Os acumuladores compulsivos

Os acumuladores compulsivos

Última atualização: 26 março, 2017

Guardam até a embalagem do bombom que ganharam quando tinham quatro anos de idade. Mas, além disso, roupa velha e surrada que jamais usam, os folhetos que entregam na rua, vasos quebrados e discos de vinil que não têm nem onde escutar. Parece que a palavra de ordem dos acumuladores compulsivos é de simplesmente se cercar de objetos inúteis. Por isso, eles não desenvolvem critérios para dizer o que guardar e o que não guardar.

O assunto seria apenas uma anedota se não fosse algo sério, pois esse exercício incessante de guardar tudo pode levar a problemas sérios de saúde e convivência. Além disso, é um claro sintoma de que algo não vai bem.

A figura dos acumuladores compulsivos no mundo não é negligenciada. Estima-se que ao menos 4% de toda população apresente sintomas de desordem, o que equivale a mais ou menos umas 300 milhões de pessoas no mundo. Por que algumas pessoas amontoam seu entorno com objetos insignificantes a ponto de empobrecerem sua qualidade de vida e colocarem em risco sua saúde?

A origem dos acumuladores compulsivos

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Na verdade não existe um total acordo entre os especialistas sobre os fatores que desencadeiam a acumulação compulsiva. O que há de consenso é o fato de que se trata de um sintoma que merece atenção e, eventualmente, um grande tempo de psicoterapia.

Para Freud, o acúmulo excessivo corresponde a manifestação de um “caráter de retenção anal”. Esse tipo de caráter estrutura-se nos primeiros anos de vida, na fase de controle do esfíncter.

A criança estabelece um certo controle sobre seus pais, a partir da maneira como visita o banheiro. Em sua mente infantil. as fezes são um presente que dá ou retém, de acordo com o vínculo que ela estabeleceu com seus progenitores.

A retenção é uma característica que pode ficar afixada na personalidade nessa etapa. De uma ou de outra maneira, expressa um impulso agressivo contra seus pais que fica reprimido, mas logo se manifesta através da acumulação ou da avareza.

Outros enfoques indicam que a acumulação compulsiva é um comportamento defensivo, diante de ameaças imaginárias. O acumulador parte da ideia de que não deve tirar um objeto porque, mais adiante, ele poderá fazer falta.

Ninguém entende como é que um pedaço de papel rasgado e sem importância pode chegar a fazer falta a alguém, mas o acumulador pensa que “nunca se sabe”. Na verdade, ele está experimentando um forte sentimento de insegurança diante as mudanças.

Também existe o caso de quem acumula em resposta a um trauma. Talvez essa pessoa tenha passado por uma situação na qual tenha ficado completamente sem nada e tem medo de que isso aconteça novamente.

Além disso, há quem guarde lembranças como uma espécie de evidência. Isto acontece porque está carregado com uma culpa inconsciente e quer testemunhar a seu favor. Neste caso, a acumulação opera como uma necessidade inconsciente de juntar provas.

Características dos acumuladores compulsivos

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O acumulador compulsivo, muitas vezes, também é um comprador compulsivo. Não pode ver nada em oferta porque, imediatamente, sente que tem que adquiri-lo, simplesmente pelo fato de estar mais barato. Não importa se é algo de que necessite ou não.

É comum que também sejam pessoas solitárias. Em parte, sua obsessão por acumular deve-se também a uma certa fantasia de substituir a companhia pelos objetos.

As pessoas que têm dificuldades para se desfazer dos objetos de que não necessitam experimentam essa desapropriação como uma autêntica perda. Chegam a sofrer um verdadeiro luto se precisarem se separar das coisas que formam seu mundo.

O drama da acumulação compulsiva

A situação pode chegar a níveis graves, como o conhecido caso dos irmãos Collyer, que ocorreu nos Estados Unidos em 1947. Os vizinhos alertaram a polícia porque havia muito tempo que não viam os irmãos saírem de sua casa nem darem nenhum sinal de vida. As autoridades não puderam entrar casa nem pela porta nem pelas janelas, devido a enorme quantidade de objetos que impediam o acesso.

Ao final, só puderam abrir uma entrada pelo terraço. Eram tantos objetos que haviam por todas as partes que demoraram 6 horas até encontrarem o primeiro cadáver. O segundo só foi encontrado 18 dias depois, apesar de estar a poucos metros do primeiro.

Um dos irmãos havia sido morto pelo desabamento de milhares de livros e jornais que caíram sobre ele. O outro irmão, que era cego e paralítico, morreu mais tarde de fome e sede, pois não conseguiu buscar água e comida.

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Em casos menos graves, a acumulação compulsiva leva a uma desordem monumental em sua casa ou seu escritório. Às vezes isso facilita a aparição de pragas, pois não se consegue fazer uma limpeza correta da casa.

Não há um método específico para tratar o caso dos acumuladores compulsivos, mas é verdade que são pessoas que precisam de ajuda profissional para esclarecer o que há por trás desse desejo de não se separar do velho.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.