A compaixão como forma de terapia

A compaixão como forma de terapia
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

A palavra compaixão foi desvalorizada. Atualmente ela está associada com caridade ou pena, assim como acontece com a palavra “autocompaixão”, que traz à mente a ideia de vitimismo. Nada mais distante da essência desses conceitos, os quais, longe de promover uma visão diminuída do outro ou de si mesmo, exaltam essas visões. Por isso hoje queremos falar sobre a compaixão como forma de terapia.

Essa terapia, como o próprio nome indica, é um tipo de intervenção terapêutica que enxerga na compaixão uma forma de melhorar a situação de muitas pessoas que sofrem. Ela é especialmente indicada para pessoas que são muito críticas consigo mesmas e com os outros.

O mais interessante dessa inovadora terapia é que a sua eficácia foi cientificamente medida em laboratório. Foi demonstrado que a compaixão pode ser aprendida e praticada. Também se verificou que, ao fazer isso, nosso cérebro muda e melhora. Tudo indica que ter compaixão aumenta a serenidade, a alegria e a motivação nas diferentes áreas da vida.

“Todo amor verdadeiro é compaixão e todo amor que não for compaixão é egoísmo.”
-Arthur Schopenhauer-

Um experimento sobre a compaixão como forma de terapia

O experimento foi realizado no Center for Investigating Healthy Minds da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. Depois foi publicado na revista Psychological Science. Os responsáveis pelo estudo separaram um grupo de voluntários e promoveram o treinamento em um tipo de meditação chamada “meditação compassiva” ou “Tonglen”.

Esse tipo de meditação utiliza uma técnica baseada na identificação e na compreensão da dor nos outros seres humanos. Essa técnica é combinada com exercícios de respiração. Ao inspirar, se visualiza o sofrimento de outras pessoas e se interioriza. Ao exalar, se visualiza e se irradia o bem-estar dos outros.

A compaixão como forma de terapia

No experimento foi pedido que os participantes imaginassem um momento no qual alguém estivesse sofrendo e desejassem eliminar a dor. Eles podiam ajudar com frases como “que você consiga ficar livre da dor”, “que você consiga ser feliz” e outras do mesmo tipo. Primeiro, eles realizaram esse exercício pensando em entes queridos e, depois, em pessoas desconhecidas. Por fim, eles deveriam fazer isso com alguém com quem tivessem algum conflito.

Os pesquisadores monitoraram os cérebros dos participantes por meio de uma ressonância magnética funcional. Isso foi feito antes e depois do treinamento. Desse modo, pôde ser comprovado que houve mudanças cerebrais nos voluntários. Mais particularmente, houve um aumento da atividade no córtex parietal inferior e em outras áreas. Isso tornou evidente que a empatia, a compaixão e a bondade podem ser desenvolvidas, como um músculo.

A compaixão e o bem-estar individual

É comum que uma pessoa extremamente crítica com as outras pessoas também o seja consigo mesma; o contrário também acontece. São casos nos quais o indivíduo se foca exageradamente no seu ego. Isso o impede de sentir compaixão pelas outras pessoas, mas também por si mesmo. O indivíduo sofre muito por isso. Há um orgulho desmedido que impede de sentir a vida a partir de de uma perspectiva relaxada e positiva. Então cada acontecimento se transforma em uma batalha na qual o importante é prevalecer.

A terapia focada na compaixão exercita a habilidade de sentir o sofrimento dos outros e desejar o seu restabelecimento. Da mesma maneira, mostra que esse exercício deve ser aplicado também e, principalmente, em si mesmo. Ter autocompaixão não é sentir pena de si mesmo nem chorar por se sentir inferior, ou até mesmo impotente. Trata-se de aprender a não nos culparmos pelos nossos erros, nossas falhas ou nossos equívocos; de não nos julgarmos duramente com a vantagem de conhecer o resultado.

Dedos sustentando passarinho

Os orientais praticam a compaixão consigo mesmos e com os outros há milhares de anos. A compaixão como forma de terapia retoma princípios budistas, mas também elementos da neurociência. No experimento já mencionado, foi comprovado também que ao exercitar a compaixão o cérebro ativa a liberação de oxitocina, o chamado “hormônio da felicidade”. Também ocorrem mudanças no lobo da ínsula, no hipocampo e na hipófise. Isso gera uma maior sensação de tranquilidade, segurança e bem-estar.

Há muitas mensagens no mundo atual que nos incitam a agir em função da competência e do sucesso. Isso se transformou em um enorme peso para muitas pessoas. É algo que eventualmente pode derrotar o indivíduo e o levar a sentir ansiedade e depressão. A compaixão como forma de terapia é um chamado para recuperar a bondade como o maior valor humano, e entende que essa bondade deve começar no tratamento que cada pessoa dá a si mesma.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.