Dou-me ao luxo de me afastar daquilo que esgota a minha paciência

Dou-me ao luxo de me afastar daquilo que esgota a minha paciência

Última atualização: 08 novembro, 2016

No meio dos anos 70, uma série de experimentos de laboratório feitos por Robert Zajonc demonstraram que a exposição de indivíduos a estímulos familiares era suficiente para que eles fossem classificados de uma maneira mais positiva, em comparação a estímulos similares que, no entanto, ainda não haviam sido  apresentados. Esse efeito é conhecido como o efeito da “mera exposição” ou “efeito de familiaridade”, e é algo que motiva os investimentos em publicidade.

Ou seja, esse experimento afirma que ainda que algo não seja muito atrativo, vamos nos acostumar com a sua presença pelo mero fato de nos familiarizarmos com ele. No entanto, a psicologia humana é um pouco mais complexa. Atingindo um determinado ponto, ainda que algo nos seja apresentado muitas vezes, pode deixar de resultar familiar para passar a sobrecarregar, a ser pesado e desmotivador.

O ditado de que “podemos nos acostumar até com o pior” não parece se cumprir sempre na realidade. Existem fatos que foram prejudicando nossa paciência e desejamos que deixem de ser comuns, queremos que esse mal esteja fora da nossa vida. Esse é o luxo de nos afastarmos daquilo que esgota a nossa paciência. É um luxo porque às vezes está fora do nosso alcance, e porque seus benefícios costumam ser um completo elixir de serenidade e calmaria.

Levar nossa paciência ao limite: um jogo nada divertido

Existem muitas habilidades que tornam-se assombrosas quando são postas à prova em situações extremas. Não ocorre o mesmo com a paciência, essa capacidade que parece se esgotar e se consumir com determinadas pessoas e situações que a levam ao limite com bastante frequência.

Pessoas que pedem “perdão” continuamente, que justificam erros recorrentes, explosões e falta de consideração. Situações monótonas e eternas, que se reproduzem no tempo uma e outra vez, variando de forma, mas não na substância: você sempre acaba exausta, dolorida e irritada.

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Todo esse acúmulo de sensações nos leva a uma reflexão sobre a teoria, mas não sobre a prática: brincar com a nossa paciência não é algo divertido, é esgotante e frustrante. Fazer “vista grossa” uma e outra vez a respeito de atitudes que nos machucam é o oposto da maturidade, é masoquismo emocional.

Valorizar minha paciência

Antes de analisar e julgar aquilo que prejudica a nossa paciência, deveríamos analisar a nós mesmos. Se você volta a se expor continuamente a aquilo que o irrita, está expondo o seu corpo descoberto a um batalhão de facas cada vez mais afiadas, cada vez mais precisas e certeiras no dano que causam em você.

Se você já sabe o que tem que fazer e não o faz, não é uma responsabilidade alheia, mas sim apenas sua. Você já sabe ao que está se expondo, então ter uma nova decepção é uma questão de tempo. Você está brincando de roleta russa com sua paciência e dignidade. Ainda que acredite que o faz para não evitar conflitos com pessoas que gosta, está concedendo carta branca a tudo aquilo que não tem consideração por você.

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Portanto, a paciência é uma capacidade limitada. É uma virtude quando a colocamos a serviço de algo que nos interessa ter a longo prazo ou quando precisamos bastante em situações excepcionais, como uma grande travessura de criança ou suportar um atraso de alguém.

Por isso, a paciência não deve nos definir, mas nos caracterizar: tenho paciência para aquilo que merece ou para aquilo que não encontro outro remédio. Não tenho paciência para aquilo que me irrita sem motivo aparente de forma contínua, esperando de mim absoluta complacência e silêncio. Isso não é ser paciente, isso é machucar-se sem necessidade alguma, sem ter outra recompensa certa a não ser a dor.

Colocar limites nos outros para que a nossa paciência não chegue ao seu limite

A chave para conservar nossa paciência naquilo que realmente precisa dela é não gastá-la com aquilo que não a requer. Se uma amiga sempre muda os planos de acordo com a sua conveniência, se um companheiro de trabalho chega sempre tarde ou se alguém mente de maneira costumeira, devemos fazer com que ele veja que não gostamos do seu comportamento e que não estamos dispostos a seguir tolerando isso.

O silêncio a respeito de atitudes e comportamentos que nos machucam nos converte em cúmplices da dor que outros nos causam. A bondade e a paciência têm um limite, e é a perda da ingenuidade de supor que as coisas vão mudar sozinhas, sem que a gente tome partido da situação que nos afeta de forma direta.

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Afastar-se daquilo que esgota a sua paciência é um luxo e uma boa decisão, pois não temos que voltar a transitar pelos caminhos em que na maioria das vezes encontramos desculpas, mentiras, desconsideração ou desprezo. Querer guardar sua paciência é gostar de si mesmo.

Algumas pessoas ficarão surpresas por seguir esse caminho saudável, já que carecem de um senso de autocrítica e não estão conscientes de que a sua paciência é um bem limitado, e de que a energia para suportar contínuos desaforos tem que ser utilizada de uma maneira melhor.

A paciência deve ser dirigida para algo que lhe devolva sempre mal-estar e nervosismo. Por mais familiar que isso tenha sido em nossas vidas, todo mundo tem a capacidade para dizer “chega” ou “não quero mais suportar isso”. Nossa paciência é um valor, mas também um farol que identifica as pessoas que só a colocam à prova de maneira informal.


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