Três marcas da infância que duram para sempre

Três marcas da infância que duram para sempre
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 01 abril, 2016

A infância é aquele tempo no qual acontece um belo paradoxo; somos capazes de construir as bases mais fortes na menor quantidade de tempo, sem nem nos darmos conta disso. Aos quatro anos já começamos a definir nossa forma de ser. Daí em diante o que resta é desenvolver ou frear a inércia que pegamos em nossos primeiros anos de vida.

A infância deixa marcas que duram para sempre. São marcas imutáveis que se refletem principalmente na atitude que temos com nós mesmos e com os demais. No entanto, algumas destas marcas são mais persistentes e profundas, devido ao grande impacto que causam na mente da criança.

“O melhor meio para fazer boas crianças é fazê-las feliz”.

(Oscar Wilde)

A seguir, falaremos sobre as três marcas que interiorizamos durante nossa infância e que nunca se apagarão.

A impossibilidade de confiar desde a infância

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Quando uma criança é enganada ou traída por seus pais ou responsáveis, dificilmente pode  confiar nas outras pessoas ou, inclusive, em si mesma. Terá que lutar muito contra a tendência à desconfiança para conseguir estabelecer vínculos de intimidade com outras pessoas.

A criança é enganada quando lhe são prometidas coisas que não são cumpridas. Para elas, é importante que recebam o brinquedo prometido caso obtenham sucesso em alguma coisa em determinado momento, que sejam levadas ao parque que lhes prometeram, ou que seja dedicado um momento a elas, como lhes foi prometido.

Esses tipos de atos podem passar despercebidos, ou não ter importância para os adultos. No entanto, para a criança, representam um aprendizado sobre o que podem esperar, globalmente, das figuras próximas.

Se a criança observa que os pais mentem, aprenderá que a palavra carece de valor. Será difícil, então, acreditar nos demais e se esforçar para fazer com que a sua própria palavra seja confiável. Essa marca fará com que, durante seu desenvolvimento, tenha grandes dificuldades para estreitar os laços com os demais e para construir uma verdadeira intimidade – refúgio  – no qual se sinta segura com alguém.

O medo de ser abandonado

A criança que se sentiu só, ignorada ou abandonada, começa a acreditar que a solidão é um estado completamente negativo, e pode optar entre dois caminhos: ou torna-se excessivamente dependente dos outros, buscando constantemente alguém que a acompanhe e proteja, ou renuncia à companhia como medida de precaução frente ao sofrimento de um potencial abandono.

Aqueles que tomam o caminho da dependência podem chegar a ser capazes de tolerar qualquer tipo de relação, contanto que não fiquem sós. Acreditam que são completamente incapazes de escolher a solidão e, por isso, estão dispostos a pagar qualquer preço por companhia.

Aqueles que escapam do medo do abandono pela via da independência inflexível tornam-se incapazes de desfrutar a proximidade afetiva de alguém. Para eles, o amor é sinônimo de medoQuanto mais afeto sentem por outra pessoa, mais cresce sua ansiedade e seu desejo de escapar. São o tipo de pessoa que rompe vínculos cativantes para deixarem de sentir a angústia que uma eventual perda da figura amada poderia causar.

O medo da rejeição

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A criança que foi permanentemente questionada ou censurada por seus pais costuma se transformar em uma inimiga de si mesma. Dessa maneira, desenvolve um diálogo interior no qual censura e recrimina a si mesma.

Esta criança, em sua vida adulta, provavelmente jamais vai se sentir confortável com o que faz, o que diz ou o que pensa. Sempre vai encontrar uma forma de sabotar seus planos e será muito complicado aceitar que ela também tem virtudes e acertos. Sentirá que não merece afeição, nem a compreensão de ninguém, e que suas expressões de amor direcionadas aos demais carecem de valor.

No geral, tornam-se adultos isolados e volúveis que sentem pânico em situações de contato social. Simultaneamente, são extremamente dependentes da opinião alheia. Diante da mínima crítica dos demais, se desvalorizam por completo, já que não sabem distinguir uma observação objetiva de um ataque pessoal.

Se, além de rejeitada, a criança também for humilhada, as consequências são ainda mais graves. As humilhações deixam sentimentos de ira não resolvidos, que se transformam em uma sensação de impotência contínua e que, muitas vezes, dá lugar a pessoas tiranas e insensíveis, que também buscam humilhar os demais.

As marcas que essas experiências da infância deixam são muito difíceis de modificar. No entanto, isso não quer dizer que não podem ser trabalhadas para que se tornem algo mais positivo. O primeiro passo é reconhecer que elas existem e que devem ser trabalhadas para que não determinem por completo o resto de nossas vidas.

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