Prosopagnosia: Vejo você e lembro de você, mas não reconheço seu rosto

Prosopagnosia: Vejo você e lembro de você, mas não reconheço seu rosto
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A prosopagnosia é uma doença rara que atualmente afeta 2,5% da população e que afeta personalidades bem conhecidas como o ator Brad Pitt, o cofundador da Apple, Steve Wozniak, ou o neurologista recentemente falecido Oliver Sacks. Este transtorno é caracterizado pelo fato de que a pessoa é incapaz de reconhecer os rostos dos outros e até mesmo o seu próprio. Alguma vez vocês já se perguntaram como seriam suas vidas se tivessem essa “cegueira facial”?

Imagine que ao andar com seu cachorro você passa por seu melhor amigo, mas não diz “olá” porque não sabe quem ele é. Pense no momento em que você vai dizer boa noite aos seus filhos, mas não consegue reconhecer seus rostos; ou quando você chega ao escritório e seus colegas de trabalho são “perfeitos estranhos”.

É assim, complicado e difícil, o dia a dia daqueles que têm prosopagnosia e, em muitos casos, sequer sabem que sofrem disso.

Quem é você? E… quem sou eu?

Esse transtorno não só impede o reconhecimento dos familiares mais próximos, amigos e conhecidos pelo rosto, mas pode inclusive alterar a identificação de expressões emocionais e a distinção do sexo da pessoa. Todos os rostos parecem os mesmos, sem distinção.

Pessoas escondendo seus rostos

Por isso, pessoas ao seu redor podem chegar a julgar ou se sentir feridas por não ser capaz de reconhecê-las. De fato, assim confessava o ator Brad Pitt, que por sofrer dessa doença foi muito tachado como arrogante por pessoas muito próximas.

Nos casos mais graves, a pessoa não consegue se reconhecer em um espelho ou nas fotografias onde aparece em um grupo. Isso pode ter consequências muito negativas, não apenas quando se trata de manter relações interpessoais, mas também em seu desempenho profissional e em sua autoestima, causando inclusive depressão.

Alguns acreditam que é um problema de memória

O termo provém do grego prosopon (face) e agnosia (ausência de conhecimento). As pessoas que sofrem com essa doença têm uma boa capacidade visual e podem lembrar e reconhecer a maioria dos objetos razoavelmente bem. Por isso, assim como qualquer pessoa saudável, sabem quem são seus pais, a cor favorita de seus filhos, os gostos de seu cônjuge, o que comeram ontem ou o quão bem seu companheiro de quarto canta.

Portanto, embora as áreas do cérebro que processam os rostos estejam em constante interação com as redes neurais da memória, não é um problema da memória em si. Em vez disso, é uma doença que se refere especificamente aos rostos.

Percebemos um modelo generalizado de rosto

Antes de aprender a falar ou inclusive começar a balbuciar, os bebês já tendem a olhar instintivamente para os rostos. Ao longo do quarto mês de vida eles os processam de maneira claramente definida. Isso ocorre porque os rostos são extremamente informativos: refletem emoções, sentimentos, a identidade, o sexo ou a etnia de uma pessoa.

A pessoa que sofre de prosopagnosia pode identificar as diferentes partes e órgãos do rosto (nariz, olhos, boca …), mas não é capaz de lembrar sua localização exata dentro deste nem de compor a estrutura total do rosto. Não pode converter os elementos faciais em um único padrão de traços e não consegue associar a fisionomia com a identidade de uma pessoa.

Isso ocorre porque os rostos são processados ​​de forma “holística”, ou seja, não identificamos uma pessoa pelos seus olhos ou por sua boca. Precisamente porque somos capazes de obter toda essa informação, podemos integrá-la simultaneamente para criar o modelo generalizado de um rosto.

Máscaras no chão

A solução são as chaves contextuais

No entanto, embora a incapacidade de reconhecer os rostos seja a característica mais notável da prosopagnosia, em alguns casos podem perceber os de pessoas próximas: podem fazer isso sempre que seus rostos se destacam do restante por uma determinada característica. Nesse sentido, eles usam diferentes chaves contextuais e estratégias para evitar possíveis situações embaraçosas e deduzir através desse detalhe característico quem é a pessoa em frente a elas. Por exemplo, olhar a cor do seu cabelo, seus óculos, seu modo de andar, seu tom de pele, alguma cicatriz chamativa, uma mancha ou o calor da sua voz.

Quanto mais notável for a característica da pessoa, mais cedo e melhor poderá saber quem é: uma sobrancelha muito cheia, orelhas muito separadas, óculos verdes fluorescentes ou um perfume penetrante podem ajudar a identificar as pessoas ao seu redor.

É possível nascer com prosopagnosia?

Esta doença pode ter origem congênita, ser hereditária e ir passando de geração em geração, embora não seja o comum. Na maioria dos casos é um transtorno adquirido, cuja principal causa é uma lesão cerebral em ambos os hemisférios provocada por um acidente vascular cerebral, um tumor cerebral ou, em menor medida, por traumatismo craniano ou infecções que afetam o sistema nervoso central, como a encefalite.

A percepção facial envolve uma série de processos cognitivos que estão ligados a diferentes áreas e estruturas cerebrais. No entanto, existe uma região do nosso cérebro que se encarrega especificamente do reconhecimento dos aspectos fixos dos rostos: a área facial fusiforme (FFA). Está localizada no lobo temporal, no giro fusiforme.

Mulher com rosto riscado em azul

Qual é o tratamento?

Atualmente, a prosopagnosia não possui tratamento efetivo. No entanto, os pacientes podem ser treinados no uso dessas chaves contextuais e é recomendável que as pessoas em seu ambiente facilitem ao máximo o seu dia a dia. Por exemplo, lhes dizendo os nomes dos que estão presentes, evitando grandes aglomerações e encontros sociais ou assistindo a filmes nos quais muitos personagens aparecem.

O que você acha dessa doença que, embora não seja muito conhecida, afeta um grande número de pessoas e as torna “cegos faciais”?


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.