Os personagens que representam o risco na mitologia grega

Os personagens que representam o risco na mitologia grega
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O risco é a magnitude dos danos possíveis associados a uma determinada situação. Em outras palavras, o que poderia acontecer de ruim. Saber o risco que existe ajudará a evitá-lo ou, pelo menos, a estar preparado caso algo aconteça. Seguindo essa abordagem, Klinke e Renn  ilustraram seis personagens que representam diferentes tipos de risco na mitologia grega dos anos 700-500 a.C.

Essas figuras mitológicas representam o desejo do ser humano de ser consciente de si mesmo e de “criar o futuro” em vez de se expor ao critério da sorte e das circunstâncias. Existem seis tipos de riscos diferentes, representados por Dâmocles, Ciclope, Pítia, Pandora, Cassandra e Medusa.

Esses riscos são diferenciados por sua probabilidade de ocorrência, pelos danos que podem causar e pelo que sabemos sobre eles. Vamos vê-los um por um.

Klinke e Renn identificaram seis personagens representando seis tipos de risco na mitologia grega.

Personagens que representam o risco na mitologia grega

Dâmocles

Entre os personagens da mitologia grega, Dâmocles se destaca. Ele era um cortesão de Dionísio. Ele pensava que seu rei era afortunado por dispor de poder e riqueza, o que fazia dele um invejoso e um bajulador de Dionísio. Para tentar lhe dar uma lição, Dionísio ofereceu a Dâmocles trocar de lugar com ele por um dia.

Nesse mesmo dia, foi realizado um banquete em que Dâmocles se encantou ao ser tratado como rei. No entanto, no final da refeição, Dâmocles notou uma espada afiada que pendia sobre a cabeça, amarrada por uma única mecha de pelos de cavalo. De repente, ele perdeu o desejo por delicadezas e luxos, solicitando a Dionísio para deixar o seu posto.

Este mito serve como exemplo da insegurança daqueles que detêm um grande poder. Eles não somente podem perder todo o seu poder, mas também a sua vida. Esse tipo de perigo é o que existe nos tempos de prosperidade.

Suas principais características são uma baixa probabilidade de acontecer e uma quantidade significativa de danos potenciais. Alguns exemplos desse risco são encontrados na energia nuclear ou no impacto de meteoritos. É improvável que eles aconteçam, mas, no caso de acontecerem, seu dano seria muito grande.

Personagem da mitologia grega

Ciclope

Os ciclopes são uma espécie de gigante que tem apenas um olho no meio da testa. Por ter uma visão reduzida, sua percepção da realidade também é reduzida. Este tipo de risco não pode ser estimado bem. Não se sabe quais são suas probabilidades de ocorrência, mas o dano potencial é catastrófico.

Neste tipo de risco, encontramos os terremotos e as erupções vulcânicas, assim como o uso de armas de destruição em massa. Não podemos saber ao certo se acontecerão ou quando acontecerão, mas sabemos que seu dano será impactante.

Pítia

Quando os gregos queriam conhecer o futuro, consultavam seus oráculos. Um dos mais importantes foi o Oráculo de Delfos, cujo porta-voz era a sacerdotisa Pítia. Esta sacerdotisa intoxicava a si mesma com gases para fazer previsões e, assim, alertar sobre o futuro. No entanto, para a infelicidade daqueles que consultavam o oráculo, suas profecias eram sempre ambíguas.

O tipo de risco representado por esta história corresponde a aquele cuja magnitude do dano ou a probabilidade de ocorrência não é conhecida. Um exemplo é encontrado nas mudanças climáticas súbitas ou na exposição a substâncias químicas ou biológicas. Esses riscos, assim como outros relacionados à tecnologia, como os derivados da engenharia genética, são difíceis de estimar .

Pandora

Um dos personagens mais controversos da mitologia grega é Pandora. Ela foi criada pelos deuses como forma de punição depois que Prometeu roubou o fogo para entregá-lo à humanidade.

Pandora era tão bonita que nem os deuses nem os humanos podiam resistir a ela. Assim, os deuses do Olimpo lhe deram seus melhores dons, entre eles a curiosidade, o que a levou a abrir a caixa que continha todos os males do mundo.

Esse risco nos indica que pequenos gestos podem causar grandes desastres. Normalmente, são descobertos quando já é tarde, como os causados ​​no meio ambiente. As características desse tipo de risco são sua alta propagação, sua persistência ao longo do tempo e a irreversibilidade. Um exemplo é o clorofluorcarbono. Em princípio, eram considerados inofensivos, mas com o tempo foi comprovado que eles destruíam a camada de ozônio.

Cassandra

Cassandra era uma vidente de Troia que havia sido amaldiçoada. Sua maldição era que ninguém jamais acreditaria em suas previsões. Foi ela quem previu a queda de Troia para os  gregos, mas seus compatriotas não a levaram a sério por causa da maldição que a acompanhava. Posteriormente, como se sabe, os gregos saíram do famoso cavalo de madeira e arrasaram a cidade.

Esta história corresponde a eventos dos quais se conhece a probabilidade de ocorrência e a magnitude de seus danos. No entanto, como há um atraso entre a causa e as consequências, o risco é ignorado ou subestimado. 

Além disso, os riscos desse tipo têm uma alta probabilidade de ocorrência e um potencial de dano elevado. Exemplos são as mudanças climáticas e a perda da diversidade biológica.

Cavalo de Troia

Medusa

O último dos personagens que representam o risco na mitologia grega é a Medusa. Medusa era uma das três irmãs Górgonas, a única mortal das três. Ninguém se atrevia a se aproximar dela, porque diziam que até seu olhar podia deixar petrificado quem se cruzasse com ela.

O tipo de risco associado a esse mito é aquele que é rejeitado apesar de ser inócuo. Ou seja, um risco que parece muito elevado, mas que não há provas de que seja assim. Um exemplo são os campos eletromagnéticos. Seu dano potencial é baixo, mas as pessoas sentem que são afetadas.

Como vimos, os diferentes riscos podem ser interpretados a partir dessas analogias com personagens da mitologia grega. No entanto, o mais importante não são as comparações, mas saber que tipo de risco corresponde a cada uma dessas categorias, para que não se traduzam em possíveis danos; sejam eles danos temidos ou outros derivados da própria antecipação.


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