A verdadeira história da Chapeuzinho Vermelho

A verdadeira história da Chapeuzinho Vermelho

Última atualização: 16 junho, 2016

A maioria dos contos deixada tanto pelos irmãos Grimm como por Charles Perrault foi reunida de lendas e tradições locais que, durante a Idade Média, percorreram os povos de toda a Europa. Muitos deles refletem a psicologia da época, suas crenças, seus mitos… Tudo isso arraigado em ocasiões e testemunhos aos quais, inevitavelmente, se atribuía certo “realismo mágico”. Um dos mais antigos e, talvez, dos mais chamativos contos é o da Chapeuzinho Vermelho.

Essa história é, segundo especialistas, a que mais sofreu transformações desde sua origem, sempre com a ideia de “adoçar” algumas imagens para que o público infantil pudesse recebê-las com tranquilidade. Mas a verdade é que, com cada mudança, perdíamos a intenção original. Todo conto terminava com uma lição, um ensinamento que todos devíamos seguir. E aquilo que Chapeuzinho Vermelho nos ensinava merece ser contado…

Charles Perrault e os Irmãos Grimm

Charles Perrault foi o primeiro a recolher a história da Chapeuzinho Vermelho, em 1697. Incluiu a história em sua coleção de contos populares, consciente de que tal relato era um dos mais desconhecidos para a população europeia. O conto tinha suas origens no norte dos Alpes e apresentava algumas imagens muito cruéis, que foram alteradas pela necessidade de poder chegar, de forma inócua, ao público infantil. Essa foi a primeira vez em que a história desta jovem com o gorro vermelho chegou à Europa.

Em 1812, os irmãos Grimm decidiram incluí-la também em sua coleção. Para isso, eles se basearam na obra do alemão Ludwig Tieck intitulada “Vida e morte da pequena Chapeuzinho Vermelho” (Leben und Tod des kleinen Rotkäppchen), em que estava incluído — diferente do conto de Perrault – o personagem do caçador. Retiraram todo o rastro de elementos eróticos e sangrentos e deram à história um final feliz. Afinal, o que seria de um conto infantil sem seu costumeiro final feliz? Como você já pode imaginar, a história original é muito diferente daquela que as crianças leem em seus livros, então vamos conhecê-la.

A história da verdadeira Chapeuzinho Vermelho

Como já mostramos antes, essa história teve suas origens numa região isolada dos Alpes. A finalidade do relato é a de nos avisar, de nos mostrar que existem coisas proibidas para nossa comunidade enquanto gênero humano, enquanto comunidade e enquanto grupo. Na lenda, temos como protagonista uma adolescente que acaba de entrar no mundo dos adultos, daí sua capa vermelha; era um símbolo da menstruação.

Essa jovem recebe um pedido de sua família: deve cruzar um bosque para levar pão e leite para a avó. Como você pode perceber, até aqui as diferenças com o conto original não são muito grandes, mas devemos interpretar cada gesto e cada imagem. O bosque é o perigo, uma zona de risco para os jovens que aparece como uma provação, como ritual de passagem para uma comunidade, a qual visa mostrar que seus filhos já passaram para o mundo dos adultos.

Esse bosque tem como principal perigo a figura do lobo. Esse animal simboliza a selvageria e o irracional. Algo que nossa Chapeuzinho Vermelho já sabe que deve enfrentar. A jovem consegue cruzar o bosque e entra feliz na casa de sua avó, que a recebe na cama por estar doente. Tudo muito parecido com o nosso conto clássico, sem dúvidas. Mas aqui é que começam as mudanças…

A avó pede que a jovem guarde o leite e o pão e coma a carne que está na cozinha, preparada para ela. A Chapeuzinho concorda e a devora com fome, ficando saciada, para depois obedecer à seguinte ordem da velha: deve tirar toda a roupa, peça a peça, e queimá-las no fogo, para depois deitar-se com ela na cama. A jovem, solícita, concorda, sem questioná-la em nenhum momento, sem pensar na estranheza da situação. Mas justo quando vai se deitar na cama, descobre que é o lobo que a recebe, entre gargalhadas, mostrando-lhe que a carne que comeu era sua avó. Havia cometido um grande pecado: o canibalismo. Mais tarde, o lobo devora a jovem Chapeuzinho.

O simbolismo está implícito em cada personagem, e o lobo é o mundo sexual e violento. A velha devorada por uma jovem, renovando-se, assim, o velho pelo novo. O novo, por sua vez, apresenta-se como o incauto e ingênuo ao cometer um dos maiores sacrilégios da humanidade: o canibalismo. Como você pode ver, um dos contos mais clássicos e amados de nossa infância tem, na verdade, um lado muito obscuro.


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