podem ser necessários.

As reações emocionais mais comuns costumam ser estas:

  • A negação: “não pense que eu sofri”
  • O isolamento: “me lembro de certo acontecimento mas não o dedico qualquer afeto”
  • A fuga para frente: “vigio de forma constante para impedir que a angústia se repita”
  • Intelectualizar os acontecimentos: “quanto mais procuro compreender, mais sou dominado por uma emoção insuportável”
curar-as-feridas-emocionais

Feridos somos seres emocionais e sensíveis

Basta que a pessoa ferida se encontre na vida com alguém que significa algo para ela. Assim, a chama se acende novamente e a guia outra vez até o mundo.

Mesmo assim, muitas vezes na pessoa machucada se produz certa vergonha por ter sido vítima, certos sofrimentos e pensamentos de inferioridade, de destruição do eu, de distinção e descrença.

Por isso, uma pessoa ferida sabe que já não é como os outros nem nunca será. Além disso, digamos que enquanto pertenceu a outro mundo, o que já conhecia foi mudando.

Isso acrescenta ao seu estado um maior desconhecimento e desnorteamento, pois basta identificar uma dor para dotar-se de sabedoria e tato em relação aos vestígios passados, aos pesares presentes e aos que se pressentem para o futuro.

menina-com-suas-feridas-emocionais

As pessoas feridas, as mais bonitas

Obviamente nunca conseguiremos acabar completamente com os problemas, pois sempre ficarão pegadas e o medo de que os fantasmas que as deixaram recuperem a vida. Contudo, superar as feridas nos permite fazer a nossa existência mais suportável, mais bela e com mais sentido.

Por isso, cabe dizer que a força que nasce da dificuldade nos permite encaminhar as pegadas daqueles fantasmas do passado, dar voz aos nossos tormentos e mais robustez a aquelas atitudes que implicam amor e compreensão para com o mundo.

As pessoas que foram feridas e saíram vitoriosas possuem uma surpreendente capacidade de gratidão. Elas sabem que não é possível ser o que não fomos, mas que podemos dar de nós mesmos o que faz os outros felizes.

Assim, a força que nasce do sofrimento é aquela que nos confere uma áurea peculiar, pois quem foi machucado é perfeitamente consciente de que o mesmo mundo que feriu também curou. E é por isso que a sua sensibilidade conforma a sua gratidão, construindo assim a sua grandiosidade única e excepcional.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.