O caos sexual: a praga do nosso tempo

O caos sexual: a praga do nosso tempo

Última atualização: 21 setembro, 2018

A sexualidade é um dos aspectos que mais influencia e enriquece as nossas vidas. Ao longo da história o sexo foi suprimido, punido, liberado, criticado, e até mesmo manipulado. Atualmente nos deparamos com uma sociedade hiperssexualizada e hipócrita em sua divulgação: estamos constantemente cercados por conteúdo sexual, mas as estatísticas provam que a insatisfação é a triste protagonista.

“Há tantos tipos de sexualidades quanto pessoas no mundo. Acontece o mesmo com as sensibilidades”.
 -Kevin Johansen-

O desempenho sexual é apresentado como a variável determinante que nos fará mais felizes. A cada dia, existem mais redes sociais e aplicativos para conhecer pessoas. Nunca foi tão fácil acumular encontros sexuais, contar nossas últimas façanhas em detalhes e descartar aquilo que não nos agrada à primeira vista.

Por que, apesar de termos tantas possibilidades, não estamos satisfeitos? A superficialidade e a facilidade com que nos são apresentados o mundo sexual e amoroso são parte do problema. Cada vez mais os relacionamentos são baseados em dois aspectos: frieza e falta de limites. Por estas razões, nos tornamos autômatos que experimentam o “sexo pelo sexo”, e tudo isso está nos empurrando para buscar uma mudança nos papéis e nas identidades sexuais como uma tentativa desesperada de trazer ordem para este vazio caótico.

“Não se trata de desistir do sexo, eu estou longe de apelar para o puritanismo, mas de transformar nossa relação com ele. Vamos tentar levá-lo mais além de ser simplesmente um ato biológico que responde a impulsos não assimilados … “
 -Frida Kahlo-

A sexualidade mecânica

A atual geração de jovens é menos ativa sexualmente do que a geração de qualquer outra época. Como pode acontecer este paradoxo? Houve uma perda da atração e do interesse sexual pela exposição excessiva e contínua ao sexo. Estamos saturados, tudo isto nos levou à destruição da qualidade das relações sexuais, à incapacidade natural para amar e nos relacionarmos com os outros.

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Existe uma praga emocional, uma necessidade de um controle constante e um medo da excitação prazerosa real. As mulheres falam da incapacidade de sentir desejo sexual, e 1 em cada 3 mulheres sofre de anorgasmia. Os homens enfrentam problemas de potência sexual e aumenta o número de casos de ejaculação precoce.

“O sexo sem amor só alivia momentaneamente o abismo que existe entre dois seres humanos”.
 -Erich Fromm-

Qual é a razão de tudo isso? Uma ideologia autoritária e comercial. As ideologias estão incorporadas nas pessoas, somos uma massa submissa ao sistema. Transformamos o outro em uma simples mercadoria, em um número a mais, em um produto intercambiável. Antigamente, vender-se era o pior que podia acontecer. Hoje, o pior é se vender barato, ou seja, atualmente o imperdoável é não fazer parte do mercado da oferta e demanda de sexo. Aquele que não entra no jogo para encontrar a melhor oferta é punido.

Estamos confundindo valor e preço. Como? Estamos “deixando de lado” os nossos princípios e valores e rotulando as pessoas com base em critérios como a sua aparência ou o seu poder de compra. Precisamos rotular para nos sentirmos seguros, não toleramos as incertezas e as frustrações. Por isso, preferimos classificar os outros com base em adjetivos frívolos para simplificar e reduzir o leque de possibilidades.

Procuramos satisfazer nossos caprichos sob o escudo de “Carpe Diem” e evitamos a angústia através da busca do prazer. Com este pretexto nós reduzimos o processo de escolha a duas opções: eu gosto ou não gosto, e com um movimento de dedos sobre a tela passamos para o próximo produto.

O conformismo como anestesia

A impressão de que estamos escolhendo quando fazemos parte do rebanho, a falta de consciência crítica e responsabilidade consigo mesmo e com o outro, nos atira em linha reta para uma perda de personalidade. Antepomos o mimetismo social a nossa própria liberdade para nos tornarmos parte do circo. Precisamos estar com alguém, e não nos importamos com o preço a pagar por isso.

Desaparecemos no meio da multidão, escolhemos ser apenas mais um para não nos sentirmos sozinhos. Juntos, montamos uma festa à fantasia onde ninguém mostra seus sentimentos genuínos, e esse conformismo nos leva a aceitar relações que não nos satisfazem e até mesmo a ceder e fazer coisas que nós realmente não gostamos ou não temos certeza de que queremos fazer.

“A recompensa pelo conformismo é que todo mundo gosta de você, exceto você mesmo”.
  -Rita Mae Brown-

Temos medo da liberdade. A liberdade individual significa ter a capacidade de se libertar e escolher se queremos ficar longe do outro e evitar depender dele, ou seja, a liberdade individual nos tira do conformismo e nos obriga a assumir a responsabilidade por nossas escolhas, nos obriga a escolher de acordo com o nosso próprio julgamento e a nos conhecermos melhor.

Deixar de responsabilizar o outro é um ato de coragem. Identificar os nossos erros e distorções nos ajuda a tomar consciência dos nossos próprios atos e decisões. A falta de compreensão consigo mesmo e o medo de ouvir o que soa dentro de nós só nos leva a mascarar a realidade e a ser cúmplices de um sofrimento silenciado a nível social. Vamos começar colocando ordem no nosso próprio caos.

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Autenticidade, a peça chave

Vivemos no século do individualismo. Como podemos lidar com isso? O primeiro passo é se conectar com a sua essência, a sua verdadeira identidade. Enfrentar nossas luzes e nossas sombras facilitará o nosso relacionamento com os outros de uma forma mais autêntica, e nos ajudará a viver uma sexualidade saudável e satisfatória.

A sexualidade nos permite comunicar nossas emoções e paixões mais íntimas, é uma fonte de prazer e pode ser expressada de várias maneiras. Ela é influenciada pela interação de diferentes fatores: biológicos, psicológicos, sociais e éticos, e através da sua complexidade, podemos mostrar o nosso modo de ser mais autêntico.

Uma das características da sexualidade é a sua capacidade de ligação afetiva, ou seja, de desenvolver e estabelecer relações significativas com as outras pessoas. Talvez se deixarmos de lado os relacionamentos superficiais, os preconceitos e os rótulos, poderemos conhecer a outra pessoa de forma genuína e autêntica; construir relacionamentos mais naturais e satisfatórios que nos permitam experimentar e desfrutar de maneira mais prazerosa a nossa sexualidade.


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