Nada vai acontecer se você ainda não conseguir se levantar: tome o tempo necessário

Nada vai acontecer se você ainda não conseguir se levantar: tome o tempo necessário
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

Não se preocupe se hoje você não conseguir lidar com tudo; nada vai acontecer se você ainda não conseguir se levantar. Tome o tempo necessário. Não se esqueça de que as pessoas que estão quebradas têm pedaços de vida soltos que podem estar infectados e que tudo isso dói para caminhar, respirar e até pensar. Descanse, comece a luta, abrace suas feridas, porque pouco a pouco você sentirá seu corpo mais leve e sua mente mais forte…

Albert Ellis costumava comentar que um dos automatismos que colocamos em prática cada vez que sofremos uma decepção, uma perda ou um evento traumático é culpar a nós mesmos. Além disso, o que fazemos frequentemente é projetar um certo “desprezo” sobre nós por não conseguirmos lidar com a nossa vida, por não termos coragem suficiente para nos levantarmos pela manhã, coragem para enfrentar certas situações e circunstâncias.

Tome o tempo necessário para se curar, o tempo que precisar. Porque esta é uma jornada que ninguém sabe qual será a data de chegada, mas o que é certo é que você chegará a essa outra estação: a estação da calma, da paz interior e do bem-estar.

É como se desejássemos correr depois de sofrer uma fratura. Nós nos irritamos por sentir dor e por não podermos ir tão rápido quanto a nossa mente deseja. Nós esquecemos que, nesse pé, há uma lesão que deve ser tratada, que precisamos de um descanso, um tratamento e, em primeiro lugar, precisamos ter consciência de que, por um tempo, não poderemos andar, e muito menos correr…

Jovem diante de peixe gigante

Tome o tempo necessário, mas aproveite-o bem

Tome seu tempo, o que você precisar e não o que outra pessoa falar que você precisa. Porque todos têm seu próprio ritmo, todos precisam de suas diretrizes, suas estratégias, seus despertares internos e os auxílios externos aos quais devem obedecer e os quais devem trabalhar diariamente. Compreender isso é essencial porque hoje, quer nos agrade ou não, assumimos certos equívocos que nos impedem de construir um processo de cura autêntico.

Como explicado em um artigo interessante publicado na revista “Perspectives on Psychological Science”, nos últimos anos tem se popularizado a ideia de que as pessoas são resistentes por natureza. Muitas vezes nos dizem que o tempo cura tudo, e que precisamos deixar o nosso cérebro agir, permitindo que, pouco a pouco, surja a força interior de que precisamos para dissolver todos os estressores e para superar qualquer situação adversa.

Isso está erradoO tempo por si só não cura, nem temos um piloto automático capaz de ser ativado para nos guiar no caminho da resiliência. Assim, algo que os pesquisadores deste trabalho nos dizem é que assumir esse tipo de ideia nos coloca em um cenário de autêntica passividade psicológica, mergulhando irremediavelmente em uma areia movediça, onde esperamos por uma cura que nunca acontecerá.

Mulher de vestido vermelho diante de nuvem negra

Ideias nas quais devemos deixar de acreditar

A psicologia popular, assim como certos aspectos espirituais, tendem a germinar crenças errôneas em nós que estão muito longe do que a ciência realmente diz. Supondo que muitos desses conceitos podem prejudicar nossa cura psicológica, é necessário ter em mente alguns desses falsos mitos.

  • O tempo cura tudo (falso)  O que cura é o que fazemos durante esse tempo.
  • Toda luta dura três meses (falso) ⇔ Cada pessoa precisa de um certo tempo para enfrentar uma perda ou uma ruptura sentimental.
  • Pessoas fortes podem com tudo (falso)  O que queremos dizer com pessoas fortes? Rotular uma pessoa externamente como “forte” pode forçá-la a se sentir melhor o mais rápido possível, e isso é perigoso.
  • Todos somos resistentes (falso) A resistência é trabalhada, desenvolvida, refinada e individualizada com base em nossas características e necessidades. Não é um despertar espontâneo, é um ofício que deve ser aprendido e colocado em prática no dia a dia, e não apenas nos momentos de maior necessidade.

Tome o tempo necessário para hibernar e para se curar

Nós falamos no início do artigo sobre a referência a Albert Ellis: as pessoas ficam com raiva de si mesmas por não conseguirem se curar rapidamente, por não correrem tão rápido quanto gostariam, por não conseguirem ser a pessoa que sempre foram. Isso acontece porque vivemos em um mundo onde somos forçados a sempre estarmos bem, sempre funcionais, para vender uma imagem de felicidade intocada e deslumbrante.

No entanto, a vida não vem com filtros do Instagram, não podemos melhorar nosso humor com um único “clique”. Essa tarefa exige tempo e trabalho e, acima de tudo, uma abordagem intencional. Portanto, falaremos sobre duas estratégias simples para realizá-la.

  • Tome o tempo necessário para hibernar. Não se trata de dormir e se isolar, mas de aplicar uma das vantagens desse processo fisiológico que os animais em hibernação colocam em prática: conservar as energias. Se o seu corpo não aguenta mais, se sua mente está exausta, descanse, pare de priorizar os outros, deixe de lado o ruído externo para atender às suas necessidades internas.
Mulher com borboletas nas costas
  • Tome o tempo necessário para se curar. O tempo que você precisa, e não o que os outros falam. Entenda que a cura não é uma viagem com data de partida e data de chegada, é um processo, uma caminhada na qual você não precisa olhar a paisagem ou aquilo que o rodeia: sua visão deve focar em si mesmo.

Por último, mas não menos importante, não podemos esquecer que neste processo de cura é bom não abrir mão de uma companhia; você precisa escolher bons companheiros de viagem. Escolher um bom profissional para nos orientar neste processo tornará tudo mais fácil, e nos ajudará a compreender que antes de voltar a correr, devemos aprender a caminhar de novo.

Conseguir isso é possível; levará tempo, mas alcançaremos esse objetivo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.