Como o medo da decisão nos afeta?

Como o medo da decisão nos afeta?

Última atualização: 25 agosto, 2017

Poucos medos são tão difundidos e tão compartilhados quanto o medo da decisão. Decidir é uma tarefa na qual supostamente somos especialistas: decidimos todos os dias e a cada instante. Contudo, às vezes nos sentimos travados e não sabemos qual opção escolher.

A incapacidade de tomar uma decisão pode ser vivida por pessoas de diferentes culturas, profissões, nível de escolaridade ou padrão socioeconômico. Vivemos em uma sociedade carregada de informação e conhecimentos, que coloca a nossa disposição e permite uma grande variedade de opções para (quase) tudo.

Por outro lado, podemos pensar, de cara, que contar com diferentes fontes de informação e opções poderia facilitar a tomada de decisão. Contudo, muitas vezes é o fato de contar com tantas opções que torna a tarefa de decidir tão difícil e nos conduz ao bloqueio.

Uma das causas mais frequentes para esse bloqueio, senão a principal, na tomada de decisões é uma emoção: o medo de decidir. Podemos nos sentir bloqueados, por exemplo, diante da dúvida de continuar ou não o relacionamento amoroso, mudar de profissão ou trabalho, ter filhos, escolher uma profissão, etc.

Diante de situações importantes das nossas vidas ou decisões que não são reversíveis, o medo de decidir pode ser muito poderoso. Pode nos levar a postergar a decisão, com a incubação do mal-estar que isto implica. Isto é, se eu não sei o que fazer ou que caminho seguir, deixo a decisão para depois. Podemos fazer isso com a esperança de que apareça uma informação nova que nos dê segurança ou que seja a própria passagem do tempo a selar algumas das opções que mais nos bloqueiam. Como vemos, o medo de decidir influencia bastante as nossas vidas.

O medo da decisão pode assumir diferentes formas, as quais, por sua vez, desencadeiam diferentes problemas ou sintomas de mal-estar emocional.

O medo de tomar uma decisão

O medo de tomar uma decisão errada

Podemos dizer que este medo é o mais frequente. Quanto mais importante for a decisão, maior tende a ser o medo de errar. Falamos de um medo que tem uma função adaptativa muito importante: agir com cautela e proteger a si mesmo e aos outros. Percebemos um grande precipício e nos decidimos.

O medo de errar é um tipo de medo relacionado à responsabilidade que temos sobre uma escolha. Nos faz refletir e analisar as possíveis opções antes de tomar uma decisão. É um medo que está muito presente em situações que implicam uma mudança que é difícil ou impossível de reverter, e cujas consequências serão importantes.

Algumas pessoas também podem sentir um forte medo de decidir em situações que são reversíveis e têm baixa ou média importância, e até chegam a um alto nível de ansiedade. Costumam ser pessoas muito racionais que só seguem as diretrizes da sua intuição em pouquíssimos casos.

As consequências do medo da decisão

Sentir medo diante da possibilidade de não escolher o caminho correto pode nos tornar impotentes. Pode nos levar a um estado de indecisão sustentado, a tempos de reação prolongados e à busca exaustiva de informação externa com relação a qual decisão é melhor tomar.

Um dos principais desdobramentos do medo de errar é a busca de informação ou conclusão definitiva. Isto é, vivemos a falsa crença de que pensando chegaremos a uma conclusão segura e certeira que acabará com o risco de pisar na bola.

Um medo intenso de errar pode causar o que na psicologia é chamado de “dúvida patológica”. A dúvida patológica se caracteriza por uma busca obsessiva pela certeza absoluta, a qual é reforçada por uma compulsão mental que se expressa através do pensamento constante de dúvidas.

Como tomar uma boa decisão?

O medo de não estar à altura

Neste caso, nos referimos a situações onde a pessoa sabe qual decisão quer tomar, mas não sabe se conseguirá lidar com os efeitos ou consequências dessa decisão. Por exemplo, uma pessoa que tem que decidir se fará ou não uma apresentação em um congresso pode acabar declinando o convite pelo medo de não estar à altura dos outros apresentadores, das expectativas dos outros ou das suas próprias.

O medo de não estar à altura pode nos levar a evitar papéis de responsabilidade, nos concentrarmos em tomar decisões de pouca importância e delegar aos outros aquelas decisões mais relevantes ou de maior peso. Os problemas que este medo produzem costumam estar relacionados com o sentimento de pouco valor próprio ou baixa autoestima.

Além disso, o medo de não estar à altura pode nos levar a deixar passar oportunidades por sentirmos que não estamos suficientemente preparados para as exigências da situação. Falamos de um medo que nos mantém dentro de nossa zona de conforto e limita nosso crescimento pessoal. Portanto, uma forma eficaz de superar o medo de não estar à altura é trabalhar para melhorar a própria autoestima.

O medo de não ter o controle ou de perdê-lo

Este medo aparece naquelas pessoas com elevada necessidade de controle. Se uma pessoa com elevada necessidade de controle percebe que nem tudo que a decisão implica está sob seu controle, o processo de tomada de decisão fica paralisado. Por exemplo, muitas pessoas acabam rejeitando um trabalho que envolve projetos em grupo por esse motivo.

Administrar a necessidade de controlar tudo ou se relacionar com um fanático do controle pode ser um desafio bastante estressante, já que se trata de uma necessidade muito poderosa. Em casos extremos, a necessidade de controle se observa em pessoas com o Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsivo.

Como identificar o medo de perder o controle?

O medo de não ter o controle nas mãos ou de perdê-lo pode ser observado tanto durante o processo de tomada de decisão, quanto no momento de enfrentar as consequências. Os efeitos desse medo durante o processo de tomada de decisão costumam ser:

  • A pessoa precisa revisar toda a informação disponível antes de decidir.
  • É necessário um tempo indefinido para pensar na decisão.
  • São analisados diversas vezes os prós e os contras das possíveis opções.

Também podemos observar o medo de perder o controle quando a decisão implica uma mudança na capacidade de controle que a pessoa tem. Isto é, controlamos a tomada de decisão, mas a opção que queremos escolher implica cedermos parte do nosso próprio controle. Fazer a si mesmo a proposta de não controlar os resultados de alguns eventos pode ser uma boa forma de começar a perder este medo.

Medo da rejeição social

Sentir-se querido, respeitado e aceito é uma das necessidades básicas do ser humano. O medo da rejeição social é muito frequente em situações onde é preciso tomar uma decisão e todas as opções possíveis são, de certa forma, prejudiciais.

Nos referimos a situações nas quais escolher uma opção leva inevitavelmente a descuidar de uma parte das próprias necessidades ou das necessidades dos outros. Por exemplo, situações onde estamos em posição de arbitrar um confronto e precisamos tomar uma decisão a favor ou contra uma das partes envolvidas.

O medo da decisão

Problemas que o medo da rejeição social provoca

O medo da rejeição social gera diferentes problemas, como a tomada de decisão baseada na aprovação dos outros, e não nas necessidades pessoais. Em vez de escolher aquilo que nos faria mais felizes ou seria mais benéfico, quando temos medo da rejeição social escolhemos aquilo que os outros gostariam ou que projeta uma melhor imagem de nós mesmos.

Para trabalhar o medo da rejeição social é possível usar técnicas da Terapia de Terceira Geração, como por exemplo a Terapia da Aceitação e Compromisso. Estas técnicas orientam a pessoa a aceitar certos aspectos da sua vida e pensamentos que não pode mudar e a ajudam a tomar decisões segundo seus valores e necessidades pessoais.

Lembre-se de que tomar decisões é uma tarefa à qual você não pode renunciar, nem delegar. Elas são o seu leme e as que vão decidir o seu futuro e o tornam responsável por ele. No caso de que algum dos medos que descrevemos esteja paralisando-o, você sempre pode consultar um profissional para obter ajuda.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.