Adolescentes multiproblemáticos: como são?

Cada vez são mais os adolescentes que desenvolvem problemas de saúde mental, além de conflitos com as autoridades. Por quê? Neste artigo contamos pra você!
Adolescentes multiproblemáticos: como são?
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 13 junho, 2023

Ser adolescente pode ser difícil. Neste período da vida ocorrem mudanças substanciais que irão determinar como serão na vida adulta. Ser adolescente implica cortar alguns dos vínculos que prendem a pessoa à infância e construir novos.

Os adolescentes muitas vezes percebem a vida como tempestuosa, dramática e instável. Isso ocorre porque na cultura ocidental, diferentemente de outras, não existem ritos, rituais ou práticas que indiquem ao adolescente que ele deixou de ser criança para se tornar um adulto pleno (Madruga, 2019).

“A adolescência é uma fase em que você vive tudo com mais intensidade.”

-Edward Zwick-

adolescente desmotivado
O número de adolescentes que usam drogas está aumentando.

Um coquetel perigoso na adolescência

Os adolescentes passam por muitas dificuldades. Por exemplo, mudanças em seu corpo e em suas relações sociais. Além disso, seu cérebro está longe de ser totalmente desenvolvido e eles tendem a experimentar emoções com mais intensidade. Uma porcentagem deles encontra nas drogas uma forma de enfrentamento para reduzir seu desconforto a curto prazo. Se o fizerem, provavelmente cairão em uma armadilha muito dolorosa.

O termo “adolescente multiproblemático” é utilizado quando, nesse período vital, a pessoa lida com a dependência de drogas, além de outros problemas, como saúde mental e problemas jurídicos. No contexto que hoje nos traz, podemos referir que, atualmente e no continente europeu, mais de dois milhões de adolescentes têm estes problemas.

Se olharmos para os números de incidência de transtornos mentais em países desenvolvidos, como Espanha ou Estados Unidos, podemos constatar que cerca de 15% das pessoas entre 4 e 17 anos têm algum transtorno mental diagnosticado (Ribas- Sinol, 2015). Nesse sentido, há cada vez mais casos de adolescentes que consomem múltiplas substâncias e desenvolvem outros quadros clínicos comórbidos. Ou seja, apresentam várias entidades clínicas “ao mesmo tempo”.

“Até 88% dos adolescentes que iniciam tratamento para uso de substâncias têm outros transtornos associados.”

-María Ribas-Siñol-

Drogas, um trampolim para outros transtornos mentais

Na adolescência, mais e mais substâncias são abusadas. De fato, 25% confessam tê-lo feito nas últimas semanas. Entre as substâncias mais consumidas nessa população estão as bebidas alcoólicas e a maconha. Além disso, o uso de cocaína cresce exponencialmente, algo que preocupa os especialistas.

Esse aumento dramático no uso de substâncias tem sérias conseqüências. Por exemplo, adolescentes multiproblemáticos tendem a ser mais violentos e se envolver em comportamento criminoso com mais frequência. Seu objetivo geralmente é conseguir dinheiro para pagar as drogas que consomem. Como resultado, eles têm dificuldade de se integrar à sociedade e têm sérios problemas legais.

Quando um adolescente apresenta, além da drogadição, outra entidade clínica, como depressão ou trauma, é chamada de dupla patologia. Este tipo de patologia torna a intervenção mais complexa, porque os problemas de saúde são combinados com problemas no nível judicial.

“A dupla patologia e as doenças mentais em adolescentes estão aumentando cada vez mais e muitos crimes estão associados ao consumo de tóxicos”.

-María Ribas-Siñol-

Quais transtornos são mais frequentes em adolescentes multiproblemáticos?

Chama a atenção o fato de os problemas de saúde na adolescência começarem mais cedo e serem mais numerosos. Nesse sentido, constatou-se que quase metade dos adolescentes com transtornos duais apresenta mais de três transtornos ao mesmo tempo. Apesar dos dados variarem dependendo do tipo de estudo, algumas entidades clínicas que aparecem com frequência em adolescentes multiproblemáticos têm sido propostas.

Como pode ser visto, todos eles podem estar interrelacionados. É difícil saber qual deles se desenvolveu primeiro e fortaleceu os outros. Por isso, é necessária grande conhecimento clínico na abordagem dos problemas apresentados por esses adolescentes.

“A juventude tem um temperamento explosivo e um julgamento fraco.”

-Homero-

Problemas de comportamento: um burro de carga

O grupo de patologias mais frequente nessa população são os transtornos de conduta. Uma das manifestações desses transtornos é o comportamento hostil, por meio de roubo, mentira ou desobediência às normas socialmente estabelecidas.

Para a American Psychiatric Association (2014), uma característica desses adolescentes é a baixa capacidade de tolerar frustrações. Além disso, as repercussões variam conforme o sexo do adolescente:

  • As meninas tendem a mentir mais. Tendem a faltar mais à escola e a usar mais drogas, em comparação com os meninos. As agressões que cometem ocorrem no contexto relacional, sendo de natureza mais psicológica do que física. Por exemplo, assédio verbal.
  • Por outro lado, os meninos cometem mais agressões físicas. Assim, tendem ao vandalismo e à briga. Os comportamentos relacionados com o furto de objetos são mais característicos no sexo masculino e apresentam uma oposição mais intensa às normas sociais.

De acordo com o modelo ontogenético proposto por McDonough (Fonseca, 2021), o uso de substâncias seria um fator predisponente contextual para o desenvolvimento de transtornos de conduta. Além disso, outros elementos como a criação punitiva e a exposição a ambientes violentos devem ser apontados como fatores explicativos da dupla patologia.

A sombra da depressão

Em ordem de frequência, a depressão é a segunda entidade clínica mais comum em adolescentes multiproblemáticos. Atualmente sabe-se que quase 5% dos adolescentes sofrem de depressão. Na verdade, é um dos distúrbios mais prevalentes.

Entre os homens, está especialmente associado a transtornos de conduta e uso de drogas. Este coquetel os torna mais propensos ao suicídio, sendo este o terceiro fator de mortalidade nesta população (Ribas-Siñol, 2015).

Existe uma teoria chamada hipótese da automedicação. Isso poderia explicar por que os adolescentes estão usando substâncias como a cocaína, que é uma droga estimulante, com o objetivo de reduzir seus sintomas depressivos. Isso poderia explicar o fato de que os casos de adolescentes que consomem essa substância específica estão aumentando.

“As drogas destroem sua memória, respeito e autoestima.”

-Kurt Cobain-

Mentes feridas por traumas

É mais um dos transtornos comumente descritos no contexto de adolescentes multiproblemáticos. O trauma na adolescência decorre de situações contínuas de abuso. Dessa forma, o abuso de substâncias pode constituir uma estratégia que o adolescente desenvolve para enfrentar um ambiente hostil e abusivo.

A APA (2014) menciona que o abuso de substâncias e os transtornos de conduta estão fortemente ligados a traumas na infância. Especialmente o transtorno desafiador opositivo. Além disso, aponta que as drogas podem ser uma forma de evitar lidar com memórias extraordinariamente intensas do ponto de vista emocional.

“Vivemos sem saber que nossos traumas governam nossas vidas.”

-Sandra Barneda-

Adolescente irritado com sua mãe
Em muitos casos, os distúrbios comportamentais em adolescentes geralmente são consequência de um trauma mal administrado.

Adolescentes problemáticos: na mira dos sistemas de saúde

Como podemos ver, as entidades clínicas que emergem no contexto do abuso de drogas frequentemente se sobrepõem. Se considerarmos o fato de que atravessamos uma década marcada pela instabilidade econômica, pandemia e guerra, é compreensível que se intensifique a sensação de insegurança e vazio que os adolescentes podem sentir.

Nesse sentido, é cada vez mais comum encontrar nos postos de saúde adolescentes com um extenso histórico de dependência química, depressão, problemas de comportamento e traumas. Esse aumento é notório e preocupa cada vez mais os sistemas de saúde, que se empenham em continuar pesquisando e desenvolvendo programas de prevenção que ajudem a população adolescente a ter uma vida saudável.

«A prevalência do uso de maconha e cocaína na Espanha na população adolescente é uma das mais altas da Europa».

-María Ribas-Siñol-


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  • Madruga, J. A. G., & Delval, J. (2019). Psicología del desarrollo I. UNED.
  • American Psychiatric Association. (2014). DSM-5. Guía de consulta de los criterios diagnósticos del DSM-5: DSM-5®. Spanish Edition of the Desk Reference to the Diagnostic Criteria From DSM-5® (1.a ed.). Editorial Médica Panamericana.
  • Santo Lema, C. L. (2017). Características de la personalidad y patología dual en adolescentes de la sala de primera acogida del Hospital Provincial General de Latacunga (Bachelor’s thesis, Quito: UCE).
  • Peña-Olvera, F. D. L., & Palacios-Cruz, L. (2011). Trastornos de la conducta disruptiva en la infancia y la adolescencia: diagnóstico y tratamiento. Salud mental, 34(5), 421-427.
  • Pedrero, F. E. (2021). Manual de tratamientos psicológicos: Infancia y adolescencia (Psicología) (1.a ed.). Ediciones Pirámide.

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