Martin Seligman e a psicologia positiva

Martin Seligman e a psicologia positiva
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 14 dezembro, 2021

Martin Seligman, um dos pioneiros da psicologia positiva, explica que a felicidade nem sempre depende do nosso status social, da nossa religião ou da beleza física. A felicidade é, na verdade, uma combinação única do que ele chamou de “pontos fortes distintos”, como o sentimento de humanidade, a temperança, a persistência e a capacidade de levar uma vida significativa. A psicologia positiva é a área da psicologia que estuda os fundamentos da felicidade e do bem-estar, sustentados pelos pontos fortes e pelas virtudes humanas.

Falar de Martin Seligman é falar de uma nova era na psicologia. Foi nos anos 1990 quando, sendo presidente da Associação Americana de Psicologia (APA), ele deu uma palestra para apontar algo que considerava importante: a psicologia precisava dar um novo passo. Era necessário estudar, a partir do ponto de vista científico, tudo que faz o ser humano feliz. Dessa forma, a psicologia poderia ajudar as pessoas a construírem uma realidade mais satisfatória.

“A vida impõe os mesmos reveses e tragédias tanto para o otimista quanto para o pessimista, mas o otimista consegue enfrentá-los com mais tranquilidade”.
– Martin Seligman –

Até o momento, grande parte dos estudos psicológicos se concentravam em abordar as doenças mentais e os seus tratamentos. Na verdade, o próprio Seligman é mais conhecido pelo seu trabalho sobre o “desamparo aprendido”.

No entanto, como sempre ocorre em algum momento das nossas vidas, algo nos obriga a refletir profundamente sobre nós mesmos. Foi o que aconteceu com o pai da psicologia positiva, e ele nos conta sua experiência no livro “Optimistic Child”.

Uma manhã, sua filha Nikki, de 6 anos, brincava no jardim. A menina gritava e corria de um lado para outro, cheia de entusiasmo e vitalidade. No entanto, fazia tanto barulho que o seu pai, Martin Seligman, não conseguia se concentrar no seu trabalho. Ele não conseguiu evitar, acabou gritando e pedindo que ela se calasse.

Depois disso, a menina, com uma maturidade incomum para a sua idade, lhe disse que sentia vontade de gritar e chorar. Que aquela “bronca” recebida fez com que ela quisesse chorar como quando era mais nova, no entanto, não iria ceder. Ela sabia que já não era mais um bebê e, portanto, iria se controlar.

Ela lhe disse também que, assim como ela havia aprendido a controlar o choro, ele também deveria controlar o seu mau humor. Dessa forma, os dois “seriam um pouco mais adultos”. Esse pequeno discurso da sua filha mudou a vida de Martin Seligman.

Martin Seligman

Martin Seligman e a psicologia positiva

Martin Seligman foi o pioneiro da Psicologia Positiva, no entanto, podemos dizer que esse termo foi criado na época por Abraham Maslow. Maslow formulou as suas teorias de forma muito intuitiva e praticamente sem nenhuma evidência empírica e metodológica. Portanto, deixou esse interessante legado nas mãos de uma nova geração de psicólogos que, desde os anos 90, são uma referência no campo do estudo da felicidade.

Esses psicólogos que coletaram o testemunho de Maslow, como o próprio Seligman, Ed Diener e Mihaly Csikszentmihalyi , se aprofundaram no estudo das emoções positivas de um ponto de vista científico e rigoroso, averiguando os processos, as dinâmicas e as situações que podem afetar mais a nossa saúde, o desempenho e a satisfação geral com a vida. Além disso, algo que Martin Seligman enfatizou na época é que esses estudos deviam ter como objetivo ensinar as pessoas a serem mais felizes.

Baseando-se nas noções de felicidade enunciadas por Confúcio, Mêncio e Aristóteles, juntamente com as teorias modernas sobre a motivação, ele concluiu que a felicidade pode ser construída trabalhando três dimensões muito específicas que são as seguintes:

Mulher feliz e plena em sua vida

1. Uma vida prazerosa

Talvez ao ouvir o termo “prazer” nos venha à mente um conceito bastante hedonista, como uma vida orientada para o simples prazer e sem maiores aspirações. Não é o que Martin Seligman quer dizer sobre a construção da felicidade.

  • Uma vida agradável consiste em saber cultivar as emoções positivas e que elas sejam duradouras.
  • Para conseguir isso, é necessário satisfazer, antes de mais nada, as nossas necessidades básicas, aquelas que estão nos primeiros degraus da pirâmide de Maslow: alimentação, segurança, relacionamentos, reconhecimento…
  • Da mesma forma, é importante encontrar um equilíbrio entre o nosso passado, nosso presente e o futuro. Para encontrar esse equilíbrio, Seligman propõe o seguinte:
    • Devemos agradecer e saber como perdoar o que aconteceu no passado.
    • É necessário saber lidar com as emoções negativas do presente, desenvolver uma atenção plena e encontrar novas formas de ser feliz no aqui e agora.
    • Olhar para o futuro com esperança e otimismo.

2. Construa uma vida boa

Desfrutar de uma vida boa, na realidade, não é tão fácil como podemos imaginar. A felicidade nem sempre é sinônimo de riqueza, poder ou sucesso social. É saber alcançar o nosso potencial humano máximo e desenvolvê-lo para nos sentirmos mais completos, mais livres, mais felizes…

Martin Seligman criou um sistema de classificação dos pontos fortes humanos juntamente com o Dr. Christopher Peterson, especialista no campo da esperança e do otimismo. O objetivo desse sistema era determinar precisamente aquelas dimensões que deveríamos trabalhar diariamente para melhorar o nosso potencial. São as seguintes:

Virtudes humanas

  1. Sabedoria e conhecimento
  2. Coragem
  3. Amor e humanidade
  4. Justiça
  5. Temperança
  6. Espiritualidade e transcendência

Pontos fortes pessoais

  • Sabedoria e conhecimento

Curiosidade e interesse pelo mundo.
Amor pelo conhecimento e aprendizagem.
Julgamento, pensamento crítico, mente aberta.
Engenhosidade, originalidade, inteligência prática.
Perspectiva.

  • Coragem

Valentia.
Perseverança e esforço.
Integridade, honestidade, autenticidade.
Vitalidade e paixão

  • Humanidade

Amor, apego, capacidade de amar e ser amado.
Simpatia, gentileza, generosidade.
Inteligência emocional, pessoal e social.
Justiça.
Cidadania, civismo, lealdade, trabalho em equipe.
Sentido de justiça, igualdade
Liderança.

  • Moderação

Capacidade de perdoar, misericórdia.
Modéstia, humildade.
Prudência, discrição, cautela.
Autocontrole, autorregulação.

  • Transcendência

Apreciação da beleza e excelência, capacidade de se surpreender.
Gratidão.
Esperança, otimismo, projeção para o futuro.
Senso do humor.
Espiritualidade, fé, sentido religioso.

A psicologia não se concentra apenas nos comportamentos pouco saudáveis. Também ajuda na educação, no trabalho, no casamento e até nos esportes. Os psicólogos trabalham para ajudar as pessoas a desenvolverem pontos fortes em todas as áreas”.
– Martin Seligman –

3. Uma vida significativa

A vida significativa tem uma conexão íntima com o pico da pirâmide de Abraham Maslow, onde dirigimos as nossas próprias virtudes e pontos fortes para contribuir com a felicidade dos outros. Falamos sem dúvida sobre o altruísmo, essa dimensão que Martin Seligman definiu como o exercício da bondade, como a arte de sabermos nos elevar mais além do mero prazer pessoal para nos colocarmos a serviço daqueles que nos rodeiam.

Para concluir, atualmente a psicologia positiva continua tendo um lugar importante e ao mesmo tempo inspirador na nossa sociedade. No entanto, pode-se dizer que esta abordagem não está isenta de críticas. Não faltam opiniões contrárias lembrando a Seligman que a realidade é muito complexa para se “encaixar” nessa visão de felicidade. Rotulá-la como “positiva” implica entender as emoções como a tristeza, a raiva ou frustração como dinâmicas “negativas”, negando o seu potencial de transformação.

Seja como for, a figura de Martin Seligman é atualmente uma das mais eminentes no mundo da psicologia, e seu último livro “Homo Prospectus” provou isto mais uma vez.


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