Eduquemos pessoas, não gêneros

Eduquemos pessoas, não gêneros

Última atualização: 06 abril, 2017

Você vestiria seu filho de cor-de-rosa para ir à escola? Você deixaria o seu filho brincar com bonecas ou fazer aula de balé? Você apoiaria a sua filha se ela quisesse jogar rúgbi? E se a sua filha quisesse fazer aulas de mecânica ou usar cabelo curto? Para muitas pessoas estas perguntas são fáceis de responder de forma teórica, mas continuam pensando que tomara que seus filhos não sejam assim. A definição dos gêneros é tão frágil que uma cor, uma dança, um esporte ou a roupa podem mudá-la?

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Para muitas pessoas sim, especialmente quando se trata dos meninos. Com o avanço do feminismo, certos comportamentos, antes apenas pertencentes aos homens, são completamente normais agora nas mulheres. Votar, usar calças compridas ou trabalhar já é considerado uma coisa normal para a mulher, embora ainda sejam necessários mais avanços.

No entanto, o fato de homens fazerem coisas “de mulheres” continua sendo mal visto. Por acaso as condutas consideradas de mulheres são inferiores? Ou a própria mulher é inferior e querer ser como elas é um desprestígio? O que tem de ruim em se comportar como uma mulher? O que aconteceria se deixássemos de sexualizar a vida de nossos filhos?

“O fato das meninas terem feito coisas de meninos na história recente da humanidade (vestir calças, fumar, essa coisa maluca de trabalhar) tem sido visto como um avanço. Fazer as coisas dos homens é uma aspiração. Vamos tentar fazer com que fazer coisas de mulheres também seja visto como um avanço dos homens. E para isso, talvez tenhamos que começar dizendo para os meninos que dançar, usar cor-de-rosa, e mostrar suas emoções e fragilidades sem medo de minar sua masculinidade é ótimo”
-Henrique Peinado-

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As crianças não entendem de gêneros

Muitas vezes não percebemos que as crianças só querem ser felizes. Que eles se divertem com uma infinidade de coisas, brincadeiras, cores ou roupas, mas que não associam a isto algum significado. As crianças não entendem de gêneros, só de coisas que gostam. Somos nós, os adultos, os que estamos tirando essas coisas delas, porque somos nós que as vemos com outro significado.

“Há alguns dias meu filho de dois anos escolheu na farmácia uma escova de dentes rosa para levar para casa. Uma escova rosa, de fato, que tinha que substituir outra escova rosa que estava usando, porque obviamente ele adora essa cor. Quando fui pagar, a funcionária lhe perguntou: “É para você ou para sua irmãzinha?” Ao saber que era para ele, adicionou: “E você não prefere esta amarela?” A mãe da criança, com uma cara suficientemente explicativa do que estava acontecendo, olhou para a funcionária e disse: ‘Não, o menino escolheu a rosa e está bem assim'”.
-Quique Peinado-

Situações como as que descreve Quique Peinado acontecem todos os dias, e somos nós, os adultos, os responsáveis. Estes meninos crescerão pensando que o rosa em um menino é algo ruim, e inclusive pensarão que fazer coisas de meninas é algo ruim. Mas, o que tem de ruim nisso?

Nós ficamos grávidas e damos à luz, mas o menino precisa ser cuidado por ambos. Ambos damos de comer a ele, trocamos suas fraldas ou o levamos para passear. Então por que as meninas brincam com bonecas para aprender sobre a maternidade e eles não podem? Será que não estamos ensinando a elas que só as mães são as que se encarregam do cuidado dos filhos?

Mas não é só com as bonecas que temos estas ideias. Parece que expressar emoções é coisa de meninas e não percebemos que estamos privando nossos filhos de uma parte de si mesmos. Dizemos aos meninos que são guerreiros e fortes e que precisam lutar, que chorar é coisa de “menininha”. Será que assim não estamos ensinando a eles que ter emoções é ruim? Ou o que é pior, será que não estamos dizendo que ser eles mesmos é ruim?

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Nossos filhos podem ser o que quiserem

Gostamos de pensar que, na atual sociedade, com todos os avanços que houve em questão de igualdade, nossos filhos, tanto meninos quanto meninas, poderão ser o que quiserem quando crescerem, mas os educamos com estereótipos de gênero. Uma prova está nos catálogos de brinquedos do Natal.

Exceto poucas exceções, quando começamos a pensar nos presentes de nossos filhos no Natal, poderemos ver onde eles irão chegar se continuarmos educando-os como agora. Para as meninas existem bonecas e brinquedos que emulam o cuidado do lar. Para meninos, em vez disso, carros ou brinquedos de construção.

Então, as meninas só podem aspirar serem mães e donas de casa, e os homens a trabalhar fora do lar? Se continuarmos lhes dizendo que dançar e ter bonecas são coisas de meninas, ou que o futebol é de macho e os brinquedos de construção coisas de meninos, a resposta é um sim redondo. Se os deixarmos escolher com liberdade e sem julgar suas escolhas, então poderão ser o que quiserem.

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A educação sem gêneros depende de nós

A luta de sexos, do que é o correto para uma menino ou para uma menina, como vimos, continua estando na ordem do dia. Mas a boa notícia é que depende de nós, os adultos, fazer com que isto mude. Nós temos a chave dos adultos do futuro.

Como pais ou educadores ou adultos em geral, precisamos entender que a educação sem sexos, sem estereótipos de gênero, depende de nós. Precisamos deixar que nossos filhos escolham com total liberdade o que quiserem e educá-los para que respeitem os outros nas suas escolhas, porque não existem coisas de menina ou de meninos, mas sim coisas que são sadias e divertidas para todas as crianças. Eduquemos pessoas, não gêneros.


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