As feridas emocionais estimulam a criatividade

As feridas emocionais estimulam a criatividade

Última atualização: 03 novembro, 2022

Compreender a complexidade da vida pode ser um caminho particularmente frutífero para o bem-estar psicológico. Abraçar a dor e as emoções consideradas negativas em geral, vendo-as como parte fundamental de nossa existência, é uma característica inerente da criatividade.

Nas últimas décadas, a sociedade ocidental teve como uma de suas características mais importantes a aversão à dor em quase qualquer uma das suas manifestações. Em uma cultura que nos habituou ao consumo imediato e à satisfação instantânea, emoções como a tristeza, a raiva, o desânimo ou a frustração não têm vez.

Essas emoções são identificadas como alterações disfuncionais, que nos tiram dos circuitos da produção e do consumo. Quando não renunciamos à dor, mas a incluímos como um elemento que nos constitui e nos forma, se inicia e se expressa a criação. 

Quais emoções nos fazem ser mais criativos?

Ao longo da história, foram muitos os artistas e cientistas que apontaram que, nos momentos de menor felicidade de suas vidas, experimentaram os maiores níveis de criatividade.

A neurociência lançou alguma luz sobre as conexões que abrem as portas da criatividade. Um estudo dirigido pelo doutor Roger Beaty aponta que as pessoas com maiores níveis criativos apresentam uma maior conexão entre duas áreas do cérebro que não costumam estar muito em sincronia.

A partir dessa pesquisa, também ficou evidente que as pessoas que possuem um maior compromisso, isto é, gente aberta a se aprofundar nas suas emoções, estão mais abertas a inspiração; sendo esse um indicador mais confiável da criatividade que do nível intelectual.

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Outros estudos descobriram que quando os indivíduos se encontram em ambientes incomuns nos quais se contrapõem emoções, a criatividade aumenta. Isso acontece graças ao cérebro, que se vê obrigado a realizar associações que em situações normais nunca realizaria.

Quanto às emoções, também foi demonstrado que os estados emocionais positivos podem impulsionar a criatividade, permitindo produzir mais ideias, ainda que não necessariamente mais originais. No caso das emoções negativas, como a tristeza, raiva, melancolia e desilusão, essas ajudam as pessoas a produzirem mais ideias quando a tarefa criativa é considerada interessante. Assim, o indivíduo em um estado de humor negativo encontra no processo criativo um remédio para voltar a um estado emocional neutro ou positivo.

Educação emocional e criatividade

Sir Ken Robinson é um educador, escritor e especialista em assuntos relacionados com a criatividade. Foi nomeado sir pela rainha da Inglaterra por incorporar aulas de arte ao currículo escolar. Ele denunciou na palestra TED mais vista da história que a escola com um planejamento educativo tradicional mata as emoções e a criatividade.

Sua pesquisa mostra como 90% das crianças em idade pré-escolar apresentam altos níveis de pensamento criativo. E no transcorrer dos seus anos de escola, dessas mesmas crianças já com 12 anos, apenas 20% consegue, manter esses níveis de pensamento divergente.

No entanto, a criatividade é, cada vez mais, uma qualidade requerida na sociedade do século XXI. Muitos estudos demonstraram que as características emocionais do indivíduo têm um impacto específico na sua capacidade criativa e artística.

São muitos os processos psicológicos que influenciam a manifestação dessa capacidade, entre eles está a tendência em manter estados de humor positivos. Esses se relacionam com a liberação de dopamina, o que facilita o desenvolvimento flexível da atenção e a capacidade para desenvolver mais perspectivas cognitivas.

Os estados emocionais negativos influenciam a criatividade, mas na direção oposta. Durante a fase da dor e tristeza, o impulso criativo costuma estar relacionado com um tipo de tarefa mais específica e de produção criativa, como a música e a escrita.

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Apesar das emoções estarem relacionadas com a criatividade, estão em um modo que depende muito do tipo de tarefa. Alguns pesquisadores entendem que os estados de humor positivos afetam as fases de percepção e a fase final do processo criativo artístico, enquanto que os negativos afetariam as primeiras fases de preparação, incubação e idealização.


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