Psicologia budista para enfrentar emoções difíceis

Psicologia budista para enfrentar emoções difíceis
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

As situações emocionalmente difíceis e dolorosas fazem parte do ciclo da vida. No entanto, estes tipos de situações costumam fugir do nosso controle ou são consequência direta de nossas decisões ou ações. Por isso, normalmente tendemos a nos fechar em nós mesmos sem saber o que fazer ou como reagir. Este é um dos casos em que a psicologia budista pode nos ajudar.

Para enfrentar qualquer desavença, muitas vezes é o apoio das pessoas ao nosso redor o que nos mantém firmes ou nos ajuda a continuar avançando. Mas, e quando não queremos ou não temos amigos e familiares por perto? É esse o momento em que deveríamos conhecer profundamente os benefícios da psicologia budista.

Surgiu para acabar com o sofrimento humano

Costuma-se considerar o budismo como uma das principais religiões do mundo oriental. Há 2.500 anos esta corrente nasceu como um sistema filosófico e psicológico, sem nenhum tipo de pretensão religiosa. De fato, segundo o ascético Siddharta Gautama, conhecido como Buddha, o budismo é a ciência da mente.

Buddha fundou esta escola com a finalidade de tornar conhecido um método capaz de erradicar nosso sofrimento. Para ele, parte de uma série de postulados e de uma estrutura de pensamento muito útil para entender e aceitar suas emoções.

Psicologia budista

4 verdades nobres da psicologia budista

A psicologia budista parte de uma ideia que, ainda que possa parecer pessimista, é esperançosa: a natureza da vida humana é o sofrimento. A partir daí, ela defende quatro verdades nobres. Estas verdades contêm a maioria dos ensinamentos da psicologia budista e são a base sobre a qual este tipo de meditação se sustenta:

  • O sofrimento existe.
  • O sofrimento tem uma causa.
  • O sofrimento pode acabar, extinguindo sua causa.
  • Para isso, devemos seguir o nobre caminho óctuplo.

Erradicar nosso sofrimento ou “dukkha”

Para poder enfrentar estas situações difíceis e erradicar a dor, Buddha afirma que precisamos conhecer sua origem. E somente quando tivermos estabelecido essa causa poderemos nos libertar de nosso sofrimento. Só assim seremos capazes de ver a inutilidade de nossas preocupações e desânimos.

“10% de nossa vida está relacionada com o que nos acontece, e o 90% restante com a forma como reagimos diante daquilo.”
– Stephen R. Covey –

Segundo a psicologia budista, as pessoas mantêm diversos hábitos que as transformam em ignorantes na vida. Desconhecem quais são os processos e etapas da vida e isso é o que lhes causa sofrimento.

“O dukkha provém do desejo, apego e da ignorância. Mas pode ser vencido.”
– Buddha –

Mulher se olhando no espelho

Os postulados práticos

A última das quatro verdades fala do nobre caminho óctuplo. Um caminho composto por 8 ramos ou postulados práticos que permitem alcançar a harmonia, o equilíbrio e o desenvolvimento da consciência total. Costuma-se representar com a roda do darma, onde cada um dos raios simboliza um elemento do caminho. Estes ramos podem se agrupar, por sua vez, em três grandes categorias:

  • Sabedoria: compreensão e pensamento corretos;
  • Conduta ética: palavra, ação e ocupação corretas;
  • Formação da mente: esforço, atenção consciente e concentração, meditação ou absorvição corretos.

Estes 8 postulados não devem ser interpretados como uma série de passos lineares, mas precisam ser desenvolvidos de forma simultânea, dependendo das capacidades de cada um.

A felicidade incompreendida

Todos queremos ser felizes, mas ninguém está de acordo em como definir a felicidade. Cada pessoa tem uma ideia diferente do que ela é: ascender no trabalho, ter abundância material, ter descendência… esta corrente diz que mesmo quando conseguimos alcançar todas estas metas que nos propomos, não nos sentimos em plenitude.

Quando um de nossos desejos se cumpre, passamos a outro e depois outro. E assim, pouco a pouco vamos mergulhando em um círculo que parece não ter fim. Tudo isso com a falsa esperança de sermos felizes.

Necessidade de nos libertarmos do apego

A psicologia budista considera que os desejos instaurados em nossa mente nos levam ao apego (a pessoas, a bens materiais, a crenças…). É precisamente esta uma das causas de maior sofrimento, porque ao nos apegarmos, nos identificamos com objetos ou pessoas e perdemos a nossa identidade. Nos esquecemos de nós mesmos e das verdadeiras necessidades humanas.

O budismo nos dá ferramentas para trabalharmos o apego e procurarmos o conhecimento. Somente a partir dele poderemos entender o que mais requeremos (desenvolvimento pessoal, vida afetiva harmoniosa…) e nos moveremos na escola da vida com maior consciência.

Ensinamentos budistas

Como parar de sofrer?

Através da meditação. Como vimos, as práticas de reflexão budista pretendem aumentar a compreensão e a sabedoria e erradicar o sofrimento. Ainda que as técnicas, dependendo de cada escola e tradição, variem, todas têm a finalidade comum de alcançar um estado de máxima atenção e tranquilidade.

Estas são as principais correntes do budismo que podem nos ajudar a parar de sofrer naqueles momentos especialmente difíceis emocionalmente:

  • Theravada: define a si mesmo como analista. Por isso quer descobrir os diferentes estados psicológicos ou de meditação para sistematizar a experiência meditativa.
  • Zen: centra-se na espontaneidade e intuição da sabedoria. Sua prática procura uma harmonia natural no indivíduo e quer evitar o dualismo na compreensão da realidade.
  • Tibetano: procura aumentar a compreensão da realidade a níveis profundos. Por isso, foca os mecanismos simbólicos e inconscientes da mente. É a mais simbólica e mágica de todas as tradições budistas.
  • Terra Pura: ressalta a devoção, humildade e gratidão como vias diretas de realização espiritual. É um tipo de meditação devocional onde os mantras são os protagonistas.

Definitivamente, o budismo trata de se relacionar com suas emoções abertamente, de torná-las conscientes, de as designar e as aceitar. Elas são parte da sua existência mas, como tudo, são mutantes, por isso não há necessidade de controlá-las.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.