A aventura de conhecer o desenvolvimento cognitivo infantil através dos olhos de Piaget

A aventura de conhecer o desenvolvimento cognitivo infantil através dos olhos de Piaget
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Jean Piaget é uma das grandes referências no estudo do desenvolvimento cognitivo infantil. Ele dedicou sua vida ao estudo da infância, inclusive estudou seus próprios filhos para desvendar o segredo do desenvolvimento. Ele também é conhecido, juntamente com Lev Vygotsky, como um dos pais do construtivismo.

Uma das teorias mais famosas de Jean Piaget é sua divisão do desenvolvimento cognitivo infantil em quatro estágios diferenciados. Com isso, Piaget buscava uma teoria que explicasse o desenvolvimento geral da criança. No entanto,  hoje em dia sabemos que ele ignora muitos aspectos para podermos considerá-la como uma teoria do desenvolvimento geral; mesmo assim, esta classificação é um guia útil para entender como desenvolvemos nossa capacidade lógico-aritmética na infância.

Os estágios do desenvolvimento cognitivo infantil

Muitos psicólogos pensavam que o desenvolvimento era dado por um fenômeno cumulativo, onde se vão gerando novas condutas e processos cognitivos. No entanto, Piaget, depois de seus estudos, formulou uma teoria do desenvolvimento baseada em saltos qualitativos, onde a criança iria acumulando capacidades, mas, mais cedo ou mais tarde, essa acumulação mudaria seu modo de pensar de forma qualitativa.

Piaget dividiu esse desenvolvimento cognitivo infantil em três estágios com uma série de subestágios, e mais tarde acabou por ampliar para quatro. Esses quatro estágios são: (a) estágio sensório-motor, (b) estágio pré-operatório, (c) estágio de operações concretas e (d) estágio de operações formais.

Período sensório-motor

Este estágio é anterior ao aparecimento da linguagem e se estende desde o nascimento até os dois anos, aproximadamente. Este período é caracterizado pela capacidade de reflexão da criança. A vida dela neste período se baseia em relacionar sua capacidade perceptiva com a motora. Em sua mente existem unicamente conceitos práticos, como saber o que fazer para comer ou para chamar a atenção de sua mãe.

Pouco a pouco, ao longo deste período, a criança vai generalizando os eventos de seu entorno e vai criando esquemas de como o mundo funciona. Devido à interseção dos esquemas, o bebê desenvolve a permanência do objeto, entende que os objetos existem como entidades alheias a ele. Antes de implementar essa ideia em seus esquemas, se a criança não pode ver, ouvir e tocar um objeto, ele ou ela pensaria que não existe.

O final desta etapa é marcado pelo aparecimento da linguagem. A linguagem significa uma mudança profunda nas capacidades cognitivas da criança. Normalmente ela vem acompanhada pela função semiótica: a capacidade de representação dos conceitos através do pensamento. A criança deixaria de ter uma mente puramente prática para passar a ter uma mente que age também a nível representativo.

Estágio pré-operatório

Esta etapa pode ser localizada entre os dois anos e os sete. Aqui estamos em um período de transição em que a criança começa a trabalhar com sua capacidade semiótica. Apesar de já ter alcançado um nível de representação, sua mente ainda difere bastante da de um adulto. Aqui nos encontramos com um pensamento “egocêntrico”.

A criança é “egocêntrica” porque seu pensamento está totalmente centrado em si mesma. Ela é incapaz de distinguir o físico do psíquico, e o objetivo do subjetivo. Para ela, sua vivência subjetiva é a realidade objetiva que existe da mesma forma para todos os indivíduos; isto nos mostra uma falta da teoria da mente. A partir dos quatro anos a criança começaria a abandonar esse egocentrismo para desenvolver a teoria da mente.

Crianças conversando na escola

Neste estágio também vemos problemas na criança para entender que o universo é mutante. Ela é capaz de entender estados, mas não a transformação da matéria. Um exemplo é quando ensinamos a uma criança que está nesse estágio que temos um copo cheio de água e depois trocamos a água para um copo mais estreito, mas mais alto. A criança pensará que há mais água do que antes: ela é incapaz de entender que transformar algo não muda a quantidade de matéria existente.

Estágio de operações concretas

Este período se estende entre os sete anos e os 11 ou 12. Nesta etapa a criança já conseguiu abandonar a confiança plena que tinha nos sentidos. Aqui podemos ver o desenvolvimento de uma série de conceitos, como que as transformações de forma não alteram a quantidade de matéria.

A criança começa a construir uma lógica de classes e relações alheia aos dados perceptivos. Ela entende as transformações e será capaz de compreender que podem ocorrer em sentido inverso (adicionar em vez de tirar, por exemplo). E um aspecto importante é que a criança será capaz de realizar estas operações ao representá-las em sua mente, sem ter que realizá-las com objetos presentes.

Embora controle operações e lógica, a criança nesta idade só pode realizá-las com objetos específicos que sabe como se comportam. Ela é incapaz de teorizar sobre o que não conhece ou sai do seu conhecimento perceptivo. Essa capacidade será alcançada na próxima etapa.

Estágio de operações formais

Este é o último estágio do desenvolvimento em que a criança se transformará em um adulto a nível cognitivo. Este estágio é caracterizado pela aquisição do pensamento científico. A criança, além de poder raciocinar sobre o real, também pode raciocinar sobre o que é possível.

Criança feliz em campo de lavanda

Este período é caracterizado pela capacidade de analisar hipóteses e de examinar as possíveis consequências dessas possibilidades hipotéticas. A criança aperfeiçoou muito seus procedimentos de teste e não aceita opiniões sem as examinar.

A partir deste momento, a criança começará a adquirir novos conhecimentos e instrumentos intelectuais. Estes permitirão que ela se desenvolva como um adulto competente dentro da sociedade. No entanto, a partir deste momento ela já não sofrerá nenhum outro salto qualitativo: ela poderá ser mais rápida ou mais precisa na hora de suas operações mentais, mas irá pensar da mesma forma.

Agora que conhecemos a teoria do desenvolvimento cognitivo infantil de Piaget, você acredita que as crianças se desenvolvem através destas etapas ou acha que essa teoria fica aquém na hora de explicar o desenvolvimento humano por completo?


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