Efeitos colaterais de castigar as crianças

Efeitos colaterais de castigar as crianças
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Quando proibimos nosso filho de ir ao show de seu cantor favorito ou de usar o computador durante alguns dias por causa de suas ações, estamos tentando penalizar seu mau comportamento. Isto é, castigar as crianças procura suprimir uma série de ações indesejadas. Suas principais vantagens são duas. Por um lado, tem um efeito muito rápido e, por outro, elimina comportamentos inadequados e reorganiza os desejados.

No entanto, castigar as crianças produz uma série de efeitos colaterais posteriores que muitas vezes não são percebidos pelos adultos. Essa série de reações, principalmente de natureza emocional e comportamental, nos faz pensar que talvez o castigo não seja a melhor maneira de acabar ou reduzir a frequência do mau comportamento.

Castigo positivo

Essa técnica de controle é usada para suprimir certos comportamentos indesejados. Em particular, vamos nos concentrar no que é conhecido como punição positiva. Ou seja, na entrega de um estímulo aversivo, entendido como aquele que tem consequências desagradáveis ​​para quem o recebe.

Um exemplo desse tipo de condicionamento poderia ser quando uma criança morde as unhas continuamente e um produto muito amargo é aplicado para que pare de fazer isso. Assim, toda vez que colocar os dedos na boca, terá uma sensação desagradável. Se repetir muitas vezes, acabará abandonando o hábito para não sofrer com o sabor amargo.

Pai brigando com sua filha

A eficácia de castigar as crianças

Para que o corretivo seja o mais eficaz possível, é necessário levar em conta uma série de variáveis:

  • Intensidade: a relação entre um castigo intenso e sua eficácia é direta.
  • Duração: se o castigo se estende no tempo, parece ter maior eficácia.
  • Contiguidade: o fato do castigo ocorrer imediatamente após a atitude ou comportamento que deve ser eliminado. Se a aplicação do estímulo aversivo for demorada, a eficácia diminui.
  • Contingência: não deve ser retirado até que o mau comportamento cesse. Se este deixar de ser punido antes de ter desaparecido completamente, haverá uma recuperação a curto prazo e muito rápida do comportamento. Quando as crianças nos testam com perguntas como “me tira do castigo?”, você tem que saber dizer “não”.
  • Estimular a experiência: se a punição é nova para a criança, ela tem um efeito muito mais pronunciado do que se é familiar.
  • Alternativa: é importante que o indivíduo tenha uma resposta alternativa substituta ao castigo.

Além disso, a criança deve reparar, tanto quanto possível, o dano que causou com seu comportamento. Por exemplo, se uma criança está brincando em casa com a bola, quando seus pais lhe disseram para não fazer isso e, sem querer, ela quebra um vaso, deve limpar, varrer os cacos e pegar todos os pedaços de cerâmica.

Desvantagens do castigo

Os resultados do comportamentalismo instrumental (resposta – consequência) são muito úteis na prática. As pessoas agem guiadas por motivações e interesses, tendendo a repetir comportamentos ou atitudes pelos quais recebem uma recompensa. No entanto, quando essa filosofia é transferida para a aprendizagem das crianças, a punição nem sempre é a maneira mais conveniente de educar. Falaremos sobre algumas de suas desvantagens a seguir.

Respostas emocionais

O estado emocional de uma pessoa que acaba de ser castigada é, em geral, bastante frustrante. Está associado a pensamentos negativos contra a pessoa que o administra e gera um sentimento de impotência. Por isso, podem ser produzidas uma série de respostas emocionais, tais como choros, gritos, chutes, birras… e até mesmo comportamentos agressivos. E não apenas dirigidos à pessoa que administrou a punição, mas também aos demais que se encontram presentes.

Menino triste colocado de castigo

Estímulos-sinal

A pessoa que administra a punição e outros estímulos ambientais podem se tornar desagradáveis ​​para a criança, se transformando em sinais de aviso de que uma consequência desagradável está se aproximando. Portanto, o comportamento punido não aparecerá em sua presença, mas sim em sua ausência. Esse efeito colateral é o protótipo do comportamento na sala de aula: as crianças se comportam mal quando não há um professor na sala de aula e param de fazer bagunça no momento em que alguém entra na sala.

Substituição por outros comportamentos inadequados

Castigar as crianças também pode promover a substituição do comportamento penalizado por outros igualmente indesejáveis. É por isso que é tão importante aplicar a sanção junto com uma alternativa para que a criança possa saber o que está certo e o que está sendo punido. Embora castigar sirva para eliminar comportamentos, sua aplicação provoca comportamentos de fuga e evitação das próprias consequências do mesmo.

“Não” ao castigo físico

A pessoa que aplica o ensinamento pode se exaltar. É claro que, se a punição é física e envolve o uso de um tapa ou chinelada, o efeito é duplamente negativo. Não apenas porque é punível por lei, mas porque os pais são modelos para seus filhos e o exemplo que está sendo dado para a criança ao bater nela é terrível. Os pequenos aprendem tudo o que lhes é ensinado, incluindo os maus hábitos e os comportamentos errados, embora sejam corretivos e tenham a finalidade de corrigir seu comportamento.

Moderação e disciplina

Quando existem várias respostas possíveis, e uma é a indesejável que se quer reprimir, é possível recompensar o desempenho de qualquer uma das outras respostas, se forem incompatíveis com a realização da indesejável. Este método conhecido como reforço diferencial de outros comportamentos (RDO), geralmente fornece melhores resultados a longo prazo do que o castigo da resposta indesejável.

Pai dando a mão para sua filha

É importante não educar as crianças em uma troca constante de recompensas ou proibições, porque não vão aprender a dar valor a serem disciplinadas. Ou seja, eles não farão os deveres de casa porque consideram útil para o futuro, mas porque sabem que assim poderão sair no fim de semana com seus amigos. Isso pode até dar resultados, mas esses terão uma boa dose de motivação extrínseca, memorizando sem aprender e buscando apenas o prêmio.

Em consequência, o castigo deve ser aplicado com cuidado e com moderação, pois o excesso pode tornar a criança um ser antissocial.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.