Como as pessoas que não foram amadas amam?

As pessoas que não foram amadas durante seus primeiros anos de vida costumam se tornar desconfiadas e obsessivas com o amor. Desenvolvem apegos desmedidos e tudo isso faz com que seus relacionamentos amorosos sejam muito difíceis.
Como as pessoas que não foram amadas amam?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 08 agosto, 2019

A falta de afeto deixa uma marca permanente durante o desenvolvimento do ser humano. As pessoas que não foram amadas estruturam boa parte da sua forma de ser em volta desse fato.

A falta de amor é, por si só, uma forma de maus-tratos. Sem dúvidas, incide decisivamente na percepção de si mesmo e da realidade.

O eco do desamor pode chegar a determinar a vida inteira. Seus efeitos são vistos em cada uma das etapas do desenvolvimento.

Uma criança carente de amor tem tamanho e peso mais baixos, menor rendimento acadêmico e mais medo ou agressividade diante de tudo. São mais rebeldes na adolescência e mais vulneráveis à influência do grupo. Além disso, também desenvolvem vícios com maior frequência.

“Não ser amado é uma simples desventura; a verdadeira desgraça é não amar.”
-Albert Camus-

As pessoas que não foram amadas chegam à vida adulta com muitas desvantagens. É difícil que elas saibam quem realmente são. Por isso, não descobrem facilmente sua vocação e se sentem habitadas pela inconformidade. Nada as satisfaz por completo, não conseguem encontrar seu lugar no mundo.

Uma das consequências também está relacionada, é claro, com a sua vida amorosa e com a sua forma de se relacionar com os amigos. A carência de amor muitas vezes é devastadora.

Mulher machucada se olhando no espelho

A desconfiança, a marca registrada das pessoas que não foram amadas

As pessoas que não foram amadas costumam se deixar invadir facilmente por todo tipo de medo. Afinal, um dos efeitos do amor é o de gerar uma sensação de segurança e estabilidade. Portanto, a falta de afeto dá lugar ao contrário. Isto é, a uma sensação de viver à beira do abismo em tudo.

Isso se manifesta como uma desconfiança essencial. A pessoa não confia em si mesma e muito menos nos demais. Há uma certa suspeita em tudo aquilo que envolve o amor.

É muito difícil ter relações espontâneas com os outros e, ao mesmo tempo, há uma grande tensão. Os vínculos com os demais tendem a se tornar conflituosos.

Essa desconfiança costuma se exacerbar quando o amor aparece no horizonte. Se um vínculo se estreita ou se surgem sinais de intimidade, as pessoas que não foram amadas entram em um estado de alerta. Frequentemente, isso as leva a fugir, a se fecharem e a se tornarem obsessivas.

A idealização e a obsessão desmedidas

Um dos grandes efeitos da carência afetiva é que ela leva a uma idealização desmedida do amor. Isso acontece de forma inconsciente. Surgem fantasias em torno dos efeitos salvadores ou reparadores do afeto.

Há um sentimento de que a vida, por fim, será plena se o amor bater à porta. Por isso mesmo, existe uma expectativa desproporcional diante do que o outro ser humano pode proporcionar.

As pessoas que não foram amadas enlouquecem um pouco quando encontram o amor em suas vidas. Elas não sabem exatamente o que fazer com ele. Não conseguem simplesmente deixá-lo fluir.

Elas não se aproximam com naturalidade e, além disso, tendem a desenvolver um conjunto de obsessões em torno do amor.

O mais normal é que as pessoas que não foram amadas acabem ficando obcecadas com o amor em um relacionamento. Desenvolvem um apego desmedido. É como se elas quisessem que o outro cuidasse delas, como a mãe ou o pai deveria ter feito na infância.

Por essa razão, eles costumam ser muito exigentes com o parceiro, e ao mesmo tempo desconfiadas e controladas. O amor se transforma em um grande problema.

Há saída?

Infelizmente, as pessoas que não foram amadas muitas vezes fazem do amor uma grande bagunça. Elas não veem a presença do afeto como um fator que enriquece suas vidas, mas como uma realidade que as enche de ansiedade.

Por essa razão, não é raro que elas mesmas acabem sabotando os relacionamentos amorosos com seus medos e suas demandas. Às vezes, também com seu sigilo e desconfiança. É possível que, após uma experiência afetiva negativa, acabem fugindo do amor para sempre.

Mulher chorando buscando apoio de homem

Não há outra forma de sair desta dolorosa situação a não ser reestruturar seu mundo emocional. Dificilmente isso pode ser alcançado sem ajuda profissional.

Nestes casos, é necessário retornar, mental e emocionalmente, às etapas da vida nas quais as feridas foram criadas. Encarar essas feridas de frente, limpá-las e cuidar delas até onde for possível.

Sempre ficará algo desse vazio, mas depois desse processo de enfrentamento também será muito mais fácil identificar onde dói, como dói e o que podemos esperar.

A probabilidade de estabelecer relações afetivas muito mais saudáveis aumenta notavelmente após esse processo. Assim, com algum trabalho, a ferida finalmente cicatriza.


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  • Machín Suárez, R., & Santana Romero, L. D. L. C. (2017). Hijas del desamor. Efectos de la perversión femenina materna en la constitución subjetiva de sus hijas.

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