Apatia e tédio: duas dimensões muito diferentes

Ficar entediado não é a mesma coisa que sentir apatia. Esta última dimensão às vezes está relacionada a estados psicológicos mais exaustivos, como a depressão. Vamos analisar mais detalhes a seguir.
Apatia e tédio: duas dimensões muito diferentes
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

Apatia e tédio não são a mesma coisa, embora suas semânticas acabem se misturando. Tédio, cansaço, sensação de que a vida está lenta e de que tudo carece de impulso, sensação de vazio, frustração, desconforto consigo mesmo e com o próprio mundo… Poderíamos descrever de mil maneiras o que vivemos quando passamos por essas realidades psicológicas, mas a verdade é que ambas são muito diferentes.

Já dizia Rollo May, conhecido psicólogo existencialista, que o oposto do amor não é o ódio, mas sim a apatia. É aquele estado de desinteresse no próprio relacionamento em que o entusiasmo se desvaneceu. É a falta de faísca nas risadas compartilhadas e do formigamento da motivação cotidiana. Quando o estado apático surge, entramos em uma dimensão mais problemática do que o próprio tédio.

Saber identificar um e outro pode ser de grande ajuda por vários motivos. Primeiro devemos detectar em que estado de espírito nos encontramos, já que em muitos casos a apatia é uma característica da depressão. Por outro lado, é sempre bom saber quais são as emoções que as compõem para lidar melhor com essas situações incômodas.

Vamos analisar.

Mulher apática

Quais são as diferenças entre apatia e tédio?

Todos nós já experimentamos o tédio, conhecemos esse sentimento. No entanto, não estaremos enganados se salientarmos que a apatia é uma dimensão que nos visita com menos frequência. É verdade, sim, que vivemos ambas as esferas de forma negativa. A maioria de nós sabe o que é esperar horas em um aeroporto quando há um atraso no voo. Também é familiar para nós estar em uma reunião ou aula que não seja motivadora ou interessante.

Além disso, sabemos como é difícil lidar com uma criança entediada. No entanto, como bem intuímos, existem poucas coisas mais úteis do que permitir que uma criança fique entediada para estimular a capacidade inata para o tédio. Porém, os adultos nem sempre usam a imaginação, mas muitas vezes vivenciamos esse estado de frustração e tentamos evitá-lo com comportamentos pouco saudáveis, como comer demais.

É importante saber diferenciar apatia e tédio. De fato, a literatura científica não deu atenção a essas dimensões até muito recentemente, revelando-se há poucos anos como decisivas para a nossa saúde mental. Vamos falar mais sobre isso.

A mente não comprometida: o tédio

O tédio é um estado aversivo que surge quando o que nos rodeia externamente não atrai o nosso interesse. Aparece quando não há estímulos ambientais atrativos ou desafiadores, também quando somos forçados a realizar tarefas que não são gratificantes para nós. Quando nada satisfaz, interessa ou motiva, o tédio nos domina por meio de um estado emocional muito específico.

Nessa realidade psicológica, o tédio se combina com a inquietação, a frustração e a negatividade. No entanto, deve-se notar que uma das diferenças entre apatia e tédio é que este último tem uma duração mais curta.

Estudos como os realizados na Universidade de York (Estados Unidos) definem o tédio como aquele estado em que a mente não se compromete consigo mesma e também é incapaz de focalizar a atenção em algo e se limita a vagar.

Como Eastwood, Frischen, Fenske e Smilek (2020) apontam, quanto mais divagarmos, mais entediados vamos nos sentir. O essencial é focar a mente em alguma atividade para que esse sentimento se dilua.

Saiba diferenciar apatia e tédio para cuidar da sua saúde mental

O Dr. Yael Goldberg, da Universidade de Waterloo, no Reino Unido, conduziu um estudo no qual destacou a relevância de saber diferenciar apatia e tédio. A razão? A apatia costuma estar por trás da depressão e de estados neurodegenerativos como o Alzheimer. Vamos, portanto, entender como identificar estados de apatia:

  • A apatia é um estado mais estável ao longo do tempo do que o próprio tédio.
  • A apatia significa literalmente “falta de sentimento”. Portanto, enquanto no tédio surgem inúmeras emoções, na apatia existe um vazio. Nada excita, nada estimula ou interessa.
  • Por outro lado, a apatia também está relacionada à anedonia, ou seja, à diminuição ou incapacidade de sentir prazer e gozo. De acordo com o DSM-V, essa característica corresponde a sintomas associados à depressão.
  • Além disso, embora seja verdade que a apatia pode aparecer durante um período da nossa vida e desaparecer quando encontramos novos motivadores, em alguns casos podemos estar enfrentando um distúrbio psicológico.
  • A apatia também aparece no transtorno bipolar, na depressão maior e nos estados de ansiedade.

Homem preocupado no trabalho

Tédio apático

Esses dados são interessantes. Embora, como apontamos, seja importante diferenciar apatia e tédio, há outra dimensão que devemos considerar. Estudos recentes de uma equipe de pesquisadores do Canadá, Estados Unidos e Europa identificaram um outro tipo de tédio: o tédio apático.

Essa realidade mental integra sentimentos como negatividade, falta de esperança e desamparo aprendido. Além disso, três características muito reveladoras surgem para identificá-lo:

  • Incapacidade de se concentrar ou prestar atenção.
  • Saber que não é possível focar a atenção nas coisas do dia a dia.
  • Sentimento de culpa por não conseguir render 100%.

Para concluir, como podemos vislumbrar, a apatia e o tédio são duas esferas diferentes, mas às vezes podem aparecer juntas para delinear uma situação de alto desgaste psicológico. A motivação e a capacidade de se entusiasmar todos os dias são o melhor antídoto para esse tipo de situação.


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  •  Eastwood JD, Frischen A, Fenske MJ, Smilek D. The Unengaged Mind: Defining Boredom in Terms of Attention. Perspectives on Psychological Science. 2012;7(5):482-495. doi:10.1177/1745691612456044
  • Goldberg, Yael & Eastwood, John & LaGuardia, Jennifer & Danckert, James. (2011). Boredom: An Emotional Experience Distinct from Apathy, Anhedonia, or Depression. Journal of Social and Clinical Psychology. 30. 647-666. 10.1521/jscp.2011.30.6.647.

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