As opiniões, nossos julgamentos pessoais da realidade

As opiniões, nossos julgamentos pessoais da realidade
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 18 março, 2018

Quando começamos a formar opiniões e julgamentos pessoais? Começamos a fazer isso desde pequenos e os construímos com base em nosso ambiente e em nós mesmos. Uma opinião se define como ideia, julgamento ou conceito que uma pessoa tem ou forma sobre algo ou alguém. As opiniões são respeitáveis e sua heterogeneidade representa uma inquestionável fonte de riqueza e inspiração para a criatividade.

Escutando o que os outros pensam e opinam, temos a oportunidade de refletir sobre outros possíveis pontos de vista. E dissemos refletir porque isso não significa que cada opinião seja uma verdade! São simplesmente julgamentos pessoais, sem garantia de validade, tanto os dos outros quanto os nossos. Nesse sentido, as opiniões sempre contam com um ponto de subjetividade.

“A serena razão foge de todo extremismo e deseja a prudência moderada.”
-Molière-

Uma opinião não é uma verdade, também não é uma notícia ou um fato

Por isso é tão importante diferenciar as opiniões das afirmações baseadas em fatos comprovados, aquelas verdades que podem ser constatadas (não argumentadas). Uma opinião não é uma verdade, não é possível afirmar uma opinião. A opinião pode estar mais ou menos fundamentada, mais ou menos argumentada. Por outro lado, formar opiniões sobre pessoas ou situações levianamente promove diferentes níveis de injustiça que não têm uma base firme e também não têm um fundamento válido.

Mulher de olhos fechados

É muito importante saber que nossa mente trabalha com a informação que tem em cada momento, de maneira que as opiniões definidas e lançadas com pouca informação não costumam sobreviver a um debate no qual se usa argumentos de peso. Em qualquer caso, não devemos nos esquecer, ao contrário do que todos nós já pensamos em algum momento, de que mudar de opinião quando há argumentos sólidos que nos levam a isso é uma atitude inteligente.

Outra consequência de ver as opiniões como o que elas são, um voto de confiança que sempre envolve um certo risco, é a prudência na hora de emitir sua própria opinião. As pessoas que as veem assim costumam reunir uma boa quantidade de informação antes de compartilhar suas opiniões, assim como costumam escutar com atenção os argumentos dos demais.

O que acontece quando damos nossa opinião nas conversas?

É essencial separar as opiniões das afirmações. Se não fizermos isso, as consequências não serão agradáveis e em muitas situações essas opiniões ou a maneira de expressá-las como afirmações podem e costumam ferir. Por isso a importância deste conceito: as opiniões são utilizadas com muita frequência como verdades, esquecendo-se de que se tratam de julgamentos pessoais.

L. Austin, em “A teoria dos atos de fala”, diferencia dois territórios: o território das afirmações e o território das declarações. As opiniões (julgamentos pessoais) fazem parte do território das declarações. Um território que está relacionado com a validade e a coerência, e não com a veracidade. A certeza de possuir a verdade e ter razão nesse território é uma armadilha! Uma ilusão ou uma miragem, como poderíamos enxergar num deserto. Além disso, não costuma deixar espaço para outras formas distintas de pensar (modelos mentais) ou para desenvolver a abertura da mente, nos impedindo de ser conscientes de que a experiência pessoal é uma realidade condicionada.

O que acontece com quem cai na armadilha dos julgamentos pessoais?

As pessoas assumem que a realidade tem que se ajustar ao que percebem, de maneira que os demais deveriam perceber a mesma coisa. Em todo caso, se não fizerem, seriam distorções da percepção delas, nunca da nossa. Essas pessoas se transformam em “sincericidas”, dão sua opinião sem que a mesma seja pedida, utilizando como desculpa a abusada sinceridade que é colocada como virtude para cometer “sincericídios”. Quantos sincericidas impondo sua verdade!

Dessa maneira, ficam presos nesse impasse que impede a adoção de outras formas de pensamento (modelos mentais). Elas precisam ter razão para se sentirem seguras e protegidas… Quanta importância dão para ter razão! Essa necessidade que às vezes se transforma em imperiosa e faz com que desentendimentos racionais se transformem em discussões muito acaloradas e sem sentido.

Pessoa com nuvem na cabeça

Por que o ato de mudar de opinião é tão repreendido?

Por que essa necessidade de se reafirmar continuamente nas nossas opiniões? Quando muitas vezes a única coisa que acontece é que mudamos de opinião sobre algo ou alguém, dando uma boa amostra da nossa flexibilidade e abertura da mente, e sendo coerentes com a nova informação que recebemos. Em nenhum momento uma simples mudança de opinião nos fará deixar de ser quem somos!

Por outro lado, é possível compartilhar opiniões, reflexões e pensamentos, mas não por isso vamos ter razão. Apenas compartilhamos uma mesma visão sobre algum tema. Pode ser de uma forma mais ou menos coerente, podem ser opiniões mais ou menos válidas… Mas não vamos cair na armadilha de pensar que qualquer opinião, hipótese ou previsão é mais real do que outra! Assim, Steve Jobs, no seu famoso discurso na Universidade de Stanford em 2005, disse:

“Não se deixem ser pegos pelo dogma de viver com os resultados dos pensamentos das outras pessoas. Não permita que o ruído das opiniões dos demais abafe a sua própria voz interior”.
-Steve Jobs-


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