Cérebro criativo: mentes livres, emotivas e conectadas

Cérebro criativo: mentes livres, emotivas e conectadas
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O cérebro criativo é incrível: ele é brincalhão, emotivo, livre e incansável. Ele não acredita em coisas finitas, para ele o mundo está cheio de possibilidades, e escolhe estar conectado com tudo para aprender com qualquer estímulo. Muitas vezes ele nem percebe como certas coisas lhe ocorreram, porque os pensamentos surgem na mente como flashes, como peixes dourados que se destacam acima dos outros.

Steve Jobs dizia que a criatividade surge quando aprendemos a conectar elementos. É relacionar a nossa realidade com experiências passadas e ousar criar coisas novas e desafiadoras. Aquelas que, a princípio, nem todos entendem, mas que depois abrirão outras possibilidades e inovações que toda empresa precisa, o capital humano que a nossa sociedade deveria apreciar como merece.

“As pessoas criativas apresentam extremos contraditórios; em vez de ser um “indivíduo”, cada um deles é uma multidão”.
– Mihaly Csikszentmihalyi –

Por mais curioso que seja, até hoje ainda mantemos ideias equivocadas sobre a criatividade e o cérebro criativo. Por exemplo, acreditamos que a capacidade de criar ideias inovadoras e originais está relacionada à inteligência. Além disso, há algumas pessoas que continuam acreditando no modelo do hemisfério direito como foco e origem da nossa criatividade. Não é bem assim. Os mitos continuam a espalhar muitas ideias que a ciência já demonstrou que não são corretas.

Entenda em primeiro lugar que a criatividade é uma capacidade com a qual todos nós nascemos. Para potencializá-la, para usá-la, precisamos começar a ver o mundo e a nós mesmos de uma maneira diferente. Falaremos sobre isso neste artigo.

Mulher com bolha de sabão


Como o cérebro criativo funciona?

O cérebro criativo funciona de maneira diferente. Um estudo recente publicado na Academia Nacional de Ciências revela algo que os neuropsicólogos já intuíam: as pessoas criativas apresentam mais estruturas neuronais conectadas do que as outras pessoas. Através de testes de ressonância magnética, foi possível ver como a sua conectividade funcional e neural é muito mais complexa, é fascinante.

Portanto, “cai por terra” mais uma vez, a ideia de associar a criatividade exclusivamente ao hemisfério direito do cérebro. A pessoa acostumada a gerar ideias inovadoras, arriscadas e originais apresenta uma sinfonia de interação em ambos os hemisférios: o esquerdo e o direito. Agora, as descobertas sobre o cérebro criativo não param por aí, elas apresentam particularidades ainda mais interessantes.

Um pensamento flexível e com tolerância à incerteza

Como já dissemos, a arquitetura neuronal da pessoa criativa tem mais conexões e é mais densa. Isso explica a sua abordagem mental sempre flexível, aberta à ambiguidade e à incerteza. Enquanto as mentes mais rígidas são incapazes de aceitar os dados contraditórios, a pessoa criativa os vê como um desafio e tenta encontrar explicações, brincar com as probabilidades, com as heurísticas

Muita inteligência não explica a criatividade

As pessoas criativas não apresentam, em média, um quociente intelectual particularmente impressionante. Todos nos lembramos, por exemplo, do famoso estudo realizado pelo psicólogo Frank X. Barron em 1956. Ele reuniu em um antigo casarão da Universidade de Berkeley renomados arquitetos, cientistas e escritores como Truman Capote, William Carlos Williams e Frank O’Connor. Ele queria entender como funcionavam as mentes mais criativas do país.

Criatividade

O que ele aprendeu nesse estudo com esse variado grupo de pessoas foi o seguinte:

  • Elas apresentavam uma abertura mais profunda para a vida interior. Eram atenciosas, sabiam como analisar as suas emoções, faziam contato com as suas necessidades internas.
  • A motivação, a vontade de aprender, descobrir coisas ou mostrar ao mundo novas ideias, conceitos ou histórias era algo que todos compartilhavam.
  • Havia também um componente emocional e moral. A maioria delas tinha valores nobres.
  • Elas aceitavam a desorganização, isso até as inspirava.
  • Apresentavam um ponto muito peculiar de loucura, um olhar quase infantil, brincalhão e ansioso para ir além do estabelecido, para se surpreender, para apreciar as coisas mais elementares…
  • Dentro de uma margem de segurança, elas adoravam correr riscos.

O cérebro criativo e a introspecção

A introspecção é outra característica das pessoas criativas. Elas apresentam uma maior autoconsciência e sabem combinar as suas áreas “mais obscuras” com as mais brilhantes. Como são capazes de perceber as próprias limitações, os seus defeitos e sensibilidades, frequentemente apresentam uma melhor saúde mental.

A criatividade é desordenada a nível neurológico

O neurologista Marcus Raichle realizou um trabalho interessante em 2001 sobre a criatividade. Nesse estudo ele concluiu algo revelador. O cérebro criativo é tremendamente confuso. Já sabemos que a inovação criativa não está localizada no hemisfério direito. Na verdade, é incrivelmente dispersa.

  • Dessa forma, o Dr. Raichle falou da “rede de imaginação”, que envolve muitas regiões do cérebro: as áreas da superfície medial do cérebro assim como o lobo frontal, parietal e temporal.
  • Por outro lado, outro processo que caracteriza o cérebro criativo é conhecido como “cognição autogerada”. Isto é, a capacidade de sonhar acordado ou deixar a mente divagar.
Homem tirando foto

Depois de mais de 30 anos estudando, Mihaly Csikszentmihalyi concluiu que as pessoas criativas são personalidades complexas: não existe somente uma pessoa dentro do seu cérebro. É como se houvesse toda uma equipe de profissionais exigindo coisas, sugerindo ideias e novos interesses.

São essas vozes que as motivam. No entanto, podem sugerir muitas ideias, muitos projetos ao mesmo tempo e, às vezes, contraditórios. De fato, este é um dos problemas mais comuns do cérebro criativo: aprender a controlar todos esses fluxos de pensamentos, emoções e cognições, etc.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.