Efeito espectador: quando ninguém ajuda uma pessoa em perigo

Efeito espectador: quando ninguém ajuda uma pessoa em perigo
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Há vários anos uma jovem foi esfaqueada em uma região residencial de Nova York. A jovem morreu fruto dos ferimentos que a faca causou. Ainda que isso não costume acontecer com frequência, a notícia recebeu pouca atenção por parte dos meios de comunicação. Porém, pouco depois o chamado ‘efeito espectador’ monopolizou toda a atenção da imprensa.

O que tinha acontecido? Bom, a outra face desse caso é que pelo menos 38 testemunhas haviam presenciado o assassinado e ninguém agiu para tentar evitá-lo. O delinquente demorou mais de meia hora para matar a jovem, conhecida como Kitty Genovese. O que é realmente surpreendente neste caso é que ninguém ajudou a jovem. Nenhuma das 38 testemunhas sequer chamou a polícia. Todos observaram, mas ninguém ajudou.

Ao buscar os motivos dessa falta de ajuda, falou-se de “moral decadente”, “desumanização causada por um ambiente urbano”, “alienação” e “desespero existencial”. Porém, havia outros fatores envolvidos que tinham sido ignorados.

Este caso ilustra claramente o fenômeno denominado “efeito espectador”. O efeito espectador ou difusão da responsabilidade faz referência a aqueles casos nos quais os indivíduos que são testemunhas de um crime não oferecem nenhuma forma de ajuda à vítima quando há outras pessoas presentes.

Este fenômeno foi amplamente estudado pela psicologia social. Outra forma de defini-lo é que é um fenômeno psicológico pelo qual é menos provável que alguém intervenha em uma situação de emergência quando há mais pessoas do que quando se está só.

Multidão reunida

Por que ninguém ajudou Kitty Genovese?

Uma pessoa que é testemunha de uma situação de emergência, como o caso de um esfaqueamento ou assassinato, está em conflito. Existem normas éticas e morais para ajudar a vítima. Porém, também existem medos racionais e irracionais sobre o que poderia acontecer com a pessoa que ajuda.

Por trás de tudo isso se encontra o medo de lesões físicas, a participação em processos policiais, a vergonha pública e outros perigos desconhecidos. Em determinadas circunstâncias, as normas que favorecem a intervenção podem se enfraquecer.

Um fator que contribui para isso é encontrado na presença de outros espectadores. No caso da jovem Kitty Genovese, cada espectador sabia que havia mais gente observando aquele terrível crime. Porém, ninguém sabia como os outros estavam reagindo.

Assim, a responsabilidade de ajudar se dilui entre todos os observadores. Reparte-se a culpa potencial por não intervir, e inclusive é possível que pensem que alguém já havia ajudado a vítima, ainda que não tivessem visto.

O efeito espectador

O efeito espectador não acontece na presença de uma única pessoa

Se acontece uma emergência e só há um espectador presente, então a ajuda só pode vir dessa pessoa. Claro, ele poderia optar por não ajudar, mas qualquer pressão para intervir se concentra unicamente nele. Porém, quando há vários espectadores presentes, as pressões para intervir são compartilhadas entre todos. Como resultado, ninguém ajuda.

Outra possibilidade é de que a culpa potencial poderia ser compartilhada entre todos os observadores. Existem evidências contrárias ao fato de que o comportamento do indivíduo está separado de considerações de punição ou recompensa pessoal.

É razoável assumir que, em circunstâncias nas quais a responsabilidade é de um grupo de pessoas, a punição ou a culpa individual é leve ou inexistente. Ou seja, “todos poderiam ter agido, por isso eu não tenho culpa nenhuma por não ter feito nada”.

Pessoa sentada sozinha na rua

Talvez alguém já tenha ajudado sem sabermos

Imaginemos que há outras pessoas presentes na situação de emergência, mas seu comportamento não pode ser observado. Então, qualquer um deles poderia supor que um dos outros já está tomando as rédeas do assunto e ajudando.

Isso também dilui a responsabilidade, porque a intervenção da pessoa que observa poderia ser redundante ou inclusive prejudicial. Portanto, em uma situação em que existam espectadores cujo comportamento não pode ser observado, outro espectador pode racionalizar sua falta de ação porque “alguém deve estar solucionando o problema”.

Quanto mais pessoas observarem a emergência, menos provável é que alguém ajude

Estes dados nos levam a criar a hipótese de que, quanto mais espectadores observarem uma emergência, é menos provável que qualquer um deles ofereça ajuda. O efeito espectador é cruel, mas é uma realidade.

Para comprovar esta hipótese seria preciso criar uma situação de emergência artificialmente. Nenhuma pessoa poderia ter comunicação com as outras, para evitar ter informação sobre o seu comportamento.

Finalmente, este experimento deveria permitir avaliar a velocidade e frequência de reação das pessoas na emergência. Existem experimentos com estas condições que confirmaram a hipótese criada.

O efeito espectador pode ser observado em diversas situações da vida cotidiana. Infelizmente, na atualidade algo muito comum é o fenômeno do bullying escolarPor que ninguém ajuda a criança que é importunada ou agredida? Essa teoria poderia explicar isso, ao menos em parte, já que um dos fatores que perpetua esse comportamento é o silêncio dos observadores.

Crianças brigando com outras assistindo

Também podemos ver o efeito espectador em muitas empresas ou organizações. É comum que existam injustiças salariais ou de condições de trabalho, e o efeito espectador também poderia explicar por que ninguém faz nada para remediar isso.

Como vemos, o conceito do efeito espectador começou a surgir como raiz do assassinado de Kitty Genovese. As pessoas não ajudam em situações de emergência ou são menos propensas a ajudar caso muitos presenciem o acontecimento.

A responsabilidade se dilui entre todos os espectadores e, infelizmente, há vários fatores que explicam este fenômeno. Quando agimos como parte da massa social, é difícil conseguirmos mudar.

Referências bibliográficas

  • Clay Lindgren, Henry. Introducción a la psicología social. Trillas, 2003.
  • Papalia, Dianne. Psicología. México, Mc Graw-Hill, 2003.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.