Pensamento polarizado, uma distorção cognitiva

O pensamento polarizado age automaticamente e nos leva a generalizar situações sem parar para examiná-las. Aqueles que pensam assim geralmente dizem "tudo dá errado para mim", "eu sempre perco", e outras expressões desse tipo.
Pensamento polarizado, uma distorção cognitiva
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 02 julho, 2020

Vamos dizer primeiro que o pensamento polarizado é uma distorção cognitiva. Isso significa que é um erro de raciocínio em que incorremos sem perceber. Processamos as informações fornecidas pela realidade de maneira equivocada, e isso nos leva a vivenciar algum tipo de perturbação emocional.

As distorções cognitivas foram descritas por Albert Ellis e Aaron Beck. Em geral, são definidas como crenças errôneas que levam a humores disfuncionais, medos irracionais ou tristeza infundada, etc. O pensamento polarizado é um desses tipos de distorção cognitiva.

O que há no pensamento polarizado é uma simplificação extrema da realidade. As coisas são brancas ou pretas, boas ou ruins, etc. Não se consegue ver as nuances que existem entre um extremo e outro. Quem tem esse tipo de distorção sente-se à vontade localizando a realidade em um dos extremos. Por que isso acontece? Como superar isso? Veremos a seguir.

“Generalizar é estar sempre errado”.
-Hermann Keyserling-

As características do pensamento polarizado

A principal característica do pensamento polarizado é a tendência a generalizar e abranger as diferentes realidades sob uma mesma categoria. É por isso que as palavras favoritas para quem pensa assim são as mais categóricas: sempre, nunca, tudo, nada, etc. Eles fazem isso automaticamente. Precisam colocar em qualquer uma dessas caixas qualquer incidente isolado que aparecer em seu caminho.

O mais preocupante é que essas categorias extremas são, em geral, muito negativas, usadas para reiterar a existência de algo ruim. Naqueles que pensam assim, são comuns expressões como “tudo dá errado para mim” ou “sempre acabam se aproveitando de mim”. E raciocínios desse tipo.

Para quem tem um pensamento polarizado, é como se não houvesse nuances ou pontos médios. Constroem boa parte de sua identidade sobre essas classificações convincentes e procuram maneiras de localizar tudo lá. Mesmo que a realidade mostre que estão errados, relutam em abandonar sua radicalização.

Jovem com pensamento polarizado

Por que essa distorção cognitiva aparece?

Em geral, o pensamento polarizado é uma característica daqueles que adotam uma posição de vitimização diante da vida. Ninguém faz isso por querer, por simples capricho. É um bloqueio emocional produto de experiências mal resolvidas. No fundo de tudo existe a ideia de que se experimentou “coisas ruins” que não eram merecidas.

A vítima se assume como um objeto passivo das circunstâncias ou do “destino“, e nega isso. Ela não acredita que tenha qualquer controle sobre os eventos negativos que experimentou, nem sobre a forma como os administrou. Assume que tenha sido um depósito passivo de danos e que não pode fazer nada sobre isso.

Trata-se, então, de um bloqueio do desenvolvimento emocional. Esses tipos de pessoas continuam a se ver como crianças. Não descobriram ferramentas ou adquiriram recursos que podem usar para superar muitas de suas dificuldades. Ao invés disso, projetam suas queixas e adotam o pensamento polarizado como suporte para sua posição existencial.

Superar o pensamento polarizado

Esse tipo de pensamento não é apenas um erro cognitivo, mas implica dificuldades prévias não resolvidas. Superar significa assumir uma nova perspectiva diante de nossa própria história e do que somos agora, do que podemos fazer agora.

Adotar a posição das vítimas das circunstâncias também implica um ganho: nos isenta de responsabilidades. E, é claro, para sairmos dali, basicamente temos que aceitar que somos responsáveis ​​pelo que acontece conosco, mas, acima de tudo, pela maneira como lidamos com isso.

Homem com pensamento polarizado

Uma boa maneira de começar é percebendo esses automatismos. Ligar um alarme toda vez que pronunciarmos palavras categóricas como “nunca”, “sempre”, “tudo”, “nada”, etc. Depois, parar para avaliar quão razoável é a afirmação que estamos fazendo.

Além disso, é importante pensar sobre as situações em que nos sentimos vítimas. Talvez um relacionamento de casal que nos cause desconforto, ou um trabalho que percebemos como excessivamente exigente.

A única opção que temos realmente é aguentar e resistir? Ou, talvez, sabemos que existem outras saídas, mas temos medo de escolhê-las? Talvez o pensamento polarizado seja um indicador de que não estamos nos levando a sério o suficiente. Talvez precisemos de um espaço e de um tempo para pensar sobre o que nos acontece.


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