A terapia metafórica e a linguagem da intuição

A terapia metafórica e a linguagem da intuição
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 20 agosto, 2020

A terapia metafórica não é um procedimento independente por si só, mas sim um recurso que pode ser empregado por diferentes enfoques terapêuticos. Consiste no uso de metáforas para alcançar a compreensão e superação de situações problemáticas. Basicamente, faz uso da linguagem poética e literária, das histórias e das fábulas para, dessa forma, abrir a consciência.

Há culturas ancestrais que, de um modo ou de outro, fazem uso da terapia metafórica para incentivar o desenvolvimento de processos de educação emocional nas suas comunidades. Os avós, e também os xamãs, narram histórias milenares. Essas histórias geralmente não se referem a fatos ocorridos no mundo real, e sim a episódios simbólicos. O efeito que ocorre em quem escuta essas histórias é catártico, ou seja, de abertura da consciência.

“A arte é uma mentira que nos aproxima da verdade”.
-Pablo Picasso-

O ocidente também faz uso da terapia metafórica, tanto de forma coloquial quanto nas intervenções psicológicas formais. Os contos, as fábulas e a poesia formam uma linguagem que aponta em direção ao inconsciente. Eles têm o poder de nos levar a um terreno que está um pouco além da razão, e ajudam a desatar os nós dos sentimentos, pensamentos e desejos que podem estar reprimidos ou ocultos.

A metáfora e a terapia metafórica

A metáfora é uma construção simbólica. Consiste em transformar ou transferir o significado de uma coisa para outra. Portanto, na metáfora associamos duas realidades que guardam alguma relação entre si. Isso permite substituir uma pela outra, mantendo um mesmo significado por trás.

É como quando alguém diz: “O céu está chorando”. Podemos associar a frase com a chuva, mas também é uma forma de dizer que um momento é triste.

O que é a terapia metafórica?

Os contos, as lendas, as fábulas, os poemas, etc… Todos esses exemplos são metáforas. A Chapeuzinho Vermelho não existe, é uma representação metafórica de todas as crianças desobedientes do mundo. As fadas também não existem no mundo real, mas são figuras construídas para representar a boa sorte ou a ajuda divina.

Todas essas histórias exercem uma grande fascinação sobre nós. Por quê? Quem cria essas histórias deixa seu inconsciente falar a partir delas. Agora, ainda que essa criação seja realizada conscientemente, seu conteúdo emerge do inconsciente do criador. Por isso mesmo, são histórias que capturam o inconsciente de quem as ouve, ou de quem as lê.

O interessante é que todas essas metáforas guardam em si a capacidade de transformar as pessoas a partir de seu interior.

As metáforas e o pensamento flexível

A partir de estudos da psicologia, já descobrimos que as metáforas nos ajudam a captar e assimilar a realidade a partir de perspectivas diferentes daquelas que sustentamos habitualmente. Em outras palavras, podem nos ajudar a tornar nossa visão de mundo mais flexível.

Por isso, também contribuem para que alcancemos uma visão diferente das nossas experiências pessoais, de forma que possamos encontrar novas saídas para velhos problemas. Essa é a base da terapia metafórica.

Quando construímos ou abrimos nossa mente para uma metáfora, colocamos em ação o hemisfério direito de nosso cérebro. Ele é criativo, intuitivo e global. Muito distinto do hemisfério esquerdo, que é lógico, racional e que quase sempre empregamos na interpretação das coisas.

Com a ativação dessas funções intuitivas, também colocamos em prática um modo de observar diferente, tanto para ver o mundo de forma geral quanto para perceber a nossa situação em particular.

As metáforas nos ajudam a encontrar saídas que antes não víamos. A possibilidade de ver qualquer coisa a partir de outro ângulo contribui muito para desbloquear a nossa mente. Isso, por sua vez, facilita o surgimento de novas respostas e a visualização de novos horizontes. Facilita também, ao fim do processo, a resiliência.

Uma ferramenta sempre à mão

Os psicoterapeutas, especialmente os que seguem as linhas da psicanálise ou as linhas humanistas, empregam com frequência o uso de metáforas. Eles fazem uso dessa capacidade muito poderosa da comunicação humana, justamente pelos benefícios que ela pode trazer.

As metáforas sugerem e semeiam, em vez de definir e impor. O impacto delas é muito mais profundo e, por isso, são ideais quando precisamos de uma ajuda em direção à mudança.

A magia dos livros

Desde os tempos mais remotos as histórias foram utilizadas como ferramentas de cura. São como um nutriente para o coração, porque despertam emoções adormecidas, sem violentá-las. Também porque nos induzem a ver nossas feridas emocionais com um olhar mais calmo, humano e pacífico.

O metafórico também nos ajuda a apreciar a realidade com esperança, pode nos consolar, e nos ajudar a lidar com a solidão.

É por isso que sempre é uma boa ideia se deixar seduzir pela leitura, ainda mais quando estamos passando por uma questão difícil, ou sentimos que fomos invadidos pela confusão. A boa literatura e a boa arte oferecem respostas para o nosso mal-estar e para o nosso sofrimento. São um lugar para onde sempre poderemos ir, um refúgio, um mundo que estará sempre aberto e pronto para nos acolher.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.