É verdade que as meninas amadurecem antes dos meninos?

Em média, as meninas têm um desenvolvimento cerebral mais rápido do que os meninos. Isso significa que, durante a infância e o início da adolescência, elas são mais maduras do que os meninos. Por que isso acontece?
É verdade que as meninas amadurecem antes dos meninos?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Este tópico sempre desperta alguma controvérsia. Dizer que as meninas amadurecem antes dos meninos é uma evidência para muitos e uma forma de discriminação para outros. No entanto, são muitas as famílias e educadores que percebem nas meninas uma capacidade precoce de regular o seu comportamento, de mostrar um maior equilíbrio emocional ou uma melhor capacidade de reflexão.

Cuidado, não estamos falando aqui de potencial intelectual. A maturidade infantil é percebida no modo como as crianças processam as informações e na sua capacidade de reprimir os impulsos. Esta última, segundo a ciência, aparentemente se desenvolve primeiro no gênero feminino por um motivo particular: a reestruturação cerebral que acontece durante a infância. Vamos nos aprofundar nisso.

“Somente quando o cérebro emocional tiver recebido o afeto de que precisa, poderá ter plena capacidade intelectual.”
– Álvaro Bilbao –

Desenvolvimento cerebral

Por que as meninas amadurecem antes dos meninos?

Dizer que existem diferenças sutis no universo neurológico entre homens e mulheres não é cair em discriminação. Isso é uma evidência científica. Sabemos de forma evidente que ambos gêneros seguem os mesmos processos neuromaturativos que lhes permitiram conseguir um cérebro ágil, eficaz e pronto para interagir com o ambiente.

No entanto, o cérebro feminino inicia este desenvolvimento neurológico antes. É aqui que se encontra a chave e o mistério de por que as meninas amadurecem antes dos meninos. Uma das pesquisas mais interessantes e reveladoras sobre o tema foi realizada na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, em 2013. Vamos analisar estes dados a seguir.

A mudança acontece entre os 10 e 19 anos

O objetivo da pesquisa realizada pela Universidade de Newcastle era conhecer o nível de conectividade do cérebro humano entre os 4 e os 40 anos de idade. Para descobrir isso, Markus Kaiser e sua equipe, em colaboração com o National Institute of Health (NCBI), fizeram ressonâncias magnéticas em uma ampla amostra populacional compreendida por essa faixa etária.

O aspecto mais significativo que se pôde observar foi que, entre as idades de 10 e 19 anos, as meninas começaram a apresentar uma maior organização cerebral. Também foi observada uma maior atividade neurológica. No entanto, esse processo de amadurecimento começava entre os 15 e 21 anos nos meninos.

A razão pela qual as meninas amadurecem antes dos meninos está na “poda neural”

O cérebro infantil e adolescente precisa de um fenômeno quase mágico para se desenvolver: a poda neurológica. Este processo de otimização da conectividade cerebral consiste em “podar” (eliminar) as conexões (sinapses) que não são usadas regularmente, deixando apenas aquelas que são usadas com frequência.

Estas últimas são nutridas por meio da mielinização para fortalecê-las e, assim, atingir o desempenho máximo.

Este processo começa mais cedo nas meninas, tendo seu início entre as idades de 10 e 12 anos, e continuando até os 19 anos ou mais. Já nos meninos, a poda neurológica começa por volta dos 15 anos de idade.

Este mecanismo de eliminação seletiva de conexões cerebrais que acontece antes no cérebro feminino recebe o nome de desprendimento preferencial. Isso favorece, por exemplo, que as meninas apresentem uma maior maturidade em aspectos emocionais e também no controle de impulsos. Obviamente, sempre pode haver exceções.

As meninas amadurecem antes dos meninos, mas suas necessidades são as mesmas

Algumas pessoas alertam para o risco de fazer uma interpretação equivocada do fato das meninas amadurecerem mais cedo que os meninos. Às vezes, há quem faça dessa ideia um exercício de pressão sobre a menina. Por exemplo, há famílias que podem atribuir responsabilidades às meninas que não são atribuídas aos irmãos do sexo masculino.

Comentários como “Não faça as coisas assim porque você é mais madura do que seu irmão” não são muito pedagógicos. Essa pequena vantagem que, em média, é dada a elas não é uma conquista, nem uma desculpa para lhes dar mais responsabilidades.

Todas as crianças, igualmente e independentemente do seu gênero, devem ser tratadas da mesma maneira. Além disso, o adequado é tratar cada criança e adolescente de acordo com as suas necessidades pessoais.

Algo que os especialistas em desenvolvimento cerebral infantil apontam é a necessidade de dar atenção personalizada aos meninos e meninas desde a mais tenra idade, a fim de otimizar a plasticidade e a poda neural saudável.

Menino jogando videogame

Essa vantagem de amadurecimento das meninas pode ser perdida (e a dos meninos ainda mais atrasada)

Sabemos que as meninas amadurecem antes dos meninos. Também temos consciência de que nada é tão importante para o cérebro dos meninos e das meninas quanto uma poda neural saudável, que acontece entre os 10 e 21 anos de idade. Agora, os neurocientistas estão fazendo mais um alerta.

A exposição precoce às telas e a hiperativação que isso causa em seus cérebros, a falta de exercício, a falta de conexão social e a má nutrição afetam o correto desenvolvimento cerebral.

As crianças do século 21, muitas vezes submetidas a novas tecnologias e a estilos de vida sedentários, podem começar a apresentar um atraso no amadurecimento e na necessária poda neural.

Cuidar da plasticidade cerebral das crianças, favorecendo a curiosidade, a interação com os seus pares e a prática de exercícios físicos ao ar livre é essencial para investir em bem-estar, saúde e felicidade.


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  • Sol Lim, Cheol E. Han, Peter J. Uhlhaas(2013) Preferential Detachment During Human Brain Development: Age- and Sex-Specific Structural Connectivity in Diffusion Tensor Imaging (DTI) Data. Cerebral Cortex, Volume 25, Issue 6, June 2015, Pages 1477–1489, https://doi.org/10.1093/cercor/bht333

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