Neuroeducação: uma mudança nos modelos educativos tradicionais

Neuroeducação: uma mudança nos modelos educativos tradicionais
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Crianças que estão entediadas, crianças que têm dislexia, discalculia ou déficit de atenção… As necessidades educativas dos alunos são imensas, mas a resposta que costumam obter nas instituições de ensino é tão limitada quanto homogênea. É uma prioridade abrir caminho para uma nova etapa. A neuroeducação pode auxiliar a desenvolver essa nova abordagem e esse contexto psicológico tão necessário nos casos como os citados anteriormente.

Não é preciso nenhum estudo para perceber o seguinte aspecto. O termo “neuro” tem aparecido com mais frequência em quase qualquer contexto. O neuromarketing, a neurofelicidade, a neurocriatividade e a própria neuroeducação nos situam em um cenário novo e interessante. Chegou a hora de conhecer o ser humano de forma mais aprofundada. É o momento ideal para entender como pensamos, como aprendemos, como sentimos e como tomamos decisões.

“A alma está no cérebro”.
-Eduard Punset-

Esse conhecimento transcende muitos dos esquemas com os quais lidamos atualmente. É mergulhar na estrutura sináptica, coordenada por uma série de processos cerebrais, para entender, por exemplo, que nem todas as crianças aprendem no mesmo ritmo. Também existem estruturas que podem amadurecer mais tarde. Por isso, muitos alunos têm dificuldade para assimilar as habilidades de leitura e escrita.

Não podemos pressionar uma criança a aprender alguma coisa se ela ainda não está em condições de fazer isso. Essa pressão gera frustração, medo e afastamento. Exatamente o contrário do que deveria ser a própria aprendizagem: um processo que tem como base a alegria, a curiosidade e a motivação.

Criança lendo livro no parque

Neuroeducação, um novo modelo educativo

A ciência está descobrindo aspectos excepcionais sobre a aprendizagem e a memória que ainda não foram incorporados aos programas escolares. Há uma clara disparidade entre o que a neurociência pondera sobre o desenvolvimento do cérebro infantil e juvenil e aquilo que se pode observar no dia a dia nas aulas.

Continuamos empenhados em habilitar por igual as crianças no domínio de certas competências, em não fugir das metodologias tradicionais, em destacar o erro, em chamar a atenção do aluno que se distrai, do aluno que não consegue, que não é bom em matemática, que troca as letras quando tenta compreender um texto…

Todas as habilidades humanas, incluindo a própria aprendizagem, não reagem aos nossos impulsos. Não é uma questão de atitude. É o resultado da nossa atividade cerebral. Portanto, se fôssemos capazes de entender como nosso cérebro funciona, seríamos mais competentes na hora de organizar uma aula, na hora de preparar um material, de planejar um projeto educativo.

Qual é a finalidade da neuroeducação?

A educação tradicional apresenta muitas limitações. Temos bons professores e excelentes mestres, mas alguma coisa está errada. A educação precisa de uma melhor base científica para entender em profundidade os elementos-chave do desenvolvimento cognitivo. O objetivo da neuroeducação, portanto, é estabelecer uma base científica real no ensino e na aprendizagem.

Isso implica integrar em nossos modelos educativos as recentes descobertas da neurociência, da psicologia e da ciência cognitiva. Somente assim poderemos moldar uma educação mais sensível, inclusiva e válida. No entanto, para isso, devemos deixar de lado alguns mitos. Como aqueles que afirmavam que só utilizamos 10% da nossa capacidade cerebral ou que temos um hemisfério artístico e outro matemático.

A neuroeducação

Como a neuroeducação pode ser aplicada em sala de aula?

Embora seja verdade que ainda há muito a descobrir no âmbito da neuroeducação, pode-se dizer que já podemos observar certos progressos. As políticas educacionais estão mudando e vão mudar mais ainda com o tempo.

Os progressos em matéria de educação especial também estão aparecendo pouco a pouco, e tudo isso nos apresenta um belo horizonte. No entanto, ainda precisamos de um maior envolvimento dos agentes sociais e, em especial, das políticas educacionais.

Portanto, vamos ver a seguir como a neuroeducação deveria ser aplicada na sala de aula.

Melhor identificação das necessidades individuais

Crianças que têm dificuldades de aprendizagem, alunos com dislexia, com altas capacidades intelectuais… A rápida identificação nos permitirá aplicar estratégias mais adequadas para otimizar a aprendizagem dos alunos.

Ambiente de aprendizagens positivas e estimulantes

A aprendizagem deve ser positiva e deve se dar em um ambiente divertido e estimulante. Algo desse tipo exige que sejamos capazes de criar novos ambientes, com professores envolvidos e hábeis na hora de propor desafios aos alunos sem que o rigor acadêmico se perca.

Equipes de aprendizagem

As crianças retêm melhor a informação quando trabalham em grupos pequenos. Essas equipes formadas por diferentes alunos fazem com que a aprendizagem seja mais dinâmica e que as descobertas se transformem em informações significativas. Dessa forma, também se estimula a cooperação, o respeito, etc.

Crianças brincando na escola

Transmitir à criança as descobertas da neuroeducação

O aluno também deve entender como aprende. E mais, os neurologistas afirmam que não há nada mais positivo do que ensinar aos pequenos “funções executivas”. Ou seja, oferecer-lhes orientações para que saibam, por exemplo, como funciona a atenção, como reconhecer suas emoções, saber identificar quando estão irritados, cansados, tristes…

Ao mesmo tempo, seria ideal que aprendessem a regular essas emoções para aprender a se controlar e se conectar melhor com as tarefas. 

Acompanhamento cognitivo e instrução individualizada

Esse aspecto, sem dúvida, é um dos mais complicados para colocar em prática. Precisaríamos de professores treinados nessa área, pessoas capazes de intuir, por exemplo, qual via de aprendizagem é mais adequada para cada criança: cinestésica, auditiva, visual, etc.

Ao mesmo tempo, também é uma prioridade saber como o aluno evolui em questão de atenção, inferência da informação, resolução de problemas, motivação, criatividade, etc. Somente assim poderíamos projetar estratégias mais adequadas para que cada criança seja capaz de atingir todo o seu potencial.

Mudanças nos horários escolares

De acordo com a neuroeducação, seria essencial fazer uma mudança em relação aos horários escolares. Foram realizados estudos que demonstram, por exemplo, que seria mais adequado que os recessos fossem mais curtos. A escola deveria funcionar o ano todo, mas estabelecendo recessos frequentes (por exemplo, a cada três semanas, teríamos um descanso de uma semana).

Ao mesmo tempo, seria necessário realizar uma mudança de horário nas aulas do ensino fundamental e médio. O ideal seria que as aulas começassem entre as 10h30 e as 11h. De acordo com a neurociência, os adolescentes precisam dormir mais horas e seus cérebros ainda não estão receptivos nas primeiras horas da manhã.

Adolescente entediado na escola

Para concluir, à medida que nossa compreensão do cérebro e da aprendizagem for evoluindo, é essencial que todos esses progressos sejam aplicados no campo do ensino. Portanto, temos que acompanhar as evoluções. Não podemos continuar restritos a mecanismos obsoletos que geram alunos sem motivação, crianças frustradas e pais cada vez mais preocupados.

É preciso ousar inovar e, sobretudo, estar em sintonia com o próprio desenvolvimento cerebral das crianças. Somente assim vamos permitir que elas deem o melhor de si. Somente assim teremos alunos verdadeiramente envolvidos em seu próprio processo de aprendizagem.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.