Maternidade: um terremoto na alma

Maternidade: um terremoto na alma

Última atualização: 29 agosto, 2017

Atualmente há muitas informações que nos aproximam da realidade de ser mãe. No entanto, poucas falam a partir de um enfoque realista sobre a crise em que uma mulher pode mergulhar com a maternidade.

Laura Gutman aborda este tema em seu livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”. Esta psicoterapeuta explica como as mulheres entram em contato com suas “sombras” a partir da chegada dos filhos.

“Uma mulher pode sentir que sua estrutura interna, seu equilíbrio e sua estabilidade emocional se rompem completamente quando ela enfrenta a maternidade”.

O que chamamos de “sombras”?

O termo “sombra” é usado e difundido por C. F. Jung. Este conceito abrange mais do que o famoso “inconsciente” difundido por S. Freud. Se refere às partes desconhecidas de nossa psique e mundo espiritual.

O universo inteiro tem seu par oposto: dia e noite, masculino e feminino, positivo e negativo, luz e sombra… Nosso mundo psíquico também é formado por sua parte luminosa e obscura. Nós não vemos o que está na obscuridade, mas isso não significa que não exista.

As “sombras” se desenvolvem desde a infância. Desde pequenos vamos construindo nossa estrutura de personalidade e nosso ego. Às vezes, há sentimentos e acontecimentos dolorosos que não podemos digerir emocionalmente e que decidimos esquecer. Nós “lhes damos as costas” para continuar no caminho da vida. Esses aspectos não resolvidos e às vezes inconscientes são nossas “sombras”.

“Se não realizarmos o exercício da sinceridade para questionar nossos aspectos mais ocultos, sofredores ou dolorosos, eles procurarão se esgueirar nos momentos menos oportunos de nossa existência”.
-Robert Bly-

O que acontece com a mulher com a chegada da maternidade?

Independentemente da nossa idade, a criança que fomos continua vivendo dentro de nós. Às vezes para nos ajudar a aproveitar e para nos divertirmos, e outras vezes para nos conectar com a parte mais vulnerável de nós mesmos, com nossos medos mais primários, com nossas memórias e talvez com aquilo que nos faltava.

A maternidade nos sacode de tal forma que descobre todas as nossas deficiências ou feridas emocionais. A maternidade nos devolve nossas experiências com a mãe, com o pai, com as pessoas que nos criaram e nos alimentaram emocionalmente… Nos retorna as memórias mais emotivas da nossa infância. Aquelas memórias, talvez dolorosas, que tinham sido enterradas até agora.

Já na gravidez, se desperta essa memória infantil. Neste momento, começam a surgir conflitos antigos, feridas que reabriram. E toda essa explosão emocional coexiste com as mudanças fisiológicas, hormonais e energéticas características desse período.

Nestes casos, é normal que a mulher sinta confusão, tristeza, angústia… e muitas vezes decida ir ao médico. Frequentemente acontece que se realiza um diagnóstico, às vezes equivocado, de “depressão” ou “depressão pós-parto”. Isso geralmente envolve uma prescrição automática de remédios que bloqueiam o pensamento e as emoções. Nesse sentido, deve-se levar em conta que a medicação pode proporcionar um alívio temporário, mas se não houver um trabalho psicoterapêutico, as feridas voltarão a ser enterradas sem serem curadas.

Como passar pelo caminho da cura?

Devemos considerar que muitos aspectos ocultos da psique feminina são revelados e ativados com a maternidade. Normalmente é um momento de revelação, de crise… É necessário ressaltar que pode chegar a ser um processo para o qual se recomenda ajuda e apoio psicoterapêutico.

Nesse sentido, pensamos que tornar consciente o inconsciente nos faz crescer e amadurecer. Fazer com que a dor seja consciente, movê-la e levá-la à luz é o caminho certo para curá-la, para que não se volte contra nós nos momentos em que somos mais frágeis.

“Transitar e superar a dor faz com que você desenvolva aspectos de seu ser que antes permaneciam adormecidos, te dá a visão e a segurança daqueles que aprenderam a navegar em fortes ondas”.

Por outro lado, para recuperar e fortalecer a autoestima, é necessário curar as feridas emocionais acumuladas desde a nossa infância. Ou seja, encontrar e curar nossa criança interior. É assim que se dissolvem padrões que foram criados para compensar e lidar com a dor, realizando um processo de reintegração da personalidade. Desta forma se possibilita a cura, favorecendo uma maternidade e uma vida mais saudável, equilibrada e feliz.

“Esta é a tarefa de cada ser humano: atravessar a vida terrena em busca de sua própria sombra, para levá-la à luz e caminhar o próprio caminho de cura”.
-Laura Gutman-


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