O modelo das cinco grandes personalidades

O modelo das cinco grandes personalidades
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O modelo das Big Five, ou modelo OCEAN, é uma das maneiras mais famosas de estruturar a personalidade. É usado para realizar uma infinidade de estudos. Agora, o que é exatamente o modelo das cinco grandes personalidades?

Este modelo é baseado no fato de que a personalidade pode ser dividida em 5 características independentes entre si. Essas características são: extroversão, neuroticismo, empatia, abertura e escrupulosidade. Conhecer os valores que um indivíduo tem em cada uma delas permite conhecer sua personalidade.

Para alcançar uma melhor compreensão do modelo, é importante considerar dois aspectos. O primeiro é saber a que se referem e como cada uma das características é descrita, e o segundo, conhecer as críticas feitas ao mesmo. Vamos nos aprofundar.

Características do modelo das cinco grandes personalidades

Extroversão

Por meio desse traço, avalia-se a disposição do indivíduo em relação às interações pessoais, ou seja, o nível de atividade e o estímulo que a pessoa tem quando se relaciona com os outros. Também está intimamente relacionado ao grau de prazer ou aproveitamento que se adquire através das relações sociais.

Pontuações altas nos dizem que estamos diante de indivíduos sociáveis, falantes, orientados para as pessoas, otimistas, amantes da diversão ou afetuosos. Por outro lado, pontuações baixas indicariam indivíduos reservados, sóbrios, não eufóricos, calmos ou retraídos.

Amigos se divertindo

Neuroticismo

Com o neuroticismo, o que procuramos avaliar é o ajuste emocional vs. a instabilidade emocional. Esta característica identifica indivíduos com tendência a sofrimento psicológico, ideias irrealistas, ruminação excessiva ou ansiedade e respostas de enfrentamento mal adaptativas.

Uma pontuação alta no neuroticismo seria um indicador de pessoas preocupadas, nervosas, emocionais, inseguras ou hipocondríacas. Pelo contrário, aqueles indivíduos com baixa pontuação seriam caracterizados por ser relaxados, seguros, resilientes, satisfeitos ou com alta autoestima.

Empatia

Essa característica é útil para conhecer a qualidade da orientação interpessoal. A empatia é apresentada ao longo de um contínuo, que varia desde a compaixão até o antagonismo nos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Ou seja, tem a ver com até que ponto o indivíduo é capaz ou não de se colocar no lugar do outro e agir de acordo com suas emoções e preocupações.

Se um indivíduo tiver uma pontuação alta em empatia, ele será compassivo, afável, confiante, atencioso, não rancoroso, ingênuo ou franco. Por outro lado, uma pontuação baixa nos mostra uma pessoa cínica, rude, desconfiada, competitiva, vingativa, implacável, irritável ou manipuladora.

Abertura para experiências

Esse traço avalia até que ponto um indivíduo realiza uma busca ativa por novas experiências e desfruta de atividades pouco rotineiras. Basicamente, é responsável por medir a tolerância e a exploração de situações não familiares.

Uma alta pontuação nessa característica nos mostra pessoas curiosas, com interesses amplos, criativas, originais, imaginativas ou não tradicionais. Em contraste, se a pontuação for baixa, estaremos diante de pessoas convencionais, pragmáticas, realistas ou com poucos interesses.

Escrupulosidade ou meticulosidade

É responsável por avaliar o grau de organização, persistência e motivação para o comportamento direcionado a objetivos. Diferencia as pessoas entre aquelas que se dedicam para que o resultado de seu trabalho seja ótimo e perfeito e aquelas que não se importam com os resultados de seu desempenho.

Quando houver uma pontuação alta, estaremos diante de indivíduos organizados, formais, trabalhadores, pontuais, ordenados, ambiciosos ou perseverantes. Aqueles que tiverem pontuações baixas serão caracterizados como pessoas sem objetivos, informais, preguiçosos, descuidados, indisciplinados e com pouca vontade.

Mulher trabalhando no computador

Crítica ao modelo das cinco grandes personalidades

Embora o modelo das Cinco Grandes Personalidades seja amplamente usado em psicologia, é necessário ser cuidadoso com ele. A personalidade é uma construção difícil de medir e envolve uma série de dificuldades metodológicas. Portanto, o modelo das Big Five pode ter algumas falhas.

A primeira delas é que, para medir os diferentes traços de personalidade, a autoinformação geralmente é usada. A autoinformação é um tipo de teste em que o sujeito dá as respostas explicitamente. Isso faz com que seja fácil mentir e responder de acordo com a conveniência social.

Outro erro possível é a existência de vieses quando o sujeito está se julgando. A partir dos estudos da psicologia social, sabemos que existem muitos preconceitos que fazem com que nos avaliemos de forma mais positiva do que os outros. No modelo das cinco grandes personalidades, quando medidas por meio de uma autoinformação, as respostas tendem a ter pouca objetividade.

Possivelmente, a maior falha que esse modelo pode ter é que ele se baseia no estudo da personalidade como um traço. É uma abordagem muito internalista e esquece a possível interação do indivíduo com o ambiente. Isso cria um modelo rígido, segundo o qual a personalidade permanece estável em todas as situações. No entanto, estudos sugerem que a personalidade é algo instável e é criada através de uma forte interação entre o indivíduo e seu contexto.

No entanto, e apesar de seus erros, esse modelo pode ter alguma utilidade em contextos estáveis e levando em conta suas limitações. Inclusive, pode chegar a ter outras utilidades, como medir o autoconceito de uma pessoa. Afinal, é um modelo muito interessante, com dados estatísticos que garantem sua confiabilidade, desde que seja utilizado com um certo cuidado.


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