O dom da dúvida

O dom da dúvida

Última atualização: 28 fevereiro, 2019

Não há nada que possa tirar a tranquilidade como uma dúvida a nos aporrinhar. Dúvida que coça, dúvida que incomoda, dúvida que incendeia, dúvida que preocupa. Também tem a dúvida que questiona, que toma espaço, que nunca dorme, que nos transforma.

Em toda dúvida existe um dom. O dom de duvidar. Duvido disso, duvido daquilo, duvido de um pouco de tudo e de tudo um pouco. Duvido da profundidade de um acontecimento, da verdade de uma palavra, do caráter de alguém. Duvido de mim mesmo, duvido do tempo, da duração de um mundo, do frágil futuro, do incerto presente, de um passado ausente.

Duvido! De quê? De mim ou de você? Eis a questão. A dúvida é produto bruto interno, é a estampa da insegurança, da falta de confiança. Ou, em outras palavras, é duvidando que se aprende, pois quem duvida experimenta o diferente, ousa perguntar, se lançar, simplesmente… mergulhar.

A dúvida é boa e ruim. É amarga, mas pode até ser doce. É amarga quando abala as estruturas que estavam fincadas lá dentro. É doce quando se trata de gostar de alguém, mesmo na dúvida.

A dúvida é esperança, ao mostrar as novas possibilidades

É fim, quando é preciso abandonar pessoas e realizar novas escolhas. Ela rasga os tecidos internos, abrevia existências vãs, seja de algo ou de alguém; ela treme as vigas da alma e, às vezes, pode fazê-las desmoronar.

Eu gosto da dúvida. Ela me faz um agente inquisidor, buscando sempre o que há mais à frente. Buscando sempre a resposta para uma interrogação enervante, ou para uma pergunta displicente, mas coerente, procurando calar um murmúrio incessante, ou um grito estridente.

aprenda com a dúvida

A dúvida é tudo o que não é, é tudo o que faz falta, porque não se conhece, não se tem certeza, é um tipo de saudade de alguma coisa que não se sabe, ao certo, se existiu, ou se viveu. É se fazer perguntas incômodas, é escarafunchar, procurar pelo em ovo (por que não?).

Ainda tem a dúvida que sempre será: você nunca saberá o que a outra pessoa está pensando de verdade, se alguém do seu passado gostava ou não de você de fato, e se tivesse escolhido outro caminho, como seria hoje. Não saberá se a vida lhe traria outras surpresas se tivesse apertado outros botões do livre arbítrio, e, tampouco, se aquela pessoa que você amava tanto ainda estivesse viva, como seria a sua vida e a dela.

Essas dúvidas nunca serão esclarecidas, pois fazem parte do processo de ser quem se é. São naturais e insolúveis! Não são problemas a serem solucionados; deixe-as, não se atormente com elas. Não importa mais fazer estas perguntas.

Duvide do que é benéfico e positivo para você: o que desejo para a minha vida? Quem eu sou? Como me sinto em situações como esta? Porque esta pessoa não me faz bem? O que quero fazer para melhorar como pessoa?

evite a dúvida

Duvide, mas não desconfie. Pergunte, mas não insulte. Busque matar a sede da sua dúvida, mas não queira ir além dos seus limites. Ouça a dúvida, perceba a sua intuição na dúvida, coce a coceira da dúvida. Sobretudo, respeite-a. Ela também é um processo interno seu; é a pimenta que faltava no seu insosso prato do dia.

Portanto, a dica valiosa que deixo é: duvide. Hoje, amanhã e sempre. E que venham as perguntas!

Texto escrito por Bia Cantanti
Saiba mais sobre a autora em:
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