Vício em séries, um novo (e lucrativo) estilo de vida

Assistir séries é muito mais do que um prazer. Atualmente, é quase um modo de vida ao qual dedicamos cada vez mais horas. As grandes indústrias sabem disso e, aos poucos, vão se sofisticando nas técnicas para criar verdadeiros viciados em streaming.
Vício em séries, um novo (e lucrativo) estilo de vida
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Colocamos um episódio de uma série à noite para descansar e, quando percebemos, já é de madrugada e vimos quase toda a temporada. Quem nunca passou por isso? As grandes indústrias sabem disso e veem no vício em séries uma mina de ouro em que o negócio de streaming tem acumulado valores cada vez mais milionários nos últimos anos.

A verdade é que os grandes líderes desse mercado, como a Netflix, a HBO, a Amazon e a Disney, há muito vêm acumulando cada vez mais assinantes. Já faz algum tempo que o consumo deste tipo de produto audiovisual faz parte do nosso estilo de vida em um nível tão profundo e sibilino que passa completamente despercebido.

As séries fazem parte das nossas conversas diárias. Elas estão muito presentes nas redes sociais. São a forma como passamos parte do nosso tempo de lazer. As séries são aquela atividade que vemos em casal, em família, em grupos de amigos e também sozinhos.

Ora, o impacto que este fenômeno tem sobre nós a nível psicológico também constitui uma realidade muito interessante. Vamos analisar.

“Odeio televisão da mesma forma que odeio amendoim. Mas eu não consigo parar de comer amendoim.”
-Orson Wells-

O Gambito da Rainha

O que está por trás do vício em séries?

Há alguns meses, meio mundo foi cativado pela série O Gambito da RainhaO fenômeno foi tamanho que o interesse em aprender a jogar xadrez disparou, a ponto de esgotar as vendas desse jogo em muitas lojas. Além disso, neste Natal, um dos objetos mais desejados foi, sem dúvida, o Baby Yoda, resultado da série O Mandaloriano.

No momento, estamos passando pela ressaca de outro sucesso do streaming, Bridgerton. Como podemos ver, de tempos em tempos o mundo da mídia é atualizado com novas histórias, tramas, personagens e grupos de fãs.

O significado de todas essas criações audiovisuais constitui um modelo de negócio que não apenas veio para ficar, mas cujo florescimento apenas começou. No entanto, as implicações associadas são muitas. Nós nos aprofundaremos nelas a seguir.

Nossa forma de entretenimento mudou

A Disney prometeu em 2019 que, em 2024, teria entre 60 e 90 milhões de assinantes. Os dados indicam que isso possivelmente acontecerá. Com produções como O Mandaloriano e, principalmente, com o desenho animado Soul, descobrimos algo que já é quase evidente. Não precisamos ir ao cinema para nos divertir: agora temos entretenimento em casa.

A Netflix, por exemplo, obteve mais de 40 indicações para o Globo de Ouro com suas séries e já conquistou um Oscar com suas produções. As indústrias sabem que a pequena tela, seja na televisão, no computador, no tablet ou no celular, já contém tudo o que precisamos para nos divertir, sozinhos ou acompanhados. Os cinemas ficaram em segundo plano.

O vício em séries e o binge-watching

A maratona de séries ou binge-watching é uma prática cada vez mais consagrada na população. Assistir várias temporadas de uma vez, passar um fim de semana assistindo (ou resenhando) séries ou perdendo horas de descanso à noite porque não conseguimos parar de assistir a uma produção já é comum para muitos.

Estudos, como o realizado em 2017 pela Universidade do Luxemburgo, já nos alertavam que poderíamos estar perante um novo tipo de vício. Além disso, embora não possamos falar sobre um transtorno de dependência propriamente dito, nos deparamos com uma prática à qual dedicamos boa parte do nosso tempo por vários motivos:

  • As séries são um mecanismo para aliviar o estresse e a ansiedade do dia a dia. 
  • Somos “fisgados” por uma série porque nos identificamos emocionalmente com os personagens e as suas histórias.
  • O vício em séries é desencadeado principalmente pela produção de dopamina no cérebro. Quando o cérebro interpreta que uma atividade é satisfatória, ele precisa que a repitamos com maior intensidade para obter o mesmo nível de gratificação.
  • Da mesma forma, não conseguimos ignorar o efeito de contágio. Muitas vezes, acabamos assistindo a uma série ou porque ela nos foi recomendada ou porque todo mundo está falando sobre ela.
Adolescente vendo Netflix

A rivalidade entre as plataformas e a pressão do consumidor

O mercado de streaming de entretenimento audiovisual está travando uma guerra de titãs. O objetivo é conquistar assinantes e se posicionar como líder absoluto. Isso, por si só, é um problema para o consumidor, pois em meio a essa batalha de títulos e produções, ele se vê forçado a escolher as plataformas às quais pode aderir com base no seu orçamento.

Quem for assinante de absolutamente todas as plataformas que temos até agora desembolsará um valor financeiro significativo por mês. Nos Estados Unidos: já há mais de 300 serviços de streaming. As perspectivas indicam que nos próximos meses/anos eles continuarão a aumentar.

Seja como for, há uma coisa evidente. Há algumas décadas, o rádio era aquele companheiro diário na maioria dos lares; mais tarde e por volta dos anos 50, a televisão passou a ser a verdadeira protagonista. Com o avanço do novo milênio e a internet, as TVs inteligentes e os dispositivos como computadores, tablets e celulares, nosso dia a dia foi completamente transformado.

É evidente que o vício em séries responde a um claro mecanismo de escape. Buscamos a gratificação emocional dessas produções como forma de escapar de um contexto complexo como, sem dúvida, a atual situação mundial. Agora, é importante entender que essas plataformas são uma forma de lazer, não um estilo de vida. 

Não podemos deixar os dias passarem consumindo histórias que não são nossas, em vez de criar as nossas próprias.


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  • Flayelle, M., Maurage, P., & Billieux, J. (2017). Toward a qualitative understanding of binge-watching behaviors: A focus group approach. Journal of behavioral addictions6(4), 457–471. https://doi.org/10.1556/2006.6.2017.060

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