As emoções compartilhadas nas redes sociais são contagiosas

No universo da internet e das redes sociais, as emoções negativas tendem a ter um impacto maior do que as positivas. Este fenômeno explica por que muitos tabloides e publicações carregadas de ódio viralizam rapidamente.
As emoções compartilhadas nas redes sociais são contagiosas
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

Quando alguém expressa a sua raiva em relação a algo ou alguém em sua conta do Facebook, Twitter ou Instagram, sua publicação raramente passa despercebida. Instantaneamente, aparecem curtidas, retuítes e comentários. Muitas das emoções compartilhadas nas redes sociais são contagiosas e agem quase como uma onda de choque neste universo digital de alto impacto cotidiano.

Isso é algo que muitos de nós já comprovamos em algum momento. Às vezes, é quase impossível não prestarmos atenção naquela publicação que nos informa sobre um desastre natural, a situação complicada de uma figura conhecida ou aquele tweet que viralizou e que tanto nos emocionou. Tudo isso nos mostra duas coisas. A primeira é que nesta realidade dominada pela tecnologia, o emocional continua tendo uma grande força.

A segunda é que as emoções expressadas por outras pessoas (mesmo que não as conheçamos) nos afetam. A irritação é contagiosa, a raiva pode se espalhar com um clique e, muitas vezes, até mesmo o medo passa de um para outro por meio de comentários e notícias que podem ser baseadas na falsidade. São situações altamente complexas que vale a pena analisar.

Notificações no celular

As emoções compartilhadas nas redes sociais são contagiosas, mas algumas são mais contagiosas do que outras

Em 2014, o Facebook conduziu um experimento para analisar o impacto das emoções nas redes sociais. Por alguns meses, quase um milhão de contas serviram como cobaias para o grande conglomerado de tecnologia de Mark Zuckeberg.

O trabalho consistia em eliminar notícias positivas dos feeds de alguns usuários por alguns meses. Enquanto isso, em outro grupo, eles fizeram o oposto. Nem uma única notícia ou informação negativa ou preocupante apareceu. Os resultados observados foram marcantes e decisivos. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e revelou o seguinte:

  • Quando os usuários eram expostos a uma grande quantidade de conteúdo negativo em seus feeds de notícias, o seu comportamento nas redes mudava. Eles faziam menos postagens positivas e a sua interação diminuía.
  • No entanto, aqueles que recebiam conteúdos motivacionais, positivos e esperançosos aumentavam a sua interação, postavam mais fotos e interagiam mais com os outros usuários.

Esses dados foram úteis para entender algo essencial em qualquer estratégia de marketing. Qualquer empresa que tenha um objetivo digital deve saber que as emoções compartilhadas nas redes sociais são contagiosas. Se queremos influenciar, é preciso criar um clima adequado para o público.

No mundo digital, as emoções intensas têm um maior impacto e são mais compartilhadas

Sabemos que as emoções compartilhadas nas redes sociais têm poder. No entanto, em que momento elas se tornam contagiosas para que as informações se tornem virais? Sem dúvida, este é o aspecto mais interessante e decisivo.

A Dra. Rosanna Guadagno, da Universidade do Texas, conduziu uma pesquisa que apoiou uma hipótese popular. Quanto mais intensa a resposta emocional gerada por um conteúdo, mais ele é compartilhado. Agora, que implicações essa ideia tem sobre a realidade?

  • Isso significa que quando nos deparamos, por exemplo, com notícias muito sensacionalistas, o impacto é maior e não hesitaremos em divulgá-las imediatamente.
  • Além disso, as postagens com maior carga de ódio atraem mais atenção e recebem mais comentários.
  • Já para o lado oposto, os dados não poderiam ser mais interessantes. Quando falamos de conteúdos positivos, aparecem aqueles vídeos/notícias que despertam a ternura em nós. Daí, por exemplo, o sucesso dos vídeos de animais em nossas redes.

As emoções compartilhadas nas redes sociais são, muitas vezes, baseadas no sensacionalismo

Não estamos errados quando dizemos que boa parte das emoções compartilhadas nas redes sociais por meio de informações virais são negativas. Ou seja, conteúdos carregados de alarmismo, sensacionalismo, medo ou mesmo ódio têm uma trajetória mais longa nos universos digitais.

Isso é algo que preocupa e convida à reflexão. Por que as informações negativas chamam mais a nossa atenção, antes de um comentário positivo? A psicologia evolucionista nos lembra de uma associação importante: o cérebro é especialmente sensível a estímulos perigosos ou ameaçadores.

Sabemos que as emoções são compartilhadas nas redes sociais, mas o problema é que muitas vezes nos permitimos ser sequestrados por elas. A mente racional não coloca filtros, não contrastamos ou refletimos sobre as informações que chegam até nós. Isso faz com que essa informação emocional nos faça agir por impulso e acabemos compartilhando, por exemplo, uma informação falsa.

Sorriso fingido

As redes sociais e o envolvimento emocional

As redes sociais já atuam como esse engajamento diário (envolvimento emocional) para grande parte dos usuários. Não apenas nos deixamos contagiar, mas também contagiamos estados emocionais e sentimentos. Em muitos casos, há quem desbloqueie o celular e acesse o Facebook, Twitter, Instagram ou Tik Tok apenas para experimentar sensações, para sentir uma “onda” de adrenalina com os likes recebidos.

Além disso, descobrir o que outros publicaram e ser surpreendido por um sorriso, uma crítica, uma raiva, uma notícia promissora… A Internet também é um indutor emocional para algumas pessoas quando a realidade se torna asséptica e vazia de estímulos. Este é, certamente, um problema instigante que nos convida à reflexão.


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  • Guadagno, R. E., Jones, N. M., Kimbrough, A. M., & Mattu, A. (2016). Translating social media psychological research. Translational Issues in Psychological Science, 2(3), 213-215. http://dx.doi.org/10.1037/tps0000087
  • Kramer, Adam & Guillory, Jamie & Hancock, Jeffrey. (2014). Experimental Evidence of Massive-Scale Emotional Contagion Through Social Networks. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 111. 10.1073/pnas.1320040111.

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