Pais que batem nos seus filhos

Pais que batem nos seus filhos

Última atualização: 26 maio, 2015

Ainda que, felizmente, esse número esteja diminuindo, ainda existem pais que submetem seus filhos a castigos corporais para que eles lhes obedeçam. Isso trouxe a morte de crianças nas mãos de seus pais, que, sob efeito da raiva, descarregam a sua força física sobre a pessoa ou sobre as pessoas que teriam a responsabilidade de proteger: seus filhos.

É lamentável que ainda existam pessoas que costumam aconselhar:

Esse menino precisa de uns bons tapas!

Em diferentes países há leis para a proteção de crianças e adolescentes, apesar desse ser um caso difícil de erradicar. O silêncio atua como cúmplice, já que em muitos lugares, se pensa que a a maneira de educar pertence exclusivamente aos pais, seja qual for o método. Por um lado, algumas pessoas acreditam, erroneamente, que os maus-tratos são somente castigos corporais. Também falamos de maus-tratos quando existe negligência da hora de satisfazer as necessidades dos filhos: alimentação, descanso, recreação, afeto, segurança, apoio psicológico ou atenção em períodos de doenças.

Além disso, também são maus-tratos as rejeições afetivas em forma de gritos, insultos, ameaças e humilhações. Não permitir a amizade com outras crianças é isolar socialmente, e impede o livre desenvolvimento das habilidades sociais.

Alguns pais não permitem que seus filhos voltem para a casa durante o dia depois do colégio, porque não toleram a responsabilidade de preparar a comida, dar roupa e um lar limpo. Neste quadro, é típico encontrarmos progenitores alcoólatras ou dependentes de drogas.

Como mencionado, os maus-tratos não ficam evidentes em muitas situações. Muitas vezes esse comportamento é tão sutil que pode ser apresentado, por exemplo, com a comparação entre irmãos ou com outras crianças. Muitas vezes essa comparação impede que que seja desenvolvido o sentido de pertencer ao grupo familiar, gera a desconfiança, leva à cismas ou aumenta a vontade de evasão da realidade.

Os docentes na escola podem ter uma função importante ao observar e identificar mudanças na conduta dos seus alunos. Em muitas ocasiões, uma conduta disruptiva ou agressiva na criança é produto dos maus-tratos que recebe de um adulto. Entre as condutas que permitem identificar essa situação, encontram-se:

* Medo de um dos seus pais

* Medo de água, ao sair para o pátio. Qualquer conduta anormal que persista com o tempo é motivo de alerta.

* Insônia, a aparição de condutas infantis já superadas como fazer xixi na cama, pesadelos, perda de apetite, isolamento, brincadeira solitária ou agressiva.

* No corpo aparecem marcas de causa “desconhecida”. Cicatrizes no nível do lóbulo da orelha.

É lamentável quando se escuta da boca da mãe:

“Você só me dá problemas!”

“Você só traz desgosto!”

“Não vão te querer nem de presente!”

É muito difícil esconder os maus-tratos

É provável que não fiquem sequelas físicas nas crianças, mas as sequelas psicológicas dos maus-tratos podem persistir. A criança provavelmente terá uma baixa autoestima, viverá com medo, terá a percepção do mundo como um lugar hostil, terá muita dificuldade em confiar nas pessoas e, não estranhamente, poderá maltratar seus próprios filhos.

Toda criança e adolescente, seja menino ou menina, tem o direito a uma vida livre de violência, crescendo em um ambiente que lhe traga segurança. É verdade que as crianças precisam de limites de conduta para viverem em sociedade, mas os maus-tratos para impor tais limites não se justificam. As sequelas ocultas provavelmente vão se revelar mais tarde.

Por que existem pais que batem em quem deveriam proteger?

Muitas crianças maltratadas ontem são os que maltratam hoje. No entanto, outras superaram a sua dor traumática e canalizaram a sua energia para proteger a infância que sofre maus-tratos. Devemos considerar que a maioria dos pais que maltratam ou batem não gostariam de fazer isso, e muitas vezes descrevem o quanto se sentem mal depois de fazer isso. Dessa forma, quando agridem, se agridem também, e se o fazem é porque não sabem outras forma de agir e nem acreditam que elas existam.

Quem maltrata costuma usar a violência para impor respeito diante da sua escassa capacidade estabelecer limites na conduta infantil. Esse adulto esquece que está lidando com uma criança. Espera que a criança pense e aja como um adulto de 20 ou 30 anos, mas ele é incapaz de se colocar no lugar da criança, que não entende o motivo das surras. Uma exigência excessiva causa frustração, pois muitas vezes as crianças não podem cumprir com as expectativas do adulto. Expectativas que não são cumpridas geram decepção, que é canalizada de maneira errônea por meio dos maus-tratos.

Por outro lado, alguns pais alcoólatras, dependentes químicos ou viciados em jogos veem seus filhos como uma carga pesada para a continuação da sua dependência. Nesses casos, os maus-tratos costumam surgir em forma de desatenção das necessidades, já que os pais destinam seus recursos, que deveriam ser para atender as necessidades das crianças, para seguir com o seu próprio vício.

Finalmente, devemos refletir e sermos conscientes de que, ainda que a educação dos pais deva ter um papel preponderante, a sociedade tem a responsabilidade de velar para que a educação seja sempre inserida no marco dos direitos das crianças.


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