O paradoxo de Easterlin, a felicidade não está no dinheiro

O paradoxo de Easterlin, a felicidade não está no dinheiro
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 21 setembro, 2020

O paradoxo de Easterlin é um desses conceitos que ficam em um ponto intermediário entre a psicologia e a economia, na fronteira entre as duas disciplinas. Por mais estranho que pareça, essas duas ciências se encontram cada vez mais, com alguns pontos em comum. Um deles é a ideia que vincula ter dinheiro e a capacidade de consumo com a felicidade.

Ninguém pode negar a importância do dinheiro. Sempre ouvimos, várias vezes ao longo da vida, que o dinheiro não traz felicidade. Com muita frequência, no entanto, também nos sentimos frustrados por não ter dinheiro suficiente para adquirir algo que desejamos: uma viagem, um curso, um serviço médico de qualidade, etc.

“É necessário ter apetite de pobre para saborear a fortuna do rico”.
-Conde de Rivarol-

O paradoxo de Easterlin vem reforçar precisamente a ideia de que ter dinheiro e ser feliz não são duas realidades que necessariamente se relacionam. O valor que ganhamos influencia muitos aspectos em nossas vidas, mas esta influência é relativa. Vejamos a seguir essa interessante ideia em detalhes.

O paradoxo de Easterlin

O paradoxo de Easterlin foi criado pelo economista Richard Easterlin. A primeira reflexão que ele fez foi a nível global, descrevendo uma realidade que muitos de nós conhecemos: os países que têm habitantes com maior ganho financeiro não são os mais felizes. Além disso, os países com renda menor também não são os mais infelizes.

Desperdiçar dinheiro

Este ponto, respaldado por pesquisas e evidências, contradiz a tão difundida ideia de que quem tem mais dinheiro é mais feliz. A primeira pergunta que surgiu depois disso foi: as pessoas vivenciam uma limitação na sua capacidade para serem felizes depois de alcançarem um certo patamar de renda?

Outro aspecto do paradoxo de Easterlin é o fato de o resultado ser outro se falarmos apenas de um país. Ou seja, se comparamos as diferenças de ganho dentro de cada país, os resultados indicam que as pessoas com um ganho menor são menos felizes, e vice-versa. Como explicar isso?

A relatividade da renda

Para explicar todas essas observações, Easterlin se apropriou de uma metáfora de ninguém menos que Karl Marx. Esse último disse uma vez que, se uma pessoa tem uma casa que satisfaz todas as suas necessidades, já pode se sentir satisfeita. No entanto, se ao lado dessa casa alguém levantar um suntuoso castelo, então a pessoa começará a perceber sua casa como se fosse um casebre.

Como base nisso, Easterlin tirou duas conclusões. A primeira, de que as pessoas que têm ganhos mais altos têm também uma tendência a serem mais felizes. A segunda, de que as pessoas percebem seus ganhos como “altos” dependendo dos ganhos das pessoas que o rodeiam. Isso explicaria a diferença na relação entre felicidade e ganhos dentro e fora dos países.

Portanto, o paradoxo de Easterlin diz que a percepção do nosso bem-estar está condicionada diretamente à comparação que fazemos com as pessoas que nos rodeiam. Em outras palavras, o contexto é determinante para que o ganho financeiro de alguém proporcione felicidade ou não.

Renda ou igualdade?

Richard Estearlin nunca defendeu diretamente que a renda maior ou menor fosse a causa de sentimentos de felicidade ou infelicidade. O que o paradoxo de Estearlin fala é que não necessariamente um maior ganho financeiro gera uma sensação maior de felicidade. Isso depende do contexto no qual essa situação está acontecendo. Disso se desprende uma pergunta: o que gera felicidade ou infelicidade poderia ser, então, a igualdade e a desigualdade, e não tanto a renda financeira em si?

Proteger o dinheiro que ganhamos

Em outras palavras, é possível pensar, a partir do paradoxo de Estearlin, que as grandes diferenças de renda dentro de uma sociedade são fonte de um mal-estar? Em condições de grande desigualdade, estar acima dos demais poderia originar um sentimento de maior satisfação em relação à vida. Pelo contrário, sentir-se abaixo dos outros daria lugar a um sentimento de maior frustração e tristeza.

Nem em um caso nem no outro o assunto tem a ver diretamente com a satisfação das necessidades. Ou seja, pode ser que minha renda me permita viver sem maiores dificuldades, mas se percebo que os outros vivem muito melhor que eu, sentirei que não ganho o suficiente.

Provavelmente é isso que acontece nos países mais ricos. Por mais que a maioria da população tenha suas necessidades satisfeitas, a desigualdade de riquezas que as grandes elites econômicas possuem colocam uma sombra sobre o sentimento de felicidade e satisfação dos demais. Por sua vez, nos países pobres em que a maioria tem um nível baixo de ganhos, talvez seja mais fácil ver a felicidade florescer.


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