Queixas subjetivas de memória: quando devemos nos preocupar?

Você já ouviu falar sobre as queixas subjetivas de memória? Explicaremos o que são e se elas são motivo de preocupação a seguir.
Queixas subjetivas de memória: quando devemos nos preocupar?

Escrito por Elena García

Última atualização: 29 julho, 2022

À medida que envelhecemos, tendemos a nos preocupar cada vez mais com nossas funções cognitivas e, especialmente, com a memória. Quem já não pensou: “minha memória não é a mesma de antes”? Quando uma pessoa reclama que tem perdas de memória, falamos em queixas subjetivas de memória, ou QSMs.

A memória é uma função que colocamos à prova diariamente, e justamente por isso – e principalmente quando começamos a sofrer esquecimentos – ela tende a ser frequentemente questionada.

O conceito por trás da sigla QSM, de acordo com Peña (2015), envolve vários fatores:

  • O julgamento da pessoa sobre seu desempenho de memória.
  • A subjetividade dessa performance.
  • O objeto da reclamação – o chamado ‘esquecimento diário’.

Isso significa que as pessoas, em geral, conhecem a sua memória e a sua capacidade, e é por isso que detectam facilmente uma diminuição no desempenho dessa função.

“Não sei quem sou e não sei o que vou perder a seguir.”
-Julianne Moore, Alice Howland –

Idoso preocupado

Essas queixas têm relação com o comprometimento cognitivo leve?

Para alguns autores, como Reid & Maclullich (2006), as QSMs têm um significado clínico devido à sua relação com distúrbios de memória, e também porque representam um risco de declínio cognitivo posterior. Além disso, servem como uma espécie de medida de depressão e personalidade.

Essas queixas, em geral, para serem vistas como critérios diagnósticos, devem ser corroboradas por um familiar ou amigo próximo e expressas diante de um clínico de atenção primária ou especializada, além de ser motivo de preocupação para a pessoa.

Atualmente, as queixas subjetivas de memória são incluídas como critério diagnóstico para o comprometimento cognitivo leve (CCL), de acordo com Petersen et al. (1999), bem como para o distúrbio neurocognitivo menor, conforme indicado no manual do DSM-V.

Critérios de diagnóstico do CCL (Petersen et al., 1999)

  • Perda de memória, relatada pelo paciente ou por um informante confiável.
  • Desempenho de memória inferior ou abaixo da média para a sua idade.
  • Cognição geral normal.
  • Normalidade nas atividades da vida diária.
  • Ausência de critérios diagnósticos para demência.

Critérios de diagnóstico do distúrbio neurocognitivo menor (de acordo com o DSM-V)

  • Evidência de um declínio cognitivo modesto em relação a um nível anterior de desempenho superior, em um ou mais domínios cognitivos.
  • Os déficits cognitivos são insuficientes para interferir na independência, mas pode ser necessário se esforçar mais, usar estratégias compensatórias ou fazer uma acomodação para manter a independência.
  • Os déficits cognitivos não ocorrem exclusivamente no contexto do delirium.
  • Os déficits cognitivos não são atribuíveis à presença de outros transtornos mentais.

Este não é o primeiro momento em que a existência das QSMs foi levada em consideração. Foi Kral, em 1962, que introduziu esse conceito ao se referir ao “esquecimento benigno da velhice”, definido pela dificuldade em se lembrar de aspectos específicos de um episódio que normalmente poderia ser lembrado posteriormente.

Hoje, existem vários estudos que relacionam as queixas subjetivas de memória e o comprometimento cognitivo. Alguns deles sugerem que as pessoas com QSMs têm no cérebro a neuropatologia típica da doença de Alzheimer, antes mesmo de terem sido capazes de verificar sintomas de deterioração cognitiva (Kryscio et al., 2014).

Homem perdendo a memória

Conclusão sobre as queixas subjetivas de memória

Pode-se dizer que não há consenso quando se trata de afirmar se as queixas subjetivas de memória e o CCL têm uma relação, embora o primeiro possa ser um sintoma precoce da segunda condição.

Em qualquer caso, é importante procurar um profissional ao perceber, em nós mesmos ou em terceiros, sintomas que podem estar relacionados a um comprometimento cognitivo leve.

Existem vários testes de triagem com os quais os profissionais da Atenção Básica podem detectar um possível comprometimento cognitivo. Alguns desses testes, que levam à detecção precoce, são:

  • Lobo MEC (Lob0 et al., 1999).
  • Mini-mental (Ram, 2002).
  • Teste Breve de Rendimento Cognitivo ou “Syndrom Kurztest” (Erzigkeit, 1989).
  • Buschke Memory Alteration Screening Test ou B-MIS (Peña-Casanova et al., 2004).

É importante lembrar que, para evitar confusões ou erros, todos esses exames devem ser realizados por profissionais com treinamento adequado para que seja possível obter um diagnóstico confiável.


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  • Casanova Sotolongo, P., Casanova Carrillo, P., & Casanova Carrillo, C. (2004). Deterioro cognitivo en la tercera edad. Revista cubana de medicina general integral20(5-6), 0-0.
  • de León, J. M. R. S., & Pérez, I. M. (2011). Fluidez verbal escrita en el envejecimiento normal con quejas subjetivas de memoria y en el deterioro cognitivo leve. anales de psicología27(2), 360.
  • García-Sevilla, J., Fernández, P. J., Fuentes, L. J., López, J. J., & Moreno, M. J. (2014). Estudio comparativo de dos programas de entrenamiento de la memoria en personas mayores con quejas subjetivas de memoria: un análisis preliminar. Anales de psicología30(1), 337-345.
  • Kryscio, R. J., Abner, E. L., Cooper, G. E., Fardo, D. W., Jicha, G. A., Nelson, P. T., … & Schmitt, F. A. (2014). Self-reported memory complaints: implications from a longitudinal cohort with autopsies. Neurology83(15), 1359-1365.
  • Peña, M. M. (2015). Quejas subjetivas de memoria en el envejecimiento y en adultos jóvenes: variables implicadas(Doctoral dissertation, Universidad Complutense de Madrid).

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