O que cinco minutos de silêncio podem fazer pelo seu cérebro

O que cinco minutos de silêncio podem fazer pelo seu cérebro
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 novembro, 2022

Às vezes, cinco minutos de silêncio são suficientes para recuperar a calma, o equilíbrio, a temperança. Basta um breve instante de paz, longe do barulho e das conversas que não acabam e, de repente, nosso cérebro começa a trabalhar em outro nível. Isso é o que revelam diversos estudos: o ser humano também precisa de silêncio para criar novas conexões e células cerebrais.

O tema é, sem dúvidas, muito interessante. Todos nós, de algum modo, sabemos que desfrutar de um momento de silêncio escolhido é um ato de grande poder terapêutico. Dizemos “escolhido” porque, se existe algo que também foi demostrado por várias experiências, é que submeter o ser humano a um estado de completo isolamento e silêncio rigoroso durante dias ou semanas costuma ter os seus efeitos colaterais.

“O princípio da sabedoria é o silêncio”.
– Pitágoras –

Nós, como humanos, somos seres sociais e precisamos da interação e dos entornos carregados de estímulos para viver, para crescer. Pois bem, do mesmo jeito que nós precisamos desses cenários cheios de diálogos, de música e do ruído da sociabilidade, nosso cérebro também pede seus instantes de silêncio. E isso não é um capricho, é um princípio fisiológico, como o ato de comer ou dormir.

Na verdade poderíamos dizer, quase sem medo de errar, que nos diferentes níveis da pirâmide de necessidades de Maslow, o silêncio deveria estar entre os seus elos mais básicos.

O cérebro humano

Cinco minutos de silêncio e seu cérebro muda

É verdade que cinco minutos de silêncio podem ter tantos benefícios? A realidade é que sim, e esta não é uma opinião nossa, nem de nenhum guru de crescimento pessoal. Este fato foi revelado por um estudo publicado na revista “Brain, Structure and Function”. A neurociência do silêncio na era do barulho está obtendo cada vez mais peso e relevância, até um ponto em que, progressivamente, se prolifera bastante o turismo orientado a facilitar o contato das pessoas com esta dimensão.

Os famosos “retiros de silêncio” já são combinados com pacotes turísticos em países como a Finlândia, lugares que dispõem de entornos ideais para que nós possamos abraçar completamente essa quietude, essa ausência de barulho, sons e urbanidade. Pois bem, antes de nos deixarmos levar por estas propostas, é conveniente aplicar a lógica. Não é necessário ir muito longe para dar esse presente ao nosso cérebro.

O silêncio nos ajuda a desenvolver novas células cerebrais

Vivemos em um mundo saturado de decibéis. A televisão, os nossos grupos de música favoritos tocando nos headphones enquanto andamos pela rua, o trânsito, as conversas, o fundo musical nas lojas e no supermercado, etc. Vivemos em cidades onde o silêncio não existe, onde o som rege a vida e o nosso consumo.

Pois bem, se fôssemos capazes de desfrutar de cinco minutos de completo silêncio por dia, aconteceriam várias coisas. Uma delas é que se desenvolveriam novas células no hipocampo. Esta área cerebral se relaciona com a nossa memória e as emoções. A segunda coisa é que estas células permitiriam que nós pensássemos com mais clareza e nos conectássemos melhor com o nosso entorno e com nós mesmos.

Conexões neuronais

Melhora a nossa sensibilidade e empatia

Este dado é interessante. Como já sabemos, existem muitas áreas do cérebro associadas com a sensibilidade emocional e a empatia. Portanto, quando estas áreas estão danificadas, ou têm uma interconexão escassa, a nossa empatia é reduzida. Além disso, nos tornamos mais lentos na hora de tomar decisões, e mostramos menos interesse por aquilo que acontece ao nosso redor.

Desfrutar de instantes de paz ou nos permitir cinco minutos de silêncio por dia melhora a atividade do giro supramarginal direito do nosso cérebro. Como consequência, a capacidade de nos emocionarmos e termos empatia com os outros é potencializada.

Menos estresse, melhores decisões

Quando o nosso entorno tem uma carga excessiva de barulho, a amígdala cerebral se ativa. Esta pequena estrutura é como se fosse o nosso detector de perigos e ameaças. É ela que interpreta se existe um risco ao nosso redor e se devemos fugir. Então, por mais normais que possam parecer os barulhos fortes ou, inclusive, um simples ruído de trânsito, para esta área cerebral trata-se de algo do qual devemos nos defender. Por isso, ela gera uma resposta de estresse ao estimular a liberação de cortisol.

Deste modo, já podemos intuir o que cinco minutos de silêncio podem nos proporcionar. Isso é o que nos revela um estudo publicado na revista American Psychological Association: o silêncio não é só um modo excelente de reduzir o estresse. Graças a ele, nós liberamos a serotonina, as endorfinas, a oxitocina, etc.

Além disso, ele melhora a nossa sensação de bem-estar e, com isso, nos sentimos mais seguros e concentrados na hora de tomar decisões. Também não podemos deixar de lado o seu efeito positivo nos processos cognitivos. A memória se fortalece, focamos melhor a atenção, processamos a informação de maneira mais rápida e, além disso, a consciência é “acordada”. Nós nos sentimos mais conectados ao presente e preparados para o que pode acontecer.

Homem em pedra observando o mar

Para concluir, assim como disse Friedrich Nietzche, “O caminho para todas as coisas grandes passa pelo silêncio”. Permitamo-nos, portanto, transitar pelo silêncio com mais frequência. Aprendamos a desligar, de vez em quando, o botão dos nossos mundos exteriores agitados para dar um passeio necessário pelos nossos universos internos. Quando tivermos saído deles, não seremos mais os mesmos.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.