Os pactos de silêncio nos dramas familiares

Os pactos de silêncio nos dramas familiares
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 02 maio, 2018

Os pactos de silêncio são acordos que, no geral, nem sequer acontecem explicitamente. Implicam um compromisso de se calar diante de um determinado tema ou determinados acontecimentos, ou determinadas pessoas. Partem do pressuposto de que falar pode trazer consequências desastrosas.

O comum é que estes pactos de silêncio girem em torno de um tema caracterizado como tabu. O tabu implica algumas crenças. Neste caso, a crença de que se deve evitar falar sobre determinado tema, pelas consequências em termos de ruptura com o sagrado. Ou com um princípio social muito sólido. Ou talvez com algum valor muito respeitado.

“Às vezes, o silêncio é a pior mentira.”
– Miguel de Unamuno –

Em toda família há assuntos que são difíceis de serem discutidos; uma morte trágica, o suicídio de alguém, uma gravidez fora do casamento, etc. No entanto, uma coisa é ter dificuldade de falar sobre determinado assunto, e outra muito diferente é selar pactos de silêncio.

Isso é feito apenas quando as consequências vão além de uma simples vergonha ou incômodo.

Homem reflexivo no mar

Os pactos de silêncio e as transgressões

Dizem por aí que “não se fala do que não existe”. Essa é a lógica que parece ser predominante nos pactos de silêncio. Cala-se para fingir que os fatos nunca aconteceram. E, como o fingimento é coletivo, fica mais fácil expulsar o que aconteceu da consciência.

Há, além de tudo, dois grandes grupos de assuntos que gravitam sobre os pactos de silêncio no ambiente familiar e também no plano social. Um deles são os crimes e o outro é tudo relacionado com a sexualidade. Tanto um quanto o outro, eventualmente, têm sérias consequências na psique dos envolvidos.

Às vezes pode haver, também, implicações legais. Dessa maneira, os temas sobre os quais nos calamos têm a ver com roubos, assassinatos ou com uma trajetória criminal. Isso, por um lado. Por outro lado, referem-se também a relações sexuais proibidas. Entram aqui os incestos, abusos sexuais, relações homossexuais e assuntos semelhantes. Todos eles são assuntos que poderiam partir em dois a história de uma família.

O peso do silêncio

Os pactos de silêncio muitas vezes envolvem várias gerações. A geração na qual os fatos acontecem proíbe o assunto, e essa proibição é herdada. É comum perder o sentido da verdade no decorrer do tempo, e o que fica é o peso do silêncio sobre este algo terrível. Calar dá uma conotação mais terrível ainda ao assunto.

O silêncio é uma forma de reprimir, de encapsular, de conter de forma forçada. No entanto, como tanto enfatiza a psicanálise, toda repressão retorna. Calar-se sobre algo nunca é um sucesso. Sempre há uma rachadura pela qual a verdade escapa e chega a exercer uma grande influência.

As marcas do que não foi dito sempre ficam presentes de alguma forma. Na forma de sentir, de agir, de pensar, etc. Os silêncios transformam-se em fobias ou doenças, ou em culpas mudas e atmosferas estranhas. O silêncio pesa, inclusive, em quem não faz parte dos pactos de silêncio familiar.

Reflexo de homem com pássaros voando

Os efeitos dos pactos de silêncio

Recusar-se a falar sobre o assunto tem consequências imprevisíveis. No começo trata-se de uma verdade confidencial que dá origem, na maior parte das vezes, a um trauma. E os traumas dão abertura a um interminável ciclo de repetições.

Por isso não é tão difícil encontrar famílias nas quais, por exemplo, aconteceu um abuso sexual do qual todos têm conhecimento, mas do qual nunca se falou; é comum que experiências similares aconteçam em outras gerações. 

O mesmo acontece com todos os atos proibidos. Sem perceber, as pessoas educam umas às outras para que carreguem uma culpa silenciosa, ou para que se castiguem. Isso é algo que lhes escapa do controle, porque está em seu inconsciente.

A culpa, a dor, a força do ocorrido não é simplesmente dissipada através destes pactos. Muito pelo contrário; ganham vida, se transformam num fantasma nunca visto, mas que está sempre presente e que acompanha muitas famílias.

O silêncio adoece e a palavra cura. A única maneira de exorcizar os fantasmas de um acontecimento abominante é falando sobre ele.

Isso evita que muitas famílias causem um profundo mal-estar nos que estão vivendo no presente e, também, nos que virão no futuro. Elimine esse estranhamento, encare-o de frente para que a vida deixe de ser tão pesada.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.