Quando os pais usam a culpa para educar

Quando os pais usam a culpa para educar
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 12 fevereiro, 2018

Ainda são muitos os pais que pensam que é válido usar a culpa para educar. Pensam que a recompensa e o castigo são a base de uma boa formação. Isso é eventualmente verdadeiro, especialmente em idades muito jovens, mas também é preciso entender que é um passo que deve ser superado.

A culpa dá lugar a um mal-estar emocional. Nasce de uma sanção simbólica e social. No entanto, a culpa não leva à responsabilidade. Também não promove a autonomia, nem permite que cada pessoa escolha com liberdade os valores em que acredita ou não. Ao utilizar a culpa para educar, na verdade não se educa, mas se condiciona a criança.

“Através da ignorância se descende à servidão, pela educação se ascende à liberdade”.
-Diego Luis Córdoba-

É verdade que usar a culpa para educar aumenta o controle que se tem sobre a criança. Isso facilita o trabalho de um pai autoritário. O pequeno se enche de medos, de condicionamentos morais e, portanto, se torna mais gerenciável. Ele obedece mais facilmente porque sua vontade se torna mais fraca. Sai menos das normas, porque o medo de fazê-lo é muito forte. Então, irá se tornar uma pessoa dócil, mas não livre, nem feliz.

A culpa para educar acaba com a autoestima

Uma criança precisa de orientação, mas essa deve ser oferecida em termos que lhe permitam se reafirmar. A culpa usada para educar faz o contrário: faz a criança sentir que o que  faz, sente, deseja ou pensa não é aceitável.

Criança comendo

Vamos ver isso com um exemplo para entender melhor. A criança não quer comer vegetais. Seu sabor geralmente tem um toque amargo do qual ela não gosta. A partir de uma perspectiva que usa a culpa para educar, você dirá que uma criança boa deve comer o que é servido, sem protestar. A partir de uma abordagem que busca a reafirmação, dirá que os campeões comem vegetais porque eles proporcionam muita força.

Nenhuma criança age para irritar seus pais. Pelo contrário. O que ela quer é agradá-los e fazer com que se sintam bem com ela. Sua imaturidade emocional é o que as leva a não se conformarem com certos preceitos ou normas. O que se deve fazer é ajudá-las a entender a razão de ser desses preceitos.

A culpa impede o desenvolvimento da consciência

Educar não é ensinar uma criança a obedecer as regras cegamente. Educar com culpa leva precisamente a isso. Isso induz a criança a acreditar que é necessário agir de acordo com o que as figuras da autoridade determinam. Isso as faz pensar que as figuras são inquestionáveis, e que questioná-las leva à uma conduta imoral.

O que se consegue é marcar uma ruptura entre o querer e o dever. O último é o que sempre tem que prevalecer. Mas a parte mais séria disso é que essa abordagem contribui para deteriorar a capacidade crítica. Desta forma, jamais aparece uma consciência real dos atos.

Mãe brigando com sua filha

Há consciência ao escolher livremente como agir, quando é a razão própria a que determina o que é bom e o que é ruim. Se uma pessoa tem uma ampla margem de consciência, dificilmente pode ser manipulada, reduzida ou usada. Mas se alguém é constantemente condicionado pela culpa, não chega a dar valor aos seus raciocínios. Sempre depende da aprovação de uma autoridade para agir.

Educar sem culpa

Ao nascer, os seres humanos são egocêntricos. Para um bebê e uma criança pequena, não há possibilidade de ver o mundo além de suas próprias necessidades. Nesse momento, o papel dos pais é fundamentalmente atender a essas necessidades e permitir que a criança se sinta em um ambiente seguro. Isso irá semear uma semente de confiança e amor próprio.

Com o desmame e o controle dos esfíncteres, o longo caminho para a inserção começa em um quadro normativo, isto é, em uma cultura. É óbvio que as limitações e as restrições causam frustração e, portanto, rejeição. A criança tem dificuldade em assimilar que o mundo não começa ou acaba nela. Isso cria atritos que, de qualquer forma, não deveriam levar a usar a culpa para educar.

Pai sendo carinhoso com sua filha

Neste longo processo de desenvolvimento, o ideal é que os pais ensinem a criança a pensar de acordo com as consequências de suas ações. Para isso, é importante que a ajudem a reconhecer suas emoções, seus desejos, os limites destes e os motivos para estes. A margem para que aprenda a escolher, a decidir, deve ir sendo implantada gradualmente. Esses processos nunca ocorrem de maneira perfeita, basta que a intenção de mantê-los seja genuína e constante.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.