Teste do desenho do relógio para diagnosticar doenças e transtornos mentais

Teste do desenho do relógio para diagnosticar doenças e transtornos mentais
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O teste do desenho do relógio é um exame de diagnóstico muito simples de aplicar. Sua finalidade é avaliar o comprometimento cognitivo dos pacientes e conseguir diagnosticar possíveis transtornos neurológicos e psiquiátricos. Desde que foi aplicado pela primeira vez em 1953, costuma ser um dos exames mais comuns para identificar mais cedo o Alzheimer e outras doenças.

Quando descobrimos que esse exame se baseia “exclusivamente” em pedir para uma pessoa desenhar um relógio cujos ponteiros marquem 11h 10min, tendemos a duvidar da validade e da eficiência do diagnóstico. No entanto, há alguns aspectos práticos que devemos considerar em relação ao que essa tarefa (aparentemente) tão simples exige.

Desenhar um relógio. É tão simples que parece inacreditável que seja um dos exames mais conclusivos na hora de detectar transtornos cognitivos como o Parkinson ou o Alzheimer.

Em primeiro lugar, é preciso compreender o que se pede: “desenhe um relógio que marque tal horário”. Depois, a pessoa vai precisar planejar, prestar atenção na execução motora, ajustar sua percepção visual, a coordenação visomotora e a capacidade visuo-construtiva. Não é uma tarefa qualquer. A eficiência cognitiva que o teste do relógio exige o torna um dos exames mais úteis, especialmente se o compararmos com outros mais complexos, mais caros e menos confiáveis.

Pessoa com distúrbios mentais

Teste do desenho do relógio para avaliar um déficit das capacidades cognitivas

Esse exame foi desenvolvido e aplicado pela primeira vez em 1953. O objetivo era analisar a apraxia construtiva (comum nas demências) e identificar também o alcance das lesões do córtex parietal. Pouco a pouco, ao perceber a eficiência do teste, ele se transformou em um instrumento essencial para diagnosticar o comprometimento cognitivo associado principalmente às primeiras fases do Alzheimer.

A aplicação desse teste, como já dissemos, é simples. No entanto, deve ser guiada e analisada por um psicólogo treinado, pois a partir do teste do desenho do relógio é possível identificar vários transtornos, déficits ou lesões cerebrais. Vale dizer ainda que existem até 15 formas diferentes de avaliar esse teste.

Como o teste do desenho do relógio é aplicado?

Geralmente, o profissional pode optar por aplicar o exame de duas maneiras:

  • Desenho do relógio a partir de instruções. Nesse caso, é dada ao paciente uma folha em branco, na qual ele deve desenhar um relógio marcando 11h 10min. É importante que a esfera do relógio contenha a distribuição correta de cada hora.
  • Em outro caso, também é possível pedir para a pessoa copiar o modelo de uma relógio já desenhado. A cópia deve ser exata: números, tamanho da esfera, ponteiros…
  • Quando o paciente terminar o teste, o psicólogo deve perguntar se ele terminou e se acha que se saiu bem.

É muito comum nos perguntarmos por que o relógio deve marcar exatamente 11h 10min. Algo tão simples quanto isso implica a participação dos 2 hemicampos visuais. Exige, além disso, que a pessoa obedeça as instruções, que as entenda, que se lembre de como são os relógios, como se distribui cada hora e que planeje de forma adequada onde vai posicionar cada ponteiro.

Teste do desenho do relógio para diagnosticar transtornos mentais

Como se analisa o teste do desenho do relógio?

Como já afirmamos, há muitas maneiras de analisar esse teste. Normalmente observa-se a esfera, a ordem de colocação dos números, a orientação, se estão dentro ou fora da esfera, se estão apenas de um lado ou se há excesso de numeração. No caso dos pacientes com transtornos esquizofrênicos, por exemplo, costuma aparecer uma obsessão quase milimétrica para definir cada minuto na esfera, o que faz do desenho uma composição bizarra, difusa e quase ininteligível.

O caso de uma paciente

Maria tem 80 anos e compareceu pela primeira vez, na companhia dos filhos, a uma consulta com um psicólogo. “Me esqueço das coisas”, ela diz entre risos, enquanto sua família concorda com a cabeça com uma expressão de preocupação. O profissional, depois de recolher alguns dados e estabelecer uma conversa com Maria, para deixá-la mais tranquila e conhecê-la melhor, lhe pede para desenhar um relógio marcando um horário específico, 11h 10min. O resultado é o que vemos a seguir.

Teste do desenho do relógio

O comprometimento cognitivo de Maria é evidente. Esse teste não vai ser o único a ser feito com essa paciente. O diagnóstico de Alzheimer vai ser confirmado (ou não) com outras estratégias psicológicas. No entanto, o teste do desenho do relógio é um ponto de partida e oferece uma informação confiável e reveladora.

Maria já tem uma idade avançada e a perda das faculdades cognitivas é comum. Ao mesmo tempo, vale dizer que nos últimos anos esse teste vem sendo aperfeiçoado cada vez mais. Estão disponíveis, inclusive, uma caneta projetada pelo “Laboratório de Inteligência Artificial e Ciências Computacionais de Massachusetts (MIT)” que registra a pulsação da pessoa, a precisão, as interrupções, os tremores e outros tipos de irregularidades.

Graças a essa tecnologia, é possível obter vários parâmetros. No entanto, o mais interessante de tudo isso é que pode apontar diagnósticos bastante precoces de Alzheimer ou do mal de Parkinson. Uma identificação antecipada nos ofereceria a chance de poder desenvolver melhores estratégias, de aplicar tratamentos adequados com os quais oferecer uma atenção integral ao paciente e uma melhor qualidade de vida para retardar o desenvolvimento da doença. Portanto, o teste do desenho do relógio vai continuar sendo uma das melhores ferramentas para a identificação desse tipo de doença.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.