5 dicas para lidar com o luto em datas especiais
O luto é um processo complexo e doloroso. Apesar de cada pessoa seguir o seu ritmo, demora pelo menos entre 6 meses e dois anos a percorrê-lo (Maciejewski, 2007) e, neste percurso, haverá momentos mais difíceis. Nas datas comemorativas, aniversários, Natal, por exemplo, a saudade e a tristeza reaparecem. Por isso, compartilhamos algumas dicas para encarar o luto em datas especiais.
Como vários autores apontam em Continuing Bonds (2014), o luto muitas vezes nunca termina. Progressivamente nos adaptamos a esta nova vida em que o falecido não está mais e aprendemos a funcionar novamente em sua ausência; mas é normal e esperado que certas emoções sejam recorrentes.
Assim, em vez de encobri-las ou nos obrigar a nos livrarmos delas, o mais saudável a fazer é aprender a administrá-las.
Luto em datas especiais: por que é complicado?
O primeiro ano após a perda de um ente querido tende a ser o mais desafiador e difícil. E isso se deve, em parte, ao fato de ser a primeira vez que vivemos uma série de datas especiais sem essa pessoa. Com a chegada de cada um desses dias, surge uma nova percepção de sua ausência que se torna mais dolorosa e palpável do que nunca.
Mesmo nos próximos anos, é possível que esses dias do calendário desencadeiem as chamadas dores do luto. Este termo refere-se a uma série de sentimentos que ocorrem inesperadamente e quando pensamos que o evento acabou, nos inundando de tristeza, angústia, medo ou vazio.
O problema reside não só no desconforto que essas emoções geram, mas também no fato de que é comum sentir-se culpado por sua presença. Muitas vezes a pressão social é forte e as pessoas esperam que, mais cedo ou mais tarde, você possa aproveitar sua vida novamente e se envolver nessas festividades como antes. Então, o que fazer diante desse acúmulo de experiências internas?
Chaves para encarar o luto em datas especiais
Seguindo as orientações de autocuidado propostas no Manual de Treinamento Fundasil e Unicef para Acompanhamento e Abordagem em luto , essas são algumas recomendações caso você tenha dificuldade em gerenciar suas emoções quando os eventos emocionais se aproximam.
1. Dê a si mesmo permissão para sentir
Validar suas próprias emoções é a principal tarefa a ser enfrentada agora. Não se culpe por sentir tristeza, medo, raiva ou saudade, não tente reprimir ou camuflar esse sentimento. É comum optarmos por essa estratégia, a fim de agradar ou não preocupar quem está ao nosso redor ou evitar reprovações de terceiros por nossa atitude.
No entanto, lembre-se de que você tem o direito de sentir o que sente e que somente deixando a dor entrar você a processará e a liberará.
2. Comunique-se de forma assertiva
Nesse ponto , é importante estabelecer limites ou comunicar claramente aos outros como você se sente e o que precisa. Se os comentários ou a pressão deles o magoarem, torne-o evidente de maneira assertiva.
Além disso, abra-se para se expressar e compartilhar seus sentimentos com os outros; esta é uma ótima maneira de liberar e regular as emoções. Como sugere um artigo publicado na Revista de Psicoterapia, é um fator essencial para evitar o luto complicado.
Considere também explicar às pessoas próximas a você como ajudá-lo. Você quer companhia naquele dia ou prefere ficar sozinho? Você precisa conversar ou gostaria de distrair sua mente em alguma atividade prazerosa? Não tenha medo de pedir ajuda para enfrentar o luto em datas especiais.
3. Tome decisões conscientes
Uma das questões mais comuns é aquela que aborda o dilema entre participar ou não das festividades ou reuniões nesses dias designados. A decisão depende de cada um, pois é tão legítimo querer participar como preferir ficar à margem.
É provável que a tristeza e a saudade gerem um primeiro impulso para se isolar e evitar aquela comemoração que te confronta com a dor. Mas evitar nem sempre é a melhor estratégia, pois pode perpetuar o desconforto e atrasar a recuperação.
Por isso, em todo caso, reflita sobre o que você realmente precisa neste momento e tome uma decisão consciente, sem se deixar levar pelo medo ou pelas pressões alheias. Lembre-se que é uma opção transformar as tradições existentes, fazendo algo novo com elas; desta forma, o início de uma nova etapa da vida é simbolizado.
4. Honre a memória de seu ente querido
Os rituais são um recurso valioso durante o luto (Rivas, 2010). E é que esses pequenos atos nos permitem lembrar do ente querido, honrar sua memória e mantê-lo presente durante as comemorações ou eventos.
Pode colocar uma fotografia dessa pessoa a presidir à mesa ou partilhar em família os melhores momentos que cada um viveu com aquela pessoa.
As opções são múltiplas e a única exigência é que esse ritual faça você se sentir bem e ajude a processar essas sensações incômodas e transformar a dor em uma emoção mais próxima da calma e da gratidão.
5. Deixe espaço para o bem-estar
Por fim, lembre-se de que, se as emoções negativas têm espaço neste momento, as positivas também. Muitas vezes, após uma perda, negamos a nós mesmos o direito de desfrutar, ter calma ou viver belos momentos, pois entendemos isso como uma espécie de traição a alguém que não está mais presente.
Lembre-se de que assistir a um encontro agradável não elimina o amor por aquela pessoa ou a saudade de sua ausência; é apenas um passo saudável em frente. Tente afastar a culpa que surge em tais circunstâncias.
Gerenciar o luto em datas especiais é uma decisão pessoal
As dicas acima são apenas algumas que ajudam, mas é você quem decide como administrar esses momentos.
Lembre-se de ouvir a si mesmo, prestar atenção às suas necessidades e atender às suas emoções. Tome as decisões que achar melhor e valide seu processo. Cada pessoa tem seu próprio ritmo.
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- Bermejo, J. C., Magaña, M., Villacieros, M., Carabias, R., & Serrano, I. (2012). Estrategias de afrontamiento y resiliencia como factores mediadores de duelo complicado. Revista de psicoterapia, 22(88), 85-95. https://revistas.uned.es/index.php/rdp/article/view/35066
- Figueroa, M., Cáceres, R., & Torres, A. (2020). Manual de capacitación para acompañamiento y abordaje de duelo. Fundación Silencio. https://www.unicef.org/elsalvador/media/3191/file/Manual%20sobre%20Duelo.pdf
- Klass, D., Silverman, P. R., & Nickman, S. (2014). Continuing bonds: New understandings of grief. Taylor & Francis. https://www.taylorfrancis.com/books/edit/10.4324/9781315800790/continuing-bonds-dennis-klass-steven-nickman-phyllis-silverman
- Maciejewski, P. K., Zhang, B., Block, S. D., & Prigerson, H. G. (2007). An empirical examination of the stage theory of grief. Jama, 297(7), 716-723. https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/205661
- Rivas Bárcena, R. (2010). Duelo y rituales terapéuticos desde la óptica sistémica. Revista Electrónica de Psicología Iztacala, 11(4). https://www.iztacala.unam.mx/carreras/psicologia/psiclin/vol11num4/Vol10No4Art8.pdf