As pessoas inteligentes são mais suscetíveis à depressão?

As pessoas inteligentes são mais suscetíveis à depressão?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

Será que as pessoas inteligentes são mais suscetíveis à depressão? Elas nem sempre são aquelas que tomam as melhores decisões. Um QI alto não é garantia de sucesso ou certeza de felicidade. Em muitos casos, essas pessoas ficam presas no nó das suas preocupações, no abismo da angústia existencial e no desespero que consome as reservas do otimismo.

Existe uma tendência popular de ver todos esses gênios da arte, da matemática ou da ciência como pessoas mais quietas e tristonhas, como pessoas muito peculiares e com um comportamento diferenciado. Temos como exemplo Hemingway, Emily Dickinson, Virginia Woolf, Edgar Allan Poe e Amadeus Mozart… Mentes geniais, criativas e excepcionais que levaram a sua angústia ao limite do precipício que anunciava a tragédia.

“A inteligência de um indivíduo é medida pela quantidade de incertezas que ele pode suportar”.
 – Immanuel Kant –

No entanto, o que há de real em tudo isso? Existe uma associação direta entre um QI elevado e a depressão? Bem, podemos dizer em primeiro lugar que a inteligência elevada não contribui necessariamente para o desenvolvimento de algum tipo de transtorno mental.

Existe um risco e uma predisposição à preocupação excessiva, à autocrítica e à percepção da realidade de forma muito tendenciosa, tendendo à negatividade. Todos esses fatores contribuem em muitos casos para dar forma à depressão. Agora, é claro que existem exceções. Na nossa sociedade atual temos pessoas brilhantes que aproveitam o seu potencial investindo não só na sua própria qualidade de vida, mas também de toda a sociedade.

No entanto, existem muitos trabalhos, estudos e livros que revelam essa tendência singular, especialmente entre as pessoas que têm um QI acima de 170 pontos.

Homem com barba pensando na depressão

A personalidade das pessoas mais inteligentes

“O cérebro criativo” é um livro muito útil para entender como funciona a mente e o cérebro das pessoas mais inteligentes e criativas. Nele, a neurologista Nancy Andreasen realiza um estudo detalhado demonstrando que há uma tendência bastante significativa dos gênios da nossa sociedade para desenvolverem diferentes distúrbios: transtornos bipolares, depressões, crises de ansiedade e especialmente transtornos do pânico.

O próprio Aristóteles dizia que a inteligência caminha “de mãos dadas” com a melancolia. Gênios como Isaac Newton, Arthur Schopenhauer ou Charles Darwin sofreram momentos de neurose e psicose. Virginia Woolf, Ernest Hemingway e Vincent Van Gogh chegaram ao extremo de acabar com as suas próprias vidas.

Todos eles são pessoas conhecidas, no entanto, na nossa sociedade sempre houve gênios silenciosos, incompreendidos e solitários que habitaram os seus próprios universos pessoais desconectados de uma realidade que lhes parecia caótica, sem sentido e decepcionante.

Estudos que investigaram se pessoas inteligentes são mais suscetíveis à depressão

Sigmund Freud e sua filha Anna Freud estudaram o desenvolvimento de um grupo de crianças com QI superior a 130 e chegaram à conclusão de que aproximadamente 6o% delas acabou desenvolvendo um transtorno de depressão.

Também são conhecidos os trabalhos de Lewis Terman, pioneiro na psicologia educacional no início do século XX. Em 1960, começou um longo estudo com crianças com capacidades elevadas, chamadas de térmites pela equipe do psicólogo. Elas tinham um QI acima de 170 pontos e participaram de uma das experiências mais famosas da história da psicologia. Mas, foi somente a partir de 1990 que começaram a tirar algumas conclusões importantes.

Vincent Van Gogh

Inteligência elevada: uma carga muito pesada

As “térmites”, as crianças de Lewis Terman, que agora são adultos de idade avançada, dizem que a inteligência elevada está associada à uma menor satisfação da vida. Embora muitas delas tenham alcançado fama e uma posição relevante na sociedade, muitas tentaram se suicidar várias vezes ou se entregaram aos vícios, como o alcoolismo.

Outro aspecto significativo que este grupo de pessoas declarou e que também pode ser visto em pessoas com grandes capacidades intelectuais é que eles são muito sensíveis aos problemas do mundo. Não se preocupam apenas com as desigualdades, com a fome ou as guerras. As pessoas muito inteligentes se sentem aborrecidas diante de comportamentos egoístas, irracionais ou sem lógica.

A base emocional e os pontos cegos nas pessoas muito inteligentes

Os especialistas dizem que as pessoas muito inteligentes muitas vezes podem sofrer do transtorno dissociativo de personalidade. Ou seja, elas veem as suas próprias vidas de cima, como o narrador que usa uma voz na terceira pessoa para ver a sua realidade com objetividade, mas sem se sentir totalmente participante dela.

Esta abordagem geralmente apresenta “pontos cegos”, um conceito que tem muito a ver com a Inteligência Emocional e que Daniel Goleman desenvolveu em um livro interessante com o mesmo título. Os pontos cegos são autoenganos, falhas graves na nossa percepção da realidade, dificuldade de aceitar as coisas como elas são.

Homem carregando faixa com frase realista

As pessoas muito inteligentes costumam se concentrar exclusivamente nas deficiências do seu ambiente, nessa humanidade hostil, nesse mundo estranho e egoísta por natureza, onde é impossível se adaptar. Muitas vezes elas não possuem habilidades emocionais adequadas para relativizar, para se encaixar melhor, para encontrar a calma dentro dessa selva exterior e dessa desigualdade que as confunde tanto.

Dessa forma, podemos deduzir que as pessoas muito inteligentes muitas vezes sofrem deficiências graves no aspecto emocional. Isso nos leva, por sua vez, a outra conclusão: ao QI elevado, que é sempre muito valorizado, deve ser adicionado outro fator importante quando se trata de desenvolver testes psicométricos.

Nós estamos falando da “sabedoria”, desse conhecimento vital para desenvolver uma verdadeira satisfação diária, para dar forma a um bom autoconceito, uma autoestima elevada e habilidades adequadas para investir na convivência e na construção de uma felicidade real, simples, mas concreta.


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