Todos falam do amor à primeira vista, mas e a "amizade à primeira vista"?

Todos falam do amor à primeira vista, mas e a "amizade à primeira vista"?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

A “amizade à primeira vista” existe, mas mais do que através do olhar, esse vínculo se estabelece através das risadas compartilhadas. É uma cumplicidade mágica que faz aparecer instantaneamente uma afinidade, pontos em comuns, coincidências… É um elo formado por interações positivas que, ao longo do tempo, vai se tornando cada vez mais firme através de apoio emocional e, sobretudo, através da confiança.

Todos já ouvimos falar do amor à primeira vista, aquele em que vários fatores se conjugam, como a atração física, nossos pensamentos inconscientes e o sempre misterioso e inegável poder de nossos neurotransmissores que nos fazem sentir aquela paixão. Agora, a dúvida que surgiu entre os psicólogos e pesquisadores da personalidade foi se pode ocorrer o mesmo em relações de amizade.

Pensemos por exemplo em todos os cenários sociais em que convivemos diariamente: trabalho, salas de aula, áreas públicas de edifícios, academia, festas, transportes públicos… Basta que cruzemos o olhar com uma pessoa para intuir que essa pessoa poderia ser um bom amigo? Podem essas primeiras impressões do nosso cérebro nos dar uma pista confiável e certeira de quem combina conosco?

Essa mesma pergunta foi feita por psicólogos sociais pesquisadores em um trabalho que foi publicado na revista Social Psychological and Personality Science. Os resultados obtidos não poderiam ser mais interessantes. Ficou claro, por exemplo, que existe uma “paixão amigável”. Nós fazemos julgamentos rápidos sobre que tipo de pessoas seriam mais afins a nós e nossos interesses no plano da amizade. Isso é feito por meio da avaliação de certos aspectos, pequenas pistas e nuances sutis do outro.

Às vezes não acertamos por completo, mas já se sabe, no entanto, que essa sensação que parte frequentemente de impressões bastantes superficiais costuma acertar em 70% dos casos. A amizade é para os psicólogos e sociólogos algo tão ou mais fascinante que o amor. Essas forças que nos atraem para um determinado tipo de pessoa e não para outros é o que define também nossa identidade social e nosso desejo por estarmos rodeados de perfis semelhantes aos nossos.

Homem jovem sorrindo

A “amizade à primeira vista” ocorre todos os dias

A “amizade à primeira vista” ocorre todos os dias. Acontece com aquela criança assustada que começa seu primeiro dia na escolinha. Ela, bastante nervosa, avista pela primeira vez as outras crianças companheiras de classe. Lá no fundo avista uma outra criança como ela, um pequeno que dá um sorriso lá das últimas fileiras e se levanta para ir sentar perto dela.

Acontece também quando começamos em um trabalho, e no meio da rotina de trabalho acontece algo sem importância, mas inesperado que nos faz rir junto de alguém que ri até mais que a gente. As risadas se transformam em gargalhadas e, então, descobrimos que aí pode nascer uma boa amizade. As primeiras impressões são assim, estão carregadas de coincidências, de nuances emocionais, de súbitas risadas e olhares que fazem uma leitura rápida buscando afinidades.

Agora, isso que pode parecer até mágico em um primeiro olhar, tem na verdade muito de biológico e de neuroquímico. Todas as nossas sensações e pensamentos estão em nosso cérebro, inclusive a amizade. As regiões cerebrais que orquestram esse tipo de feitiçaria da “amizade à primeira vista” são a amígdala e o córtex cingulado anterior. A primeira estrutura do nosso cérebro se relaciona com nossos emoções e, mais concretamente, com esses impulsos relacionados com nossos instinto de sobrevivência.

Amigos diante do mar

Desse modo, se há algo que todos nós sabemos é que ter um bom amigo ao nosso lado tornará nossa vida mais bonita. Nos sentiremos mais protegidos, mais felizes e mais satisfeitos. Por outro lado, o córtex cingulado anterior faz referência a uma sofisticada parte cerebral que nos ajuda a tomar decisões e a atribuir valor para objetos e pessoas. Algo que, às vezes, fazemos de forma incrivelmente rápida e sem esforço. E que é exatamente o que acontece na “amizade à primeira vista”.

Por trás da “amizade à primeira vista” há certas exigências

Os psicólogos da Universidade de Columbia, Jeremy C. Biesanz e Elizabeth W. Dunn, citados anteriormente quando falamos da pesquisa publicada que define as bases do que acontece nesse feitiço da amizade, nos revelam coisas bastante interessantes. A “amizade à primeira vista” existe, mas por trás dela há uma série de mecanismos bastante sofisticados que é importante levar em consideração.

Quando nós humanos nos conectamos com alguém, fazemos isso baseados em algumas expectativas. Por exemplo, a criança assustada que começa seu primeiro dia de aula e se encontra com outro aluno na sala que sorri para ela dirá para si mesmo que sim, essa é uma criança que pode ser sua aliada nesse ambiente desconhecido e desse modo tornar a situação mais fácil para os dois. Pensará que o outro será alguém com quem poderá compartilhar coisas, com quem poderá brincar e ter sempre ao seu lado na escola.

A “amizade à primeira vista” é, na realidade, um modo de monitorar as pessoas para encontrar quem acreditamos que pode ter mais semelhanças e interesses em comum conosco. É a busca por uma pessoa em quem valerá a pena investir nossa energia emocional, nosso tempo e inclusive dividir nossos projetos.

Nós humanos somos muito exigentes e inconscientemente esperamos muitas coisas em troca. Sem dúvida, as melhores amizades são intercâmbios enriquecedores em que as duas partes devem sair ganhando. Há investimento mas também se recebe, se dá e se oferece.
Amigas se divertindo

Para concluir, podemos dizer que a paixão amigável é sim real e que, às vezes, bastam poucos minutos para conectar-se com alguém de forma intensa e maravilhosa. No entanto, por trás dessa primeira conexão baseada em uma série de micro julgamentos, avaliações muitas vezes um pouco distorcidas e ainda expectativas anteriormente citadas, há o tempo que poderá nos confirmar efetivamente se nós acertamos ou não.

No fim das contas, toda amizade duradoura, significativa e valiosa é aquela que se baseia em três pilares bastante claros: confiança, reciprocidade e apoio emocional positivo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.