Sinestesia: ouço cores e vejo sons

Sinestesia: ouço cores e vejo sons

Última atualização: 06 outubro, 2016

A sinestesia é um fenômeno que consiste em experimentar, através da percepção de um estímulo visual, tátil ou auditivo, uma sensação perceptiva que o acompanha. Por exemplo, uma das formas mais comuns de sinestesia é associar os números, dias da semana ou meses a uma determinada cor. A pessoa os percebe acompanhados de uma cor, sempre a mesma para cada número ou dia.

Não são muitas as pessoas que fazem isso, mas é mais comum do que a gente imagina. Na verdade, muitas pessoas desconhecem que sua maneira de perceber certos estímulos é diferente da dos outros, até que ao falarem com alguém, percebem que não é o “normal”.

Esse fenômeno não é vivido como algo desagradável, inclusive os sinestésicos não imaginam o mundo sem percebê-lo dessa maneira, para eles tudo pareceria muito pobre. Deste modo, não falamos de uma patologia, mas sim de uma maneira diferente e mais rica de perceber o mundo.

Formas diferentes de sinestesia

Existem muitas formas diferentes de sinestesia. Por exemplo, existem pessoas que quando escutam uma música percebem cores, ainda que não seja uma alucinação. Não é que vejam cores e acreditem que formam parte da realidade, mas sim que quando escutam uma canção, são inundadas por uma enxurrada de cores, estando cada cor associada a uma nota musical concreta.

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Um cientista, Jamie Ward, afirma que os sinestésicos experimentam o mundo de uma maneira extraordinária, têm uma sensação extra dos estímulos que os cercam. As palavras podem evocar sabores, cada número uma determinada cor, a dor também pode vir acompanhada de um sabor ou de uma cor, tocar determinada superfície evoca um sentimento… Dessa maneira, existem diferentes maneiras de experimentar essa sensação.

Sinestesia e arte

Perceber de uma forma tão rica o mundo a sua volta pode favorecer a criatividade. É algo benéfico para aqueles que se dedicam à arte, já que podem expressar através de suas obras como o mundo se apresenta diante deles.

Uma artista novaiorquina, Carol Steen, utiliza essa condição para inspirar suas criações. Essa mulher afirma que pode observar a cor, o sabor e o cheiro da dor. Como forma de inspiração, utiliza a acupuntura para despertar e imprimir essas sensações nas suas obras de arte.

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Existem evidências sobre famosos sinestésicos como o escritor Vladimir Nabokov, que afirmava que, para ele, a combinação das letras “NZSPYGV” formava o arco-íris. Outros exemplos são o físico e prêmio Nobel Richard Feyman e o filósofo Ludwig Wittgenstein.

A sinestesia é hereditária?

Hoje em dia sabe-se que a sinestesia tem um componente biológico e genético, ainda que ainda não tenha sido possível explicar com exatidão os genes em questão. Entre pais e filhos é possível herdar a sinestesia, mas as sensações não precisam ser as mesmas. Herda-se a condição, mas não a forma de experimentá-la.

Tanto é assim que entre gêmeos foi constatado que suas experiências não são iguais e inclusive que um dos irmãos pode ser sinestésico e o outro não. Também podemos citar o caso de pais que não experimentam essa sensação, ainda que sejam portadores do gene, mas o filho o expressa.

As crianças sinestésicas normalmente descobrem sua condição na adolescência: ao falar sobre um som ou um número se dão conta que nem todos vemos como elas. Por exemplo, segundo Ward, uma criança descrevia os sons através de cores, dizendo que o coaxar das rãs normalmente era marrom, mas no dia soava azul, referindo-se a que o som desse dia era mais agudo.

A sinestesia no cérebro

Existe uma área em nosso cérebro que é encarregada da percepção das cores: a V4. Julia Nunn, num experimento realizado com 12 pessoas, observou mediante ressonância magnética que essa parte do córtex cerebral era ativada quando as pessoas sinestésicas escutavam um discurso com os olhos vendados, demonstrando assim que a percepção de um estímulo (som) automaticamente evocava outro (cor).

Além disso, a evocação de uma sensação através de outra é quase instantânea e sempre é experimentada da mesma maneira. Alguns veem no papel em que leem o número ou a palavra, ainda que estejam cientes de que a folha está em branco. Outros dizem que o veem como em um espécie de “tela interior” ou que o veem como se flutuasse.

De uma maneira geral, pode-se dizer que a sinestesia é:

  • Estável no tempo, percebendo as mesmas sensações com cada estímulo (sempre a mesma cor para um número em específico).
  • Familiar, pode ser herdada.
  • Específica, sempre aparece com os mesmo estímulos.
  • Ocorre rapidamente: ler a palavra, escutar uma música, tocar uma superfície ou ver um número gera automaticamente a sensação que a acompanha.

Outras formas de sinestesia

Esse fenômeno acontece em pessoas que percebem de maneira especial o seu entorno, desde seu nascimento e provavelmente devido à herança genética implicada. Mas não é a única maneira de experimentá-lo. Também é possível viver uma experiência parecida através do consumo de LSD.

Ela pode expressar-se inclusive depois de se adquirir uma cegueira. As pessoas que ficaram cegas, por exemplo, podem experimentar imagens visuais mentalmente através da audição, ainda que isso ocorra em pessoas que anteriormente tinham sinestesia, e que antes podiam enxergar. Dessa maneira, a sinestesia é um fenômeno que ainda hoje desperta a curiosidade de muitos cientistas e levanta muitos enigmas sobre o modo como percebemos o mundo.


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