Expectativas insatisfeitas no relacionamento: eu te amo, mas falta algo

Estabelecemos expectativas muito elevadas em nossos relacionamentos de casal? Muitas vezes, de tudo o que sonhamos e esperamos desse vínculo, ficamos com o mínimo, com um amor que não satisfaz nem alimenta, com vazios que conduzem à solidão...
Expectativas insatisfeitas no relacionamento: eu te amo, mas falta algo
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

Um dos problemas mais comuns atualmente são as expectativas insatisfeitas no relacionamento de casal. Muitos de nós entramos em um relacionamento “com a roupa do corpo” e o coração aberto. Dizemos a nós mesmos que é definitivo, que desta vez finalmente encontraremos aquela estabilidade afetiva para crescer junto com alguém em um mesmo projeto. Até que, aos poucos, surge o frio da decepção.

“Você tem muitas ilusões e não é realista”, dizem, “você estabelece expectativas muito altas e é por isso que acaba se decepcionando”, insistem outros. Talvez seja isso mesmo. Pode ser que façamos um uso excessivo de castelos no ar e coloquemos muitas esperanças em alguém que, afinal, ainda não conhecemos o suficiente.

No entanto, há algo que devemos considerar: ter expectativas é muito bom. Com elas, colocamos no horizonte tudo o que desejamos: ser feliz, sentir-se correspondido, amado, e iniciar um novo período de vida em que apesar de não faltarem dificuldades, os desafios valerão a pena.

Se alguma coisa falhar, surge o vazio, a carência e a clara sensação de que falta algo.

O triste fim de uma relação

O que podemos fazer diante das expectativas insatisfeitas no relacionamento?

As expectativas constroem a estrutura dos nossos relacionamentos, sejam eles de casal, amizades ou familiares. Neles depositamos o que esperamos dos outros a curto e longo prazo, definimos os nossos desejos, esperanças e o que consideramos essencial para nos sentirmos seguros, satisfeitos e felizes. Como já dissemos, é correto construí-las, defini-las e até colocá-las em nosso horizonte.

O problema surge quando “o que eu espero” não acontece, quando a recompensa esperada não está presente nesse relacionamento. Geralmente, as expectativas não se cumprem quando as suposições sobre esse futuro eram excessivas e irreais. Isto é, quando nós mesmos fazemos “viagens mentais” sonhando com o impossível.

A outra razão é óbvia: as nossas expectativas eram ajustadas e concebíveis, mas o que estamos vivenciando não atinge um nível mínimo de satisfação. Às vezes, o desapontamento abre caminho como uma rachadura sob os nossos pés. O que vivemos no dia a dia não é o que esperávamos. O amor ainda existe, mas não parece ser suficiente.

Vamos nos aprofundar um pouco mais neste assunto.

É ruim ter expectativas em um relacionamento de casal?

Muitas vezes, diz-se que é melhor viver deixando espaço para o inesperado do que abrigando expectativas. Pode ser verdade. No entanto, como seres racionais, precisamos ter um senso mínimo de controle sobre os eventos.

As expectativas são crenças pessoais, suposições futuras sobre o que gostaríamos que acontecesse. São também mecanismos sofisticados que nos permitem antecipar ou imaginar certos fatos para saber como reagiríamos a eles. Portanto, sabendo disso… é ruim nutrir expectativas em um relacionamento de casal?

  • Não, não é contraproducente desenhar em nossa mente uma série de expectativas sobre como gostaríamos que fosse esse relacionamento.
  • No entanto, essas ideias devem ser realistas, precisas e tão objetivas quanto possível.
  • Por exemplo, é normal esperar não ser traído, que essa relação será duradoura e não será rompida depois de dois meses. É correto ter expectativas de que seremos apoiados em dias difíceis, de que teremos alguém em quem confiar…

Como agir ao notar expectativas insatisfeitas no relacionamento de casal?

Existem muitas pessoas que sentem que as suas expectativas em relação a um parceiro não são satisfatórias. Estão decepcionadas e, às vezes, até desiludidas quando percebem que muitas das coisas que esperavam não estão acontecendo. O amor está aí e sabemos que somos correspondidos, mas mesmo assim, há muitas coisas desafinadas nessa partitura relacional.

O que podemos fazer nessas situações?

  • Estou sendo realista? A primeira coisa é fazer um ato de reflexão. Será que tivemos ideias irrealistas sobre como pensávamos que seria o nosso relacionamento? É sempre bom esclarecer de onde vêm muitas das nossas ideias e necessidades e por que estão aí. Se percebermos que muitas delas são ilusórias e mal ajustadas, teremos que repensá-las. Isso evitará frustrações e decepções.
  • As suas expectativas e as minhas coincidem? Quando nos sentimos insatisfeitos, quando percebemos que as coisas não estão indo como pensávamos, é hora de parar e conversar. É preciso deixar claro o que esperamos um do outro. Às vezes, esse tipo de conversa pode revelar que não temos os mesmos objetivos, ou que talvez estejamos negligenciando coisas que são importantes.
  • O que estamos fazendo para atender às nossas expectativas? Caso ambos tenhamos os mesmos objetivos, caso o nosso compromisso um com o outro seja o mesmo, é hora de deixar claro se os estamos cumprindo. Às vezes, consideramos as coisas como certas e, na verdade, o que estamos conseguindo é deixar de nutrir o relacionamento.
Casal no trilho do trem

Uma viagem a dois em que as expectativas e o inesperado podem coexistir

As expectativas insatisfeitas no relacionamento de casal costumam levar a uma separação. Isso acontece quando a pessoa acaba tendo a sensação de que cada um viaja separadamente nesse caminho. É o mesmo vagão, o mesmo bilhete, mas cada um segue um curso diferente. São situações complexas pelas quais muitas pessoas já passaram em algum momento da vida.

O mais apropriado em todos os casos é definir expectativas realistas e bem ajustadas sobre o que queremos e o que não queremos. Sobre o que se vê como prioritário e o que se considera intolerável (decepção, incompreensão, mentira, frieza emocional…). Uma vez estabelecidas e compartilhadas essas expectativas, é sempre bom deixar espaço para o inesperado, para o que nos permite descobrir a nós próprios, para enfrentar juntos os desafios e continuar a crescer.

Afinal, encontrar um parceiro não é encontrar alguém que corresponda 100% a todas as suas expectativas e desejos. É encontrar alguém cuja jornada complemente a sua.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Baillo, M.; Larumbe, M. A.; Ramos, T y Serrano P. (1995). Las relaciones interpersonales: El conflicto en la pareja. En J. C. Sánchez, A. M. Ullán (Comps.) Procesos Psicosociales Básicos y Grupales (pp. 621-636). Salamanca: Eudema.

  • Lee, J. A. (1976). The colors of love. Englewood Cliffs: Prentice-Hall.

  • Rivera A., S.; Díaz L., R. y Flores G., M. (1988). La distancia entre el querer (ideal) y el tener (real) como predictor de la satisfacción con la relación de pareja. La psicología social en México, II. 179-183.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.